sexta-feira, 4 de setembro de 2009

TRADIÇÃO GAÚCHA

TRADIÇÃO GAÚCHA




01 - TRADIÇÃO

A palavra TRADIÇÃO, significa Memória (lembrança de fatos antigos), transmitidos de geração a geração.

É a ação de entregar (ou transmitir) a alguém, fatos históricos, valores intelectuais ou espirituais, usos e costumes ou hábitos inveterados.

É o hoje, estrivado no ontem, reculutando o amanhã.

A palavra TRADICIONAL, significa Costumeiro (é o antigo, fundamentado na tradição e conservado pela narração de um alguém, para outro alguém).

A palavra TRADICIONALIDADE, significa Caráter do que é tradicional (antigüidade confirmada pela tradição).

A palavra TRADICIONÁRIO, significa Vivente (pessoa) que vive a tradição (que segue o tradicional, que sabe como é a tradição, que conhece profundamente o tradicional).

A palavra TRADICIONALISMO, significa Apego (acatamento aos costumes tradicionais); é a doutrina que dá grande valor ao que já está aceito e consagrado pela tradição dos mais antigos, rejeitando as inovações e os modernismos.

A palavra TRADICIONALISTA, significa Adepto do tradicionalismo; vivente apegado aos usos e costumes antigos.





02 - DOIS CAMINHOS DA TRADIÇÃO

Os adeptos e seguidores da TRADIÇÃO, deparam-se com dois caminhos pela frente - o dignificante (são as virtudes) e o indignificante (são os vícios).

Seguir o dignificante, quer dizer: andar sóbrio, buscar a verdade, o correto, o certo, o verdadeiro, o simples, o puro, o altruísmo, a lealdade, o amor e a paz.

Seguir o indignificante, quer dizer: andar ébrio, mentir, buscar o erro, o incorreto, o desleal, a ladronice, o ódio e a discórdia.

E fez-se a Pampa . . . e DEUS, em sua infinita bondade e sabedoria ... colocou sobre esse sonho verde ... um ser forte que, de peito aberto, fé e coragem ... desbravou a terra e a transformou no País de sua gente.

A esse ser imponente ... DEUS deu o nome de Gaúcho.

O povo GAÚCHO foi formado da raiz nativa guarany, com a energia castellana, a alma luso-brasileira e o sentimento saudosista açoriano; depois, recebeu um banho com o espírito laborioso dos alemães e italianos; mais tarde, engrossou o caldo eclético-cultural com poloneses, israelitas, japoneses, sírios e libaneses.
Sabemos agora que, esta terra não é nossa . . .  nós é que somos dela!

03 - TRÊS LEGENDAS DA TRADIÇÃO GAÚCHA

Os seguidores da TRADIÇÃO gaúcha devem nortear-se na nossa tradicional legenda farroupilha:

Liberdade - Igualdade - Humanidade

LIBERDADE
Queremos ser livres e buscar a liberdade de pensamento.

IGUALDADE
Queremos ser tratados como os demais estados do Brasil.

HUMANIDADE
Queremos ser aceitos na fraternidade brasileira, também como brasileiros que trabalham pelo bem comum do Brasil.



04 - QUATRO COSTADOS DA TRADIÇÃO GAÚCHA

Muitas vezes, ouvimos dizer que fulano é um gaúcho de quatro costados; que beltrano é um guapo de quatro costados.

No passado, quando assim se afirmava era porque o dito sicrano tinha os quatro bisavós, gaúchos ou guapos.

A nossa TRADIÇÃO também, possui quatro costados que encerram o princípio da sociedade gaúcha, como segue:


HONRA:
A honradez é a dignidade do apreço moral; é a estima pelo sentimento da honestidade, do merecimento, do louvor e da honorificência.

EMPENHO:
O cumprimento do empenho assumido, sempre, é a garantia da palavra empenhada.

HOSPITALIDADE:
Essa virtude é a qualidade da disposição acolhedora de quem oferece hospedagem e bem recebe andejos.

FIDALGUIA:
Essa qualidade vem de filho de algo - é a pessoa com foros de nobreza (intelectual e espiritual) elevada, bem educada e nobre no tratar o seu semelhante.



05 - GRUPO DOS OITO

Houve uma época, na qual, quase ninguém mais pensava em tradições sul rio-grandense ! e no geral, o modernismo procurava destruir o que era guasca da mais pura cepa.

O anglicismo norte-americano tomava o espaço do galicismo europeu e o povo gaúcho ficava à mercê desta evolução, perdendo a sua identidade cultural.

Devemos saber que todo o povo é cioso de seus usos e costumes e que, aquele que muda caprichosamente, só por imitar o estrangeiro, já perdeu o sentimento de sua independência e caminha para a sua decadência! contudo, era preciso guardar as tradições sul rio-grandense.

Foi, quando um grupo de 8 (oito) abnegados estudantes do Colégio Júlio de Castilhos (o Julinho) de Porto Alegre (RS), resolveram dar um GRITO contra o estrangeirismo que já andava saturando a sociedade gaúcha, no decurso do ano de 1947.


FORAM ELES:

01 - Antônio João Sá de Siqueira
Natural de Bagé (RS) - nasceu em 09-02-1928.
Formou-se como Médico Veterinário.

02 - Cilço Araújo Campos
Natural de Alegrete (RS) - nasceu em 17-08-1924.
Formou-se como Cirurgião Dentista.

03 - Ciro Dias da Costa
Natural de Pelotas (RS) - nasceu em 06-02-1928.
Formou-se como Engenheiro Agrônomo.

04 - Cyro Dutra Ferreira
Natural de P. Alegre (RS) - nasceu em 10-01-1927.
Fazendeiro.

05 - Fernando Machado Vieira
Natural de P. Alegre (RS) - nasceu em 28-01-1929.
Fazendeiro.

06 - João Carlos D'Avila Paixão Côrtes - (o líder)
Natural de Livramento (RS) – nasceu em 12-07-1927.
Formou-se como Engenheiro Agrônomo.

07 - João Machado Vieira
Natural de P. Alegre (RS) - nasceu em 20-10-1927.
Formou-se em Direito.

08 - Orlando Jorge Degrazia
Natural de Itaquí (RS) - nasceu em 08-02-1929.
Formou-se em Direito.



06 - PIQUETE da TRADIÇÃO 
(os pioneiros)


Rio Grande do Sul estava em grandes preparativos para as festividade cívicas da Semana da Pátria de 1947 - coordenada pela Liga de Defesa Nacional.

Seriam prestadas homenagens póstumas aos soldados brasileiros que perderam a vida lutando na Itália, durante a 2a Guerra Mundial.

O Departamento de Tradições Gaúchas (do Julinho), queria associar-se às homenagens aos “pracinhas”.

Paixão Côrtes (líder daquele departamento), visitou o Major do Exército Darcy Vignoli (Presidente da Liga) e disse-lhe, do desejo de retirar (no final da programação do dia 7 de setembro), uma centelha do fogo simbólico (aceso no cemitério brasileiro de Pistóia – Itália), que ardia na Pira da Pátria, para transportá-la até ao Colégio Júlio de Castilhos, onde iria flamejar como Chama Crioula - num tosco Candeeiro Crioulo, dentro das festividades da 1a Ronda Crioula.

Acertada a concordância, o secretário da Liga Dr. Fortunato Pimentel, solicitou ao Departamento, um piquete de gaúchos para montar guarda à urna com os restos mortais do General David Canabarro , que seria transladado de Livramento para Porto Alegre.

Assim, depois de muitas peripécias, reuniram-se 8 gaúchos pilchados à preceito, em pingos-de-lei bem aperados, à 05 de setembro de 1947, formaram o Piquete da Tradição.



07 - TRADICIONALISMO GAÚCHO 


O pioneirismo do tradicionalismo gaúcho é muito discutido; uns, dizem que foi “A” quem começou, outros, afirmam que foi “B”, e ainda outros, explicam que foi “C “, e tem os mais “sabidos” que lançam dúvidas, dizendo que foi “D”.


ROL do Tradicionalismo Pioneiro:

01 - Sociedade Sul Rio-Grandese Gaúcha
Rio de Janeiro (RJ) ....................................................... 1858

02 - Partido Liberal Histórico
Porto Alegre (RS) ........................................................ 1860

03 - Partenón Literário
Porto Alegre (RS) ........................................................ 1868

04 - Criação do Dia do Gaúcho
(pelo jornal: A FEDERAÇÃO)
Sugestão de Júlio Prates de Castilhos ............................ 20-09-1887

05 - Primeira manifestação popular, em artigo à
peonada gaúcha, publicado por
Alfredo Ferreira Rodrigues ......................................... 1896

06 - Fundação do Grêmio Gaúcho
Porto Alegre (RS) ........................................................ 22-05-1898

07 - Fundação da União Gaúcha
Pelotas (RS) ................................................................. 10-09-1899

08 - Fundação do Centro Gaúcho de Bagé
Bagé (RS) .................................................................... 16-09-1899

09 - Fundação do Grêmio Gaúcho de Stª Maria
Stª Maria (RS) ............................................................. 12-10-1901

10 - Criação do Instituto Histórico e Geográfico do RGS
Porto Alegre (RS) ........................................................ 1920

11 - Diversas publicações no CORREIO do POVO:
No GALPÃO – Darcy Azambuja
TROPILHA CRIOULA – Vargas Neto
De PEITO ABERTO – Augusto Mayer
Porto Alegre (RS) ........................................................ 1925

12 - Sociedade Gaúcha Lomba Grande
Novo Hamburgo (RS) ................................................. 31-01-1938

13 - Fundação do Clube Farroupilha
Ijuí (RS) ...................................................................... 19-10-1943

14 - Fundação do primeiro piquete gaúcho
Piquete da Tradição (o grupo dos 8)
Porto Alegre (RS) ........................................................ 05-09-1947

15 - Fundação do primeiro CTG
35 Centro de Tradições Gaúchas – CTG
Porto Alegre (RS) ....................................................... 24-04-1948

16 - Formação do 1º MTG - em Porto Alegre - RGS
Movimento Tradicionalista Gaúcho – MTG
Criado ........................................................................ 22-10-1960
Carta de Princípios ..................................................... 1961
Oficializado ................................................................ 28-10-1966
Registrado .................................................................. 27-11-1967

17 - Criação sob a Lei Estadual nº 6.736 - do
Instituto Gaúcho de Tradição e Folclore - IGTF
Porto Alegre (RS) ....................................................... 19-09-1974



08 - CHAMA CRIOULA 
(1ª Ronda Crioula)

Paixão Côrtes - relata:

“Era quase meia-noite do dia 7 de setembro de 1947, na Av. João Pessoa - uma multidão ansiava ver os atos de encerramento daquela Semana da Pátria.

Eu, Cyro Ferreira e Fernando Vieira (embandeirados com o Pavilhão Gaúcho), recebemos o convite para assomar-nos à Pira e ali subi por uma frágil escada de madeira, donde, num gesto solene, ascendi a Chama Crioula, transportando-a até ao Colégio Júlio de Castilhos (o Julinho) - onde foi realizada a 1ª Ronda Crioula.”




09 - MOVIMENTO TRADICIONALISTA GAÚCHO 
MTG

Hoje, o tradicionalismo gaúcho avança fora do RGS (no Brasil e pelo Mundo); onde existe um grupo de gaúchos, aí é criada (ou fundada) uma ENTIDADE tradicionalista.


01 - O MTG do Rio Grande do Sul é integrante da
Confederação Brasileira da Tradição Gaúcha – CBTG, que integra a
Confederação Internacional da Tradição Gaúcha – CITG.

No Brasil, existem vários MTGs, como segue:
02 - MTG de Stª Catarina
03 - MTG do Paraná
04 - MTG de São Paulo
05 - MTG do Mato Grosso do Sul
06 - MTG do Centro-Oeste
07 - MTG do Norte-Nordeste-Leste

Existem CTGs, nos EE.UU. (Miami, New York, Los Angeles e San Francisco), na Europa (Londres e Paris) e na Ásia - Japão (CTG Sol-nascente).

As ENTIDADES são assim agrupadas:

I - Entidades de Participação Plena (CTGs e DTGs).
II - Entidades de Participação Parcial (PTGs).
III - Entidades Especiais (PLs).
IV - Entidades Associativas Tradicionalistas Municipais (ATs).

O funcionamento hierárquico de uma ENTIDADE:


Assembléia
Estatuto
Conselho de Vaqueanos (3 titulares e 2 suplentes)
Conselho Fiscal (3 titulares e 2 suplentes)

Patronagem:
Patrão (Presidente)
Capataz Geral (Vice-presidente)
1º Sota-capataz (1º Secretário)
2º Sota-capataz (2º Secretário)
1º Sota-da-guaiaca (1º Tesoureiro)
2º Sota-da-guaiaca (2º Tesoureiro)

Agregados à Patronagem:
. . . das Falas
. . . da Ronda

Invernadas (Departamentos), com seus posteiros:
Posteiro da Cultural - Bibliotecário
Posteiro da Social - Mestre-sala
Posteiro da Patrimonial - Caseiro
Posteiro da Alimentação - Cozinheira(o) e o(a) Assador(a)
Posteiro da Jurídica - Procurador
Posteiro da Artística - Instrutor
Posteiro da Campeira
Posteiro do Desporto

O Movimento Tradicionalista Gaúcho (RGS), crescia e necessitava de uma congregação federativa; foi assim, que surgiram os CONGRESSOS TRADICIONALISTAS:



10 - NATIVISMO 
                 TELURISMO
                            CRIOULISMO
                                         REGIONALISMO
                                         ATAVISMO

NATIVISMO
Filosoficamente falando, quer dizer:
Teoria das idéias que não dependem do conhecimento imediato, empírico (experimentado, prático, rotineiro).
É tudo aquilo que é próprio do lugar de nascimento, do lugar nato.

NATIVISMO
Gauchescamente falando, quer dizer
Sentimento de amor e defesa ao Pago nativo.
Pode ser, também, um movimento artístico que defende e canta a natureza, com seu aproveitamento racional.

NATIVISTA
É a qualidade da pessoa adepta do nativismo.

TELURISMO
Filosoficamente falando, quer dizer:
Influência do solo (da terra), sobre os costumes e caracteres de seus habitantes.

TELÚRICO
É a qualidade do adepto do telurismo.

CRIOULISMO
Filosoficamente falando, quer dizer:
Alguém nascido aqui, filho de alguém procedente de outro lugar.
No passado, os brancos e os pretos nascidos aqui, eram chamados de CRIOULOS.

REGIONALISMO
Filosoficamente falando, quer dizer:
É a doutrina dos que fomentam agrupamentos regionais, defendendo e incrementando interesses da região.

REGIONALISTA
É o adepto do regionalismo.

ATAVISMO
Filosoficamente falando, quer dizer:
É o vivente (a pessoa) que tem semelhança, caracteres (físicos, genéticos ou psíquicos), com seus avós.
Quem possui características de atavismo é ATÁVICO.



11 - CHIMARRÃO

No Rio Grande do Sul, o hábito salutar de chimarrear é herança guarany; como poderemos esperar das coisas que dependem do nosso cuidado, resultados positivos que só enobreçam uma gente livre, se esquecermos de dar-lhe uma razão para existir?

Quando os padres jesuítas Roque Gonzáles, Alonzo Rodríguez e Juan Del Castillo chegaram neste Pago, por volta de 1620 - 1626, ficaram impressionados com o vigor físico dos nativos deste lugar.

Notaram que uns tinham mais mulheres que outros e atribuíram àquele costume polígamo, ao poder afrodisíaco do chimarrão - pois, os nativos passavam o dia inteiro tomando aquele chá (caá-te), numa cabaça (cuia) que em guarany se chama cahí-gua.

Decidiram proibir o chimarrão, justificando porque - o añhangá (o diabo) tinha colocado veneno mortífero naquela bebida.

Então eles recorreram ao feiticeiro e este (depois de consultar às suas divindades), lhes deu a solução: bastava cuspir o 1º sorvo por sobre o ombro esquerdo e o 2º sorvo por sobre o ombro direito; pronto, todo o veneno que ali contivesse, estaria indo fora - e poderiam chimarrear sem medo. Desta forma, os jesuítas não conseguiram tirar o chimarrão dos nativos e este salutar hábito chegou até nós, inclusive a tradicional cuspidela inicial.

Certa feita, uma revista de Buenos Aires publicou um comentário sobre a ração alimentar dos argentinos, do século XVII:
"Nas longas jornadas de Buenos Aires à Córdoba e Tucumán, os viajantes apenas se alimentavam com carne e cimarrón. Mesmo assim, esta simples alimentação faz nossos hermanos altos, delgados, rijos, vivos, inteligentes, batalhadores, valentes e laboriosos."

Quando Saint Hilaire passou pelo Rio Grande do Sul, em 22-09-1820, escreveu:
"O uso dessa bebida (cimarrona), é geral aqui; toma-se ao levantar da cama e depois, várias vezes ao dia. A chaleira com água quente, está sempre ao fogo e logo que um estranho chega, se lhe oferecem o chimarrão."

Durante a Guerra do Paraguai, o Gal. Francisco da Rocha Callado escreveu ao industrial David Antônio da Silva Carneiro:
"Fui então, testemunha durante um período de 22 dias, de que nosso exército alimentava-se quase que exclusivamente da erva-mate que colhíamos no local e que, elaborávamos como podíamos, pois a falta de víveres não nos permitia longos repousos."

Amigos leitores !


No Rio Grande do Sul, a hospitalidade é uma constante, na vida do Gaúcho - e o chimarrão (quer no núcleo familiar ou entre amigos), desempenha a função de agregador, harmonizando através do calor humano, esta simples simbiose afetiva, pelo clima de respeito que florece por entre as chimarroneadas.


Chimarrão e cara alegre . . . o resto, a gente faz !


Paisano amigo! experimente despejar a mente, chimarroneando.

                     "Amargo doce que eu sorvo
                      num beijo em lábios de prata!
                      Tens o perfume da mata
                      molhada pelo sereno.
                      E a cuia, seio moreno
                      que passa de mão em mão,
                      traduz no meu chimarrão
                      em sua simplicidade,
                      a velha hospitalidade
                      da gente do meu rincão."
                                        (Glaucus Saraiva)



12 - AVIOS DE CHIMARRÃO 
(de mate)

A palavra AVIOS, é sempre empregada no plural, porque determina um conjunto de objetos, utensílios que são usados para um determinado fim.

Por exemplo - tem os AVIOS de pescar, os AVIOS de Farmácia (laboratório), etc.

AVIOS DE CHIMARRÃO:
Fundamentalmente, estes são CUIA e BOMBA - é claro que, outros objetos poderão incorporar estes avios, desde que passem a fazer parte deles (o recipiente para servir a água, o samburá, o porta-cuia, a chaleira).

A CUIA (em guarany cahí-guá), pode ser dos mais variados tamanhos e formas, com ou sem requifes, com ou sem retovos, entretanto, a cuia ideal é a pequena (com a capacidade de 3 ou 4 colheres de erva). Em quíchua (língua dos incas), chama-se mate. Em espanhol, chama-se vazo (pronuncia-se: BASSO), que traduzido quer dizer copo.
Em português, chamava-se cabaça - é feita de purús (porongo de parede fina), ou
purungús de parede grossa).
Hoje, chama-se simplesmente - CUIA.

A BOMBA (em guarany taquapí - era feita de taquara), hoje é feita de metal e tem 4 (quatro) partes, à saber:
Haste - é o corpo da bomba.
Coador - é o apartador da bomba, a parte que vai no fundo da cuia e serve para coar.
Bocal - é a parte que se coloca na boca, para escorropichar e ressongar o chimarrão.
Resfriador - é uma pitanga (ou botão) que pode ter ou não na haste, que retém o calor, para não queimar os lábios do chimarrista.



13 - AVIOS de PITAR
de COZER
e de ASSAR
Já explicamos que, AVIOS são objetos, utensílios usados para um determinado fim, ou objetivo.


AVIOS de PITAR:
Antigamente, só se fumava fumo em corda, que era necessário descascar, cortar, picar e esmoer na palma da mão, enquanto a palha já aparada e sovada, descansava atrás da orelha; depois de todo esse ritual, era enrolado o palheiro e aceso num isqueiro de porongo com a centelha (chispa) de pedra-fogo (ou, pedernal).
Então, originalmente os AVIOS primitivos, são: Isqueiro (de porongo) + Pedernal (pedra-fogo) + Eslabom (uma peça de aço, para bater de relancina na pedra-fogo, ou pedernal).
Depois, foi criada a chuspa (uma espécie de bolça), para portar o fumo já cortado, picado e esmoído, que foi agregada ao AVIOS de Pitar.
Hoje, com o advento do cigarro feito e isqueiros sofisticados, o hábito de fumar está totalmente alterado (aliás, um péssimo hábito).

AVIOS de COZER:
Antigamente, era na base da panela-de-três-pés (de vários tamanhos), depois vieram as caçarolas, as frigideiras e os tachos, além da trêmpe (tripé) e do tradicional saleiro.
Para aquecer a água, a pava (cambona, chicolateira ou a chaleira-preta).

AVIOS de ASSAR:
Antigamente, era na base do espeto-de-pau, depois, com a chegada de produtos manufaturados vieram os espetos-de-metal, além do tradicional saleiro; mais tarde, foram criadas as grelhas e mais recentemente as parrillas.



14 - QUERO-QUERO

O quero-quero, pertence à família “Belonopterus Cayennensis”, habita os campos do nosso querido Pago, tornando-se um verdadeiro sentinela das coxílhas.

O Governo Gaúcho, decretou pela Lei N º 7.418 (01-12-1980), que o QUERO-QUERO é a Ave-Símbolo do Rio Grande do Sul.

Suas qualidades, são magníficas: É elegante, ativo, fiel à companheira e jamais abandona seus filhos, não preda, é aguerrido e pertinaz.

O escritor e compositor Luiz Carlos Barbosa Lessa foi muito feliz, quando compôs a conhecidíssima canção, intitulada

                              Quero-quero
                    "Quero-quero! Quero-quero!
                    Quero-quero gritou lá em cima,
                    Quero-quero, quando grita
                    É sinal que alguém se aproxima."



  15 - CAVALO

A origem da palavra cavalo vem do latim vulgar CABALLUS – que vem do latim literário EQUUS - que vem do grego HIPPOS - que vem do sânscrito AÇVAS.

O cavalo é um animal elegante e de exuberante imponência, pontilha de beleza e soberania, os campos do nosso Pago.

O cavalo é o maior companheiro do gaúcho; é o senhor das distâncias (para o viajante), é a confiança (para o tropeiro), é o guerreiro (para o soldado da cavalaria), é o orgulho (para o carreirista), é a relíquia (para o peão) é o pioneiro meio de transporte deste Pampa.

O cavalo foi introduzido em nosso Pago, pelos jesuítas castellanos, em 1634; até então, era desconhecido dos nativos, entretanto, em pouco tempo se tornou o maior patrimônio dos Charruas e Minuanos (os Pampeanos) e ainda dos Tapes.

O cavalo participou desde a formação do “Rio Grande de São Pedro”, sendo um verdadeiro companheiro inseparável e de uma afinidade tão grande com o gaúcho, que até surgiu um adágio popular, dessa amizade: Cavalo que não é parecido com seu dono, é roubado.

                    "Estou velho, tive bom gosto
                    Morro, quando Deus quiser;
                    Duas penas levo comigo:
                    Cavalo bom e mulher."
                                        (Folclore recolhido por Augusto Meyer)

RAÇAS: 
Árabe (da Arábia) / Andaluz (Ibérico) / Bretão (Grã-Bretanha) / Manga-larga ou Campolino (Brasil) / Percheron (Alemanha) / PSI (Inglaterra) / Quarto-de-milha (Americano) / Crioulo (Gaúcho).



16 - APEROS DE ENCILHA

Antes, temos que saber sobre os preparos, pois eles servem para governar o animal e são os seguintes: buçal, cabresto, freio, cabeçada e rédeas.

                    "O cabresto e o buçal, são
                    guascas da mesma família;
                    um tem argola e presilha,
                    outro, fiador, pescoceira,
                    cabeçada e focinheira,
                    botão grosso reforçado,
                    que sendo bem abotoado,
                    só que rebente a tronqueira."
                                        (Jayme Caetano Braun)

Os APEROS de encilha, são os componentes dos arreios que servem para encilhar, ornar a montaria, conforme segue:  xergão, carona, basto (lombilho ou serigote), cincha, forros (pelegos ou coxonilhos) e sobre-cincha.

Os COMPLEMENTOS, são:  baixeiro, peiteira, rabicho, travesseiro, badana, maneia e pé-de-amigo.

Os ACESSÓRIOS, são:  açoitador (chicote, rebenque, rabo-de-tatu, mango, relho ou relhador), sovéu ou laço e boleadeiras (ñhanduceiras ou três-Maria).



17 - CARROS 
tralhas de atrelar

No Rio Grande do Sul, não havia carros luxuosos como na côrte do Rio de Janeiro, entretanto, tivemos: Diligências, Celeríferos, Landaus, Dorsay’s, Jardineiras, Faétons, Aranhas e Carroças.

Para atrelar os eguariços (eqüinos, asininos e muares) aos CARROS, são necessários os preparos de cabeça (freio, cabeçada e rédeas) além das tralhas (selim, pescoceira, peitoral, puchadeira, sovaqueira e tiradeira), também chamadas de correames.



18 - CARRETA 
apetrechos de cangar

A origem da carreta se perdeu na poeira do tempo, entretanto, sabe-se que a sua utilização vem dos tempos da Mesopotâmia, Egito, Grécia, Roma, Ibéria e daí, para a Pampa Meridional.

                    "Velha carreta esquecida,
                    Desengonçada e capenga;
                    Foste a maior andarenga
                    Que o Rio Grande conheceu.
                    Quase a ninguém hoje importas,
                    No museu das coisas mortas,
                    O progresso te esqueceu.”
                                        (Apparício Silva Rillo).

Era a carreta que transportava couro, charque, sebo, erva-mate e víveres entre os povoeiros, fazendas e estâncias.

A nossa tradicional carreta, cortou o solo gaúcho em todas as querências e deve ser bem conhecida; à seguir, a nomenclatura de suas principais peças de madeira:

Rodado (massas, raios, cambotas e tarugos), eixo, xedas, cabeçalho, cadeias, vancavém, recavém, muchacho, xaveia, fueiros, cevas e tolda.

APETRECHOS de CANGAR:
Canga-de-coice, canga-de-quarta, canga-de-ponta, canzis, cambão, tamoeiro, tiradeira, sovéu, corda-de-coice, maromba, brochas, ajoujos, regeira e guilhada (ou picana).



19 - RANCHOGALPÃOCASA

O RANCHO é a habitação primitiva aqui na Pampa, sendo construído do material que abunda no local; pode ser de leiva, torrão, pau-a-pique barreado ou taipava e geralmente é coberto com santa-fé.

                    “Nasci no meio do campo,
                    Na costa dum banhadal,
                    Dentro de um rancho barreado
                    De chão duro e desigual;
                    Meu berço foi um pelêgo
                    Sobre um couro de bagual.”
                                        (Jayme Caetano Braun)

GALPÃO é um rancho melhorado e ainda hoje, é a habitação e sala da peonada nas Fazendas e nas Estâncias; é dividido em mais de um cômodo servindo para diversas finalidades.

                    “Meu tosco galpão de Estância
                    erguido sem aparato,
                    aqui no mais te retrato
                    sem te pedir permissão;
                    abrigo guasca sem luxo,
                    lar paterno do gaúcho,
                    sala-de-estar do Patrão.”
                                        (Apparício Silva Rillo)

CASA é um galpão bem melhor, já assoalhada no seu corpo principal e muitas vezes, forrada; possui ainda as aberturas e é subdividida em vários cômodos.



20 - FAZENDA - ESTÂNCIA

Uma FAZENDA ocupa uma gleba de terras entre 10 e 50 quadras de sesmarias de campo (o equivalente entre 871,2 Ha e 4.356 Ha), respectivamente.

É subdividida em: INVERNADAS (glebas menores).

A SEDE é composta pela seguintes benfeitorias:
- Casa Grande (moradia do fazendeiro);
- Galpões (do fogo, do alojamento da peonada solteira, os de abrigar avios,
  aperos, arreios, tralhas, apetrechos, carros, carretas e o da esquilagem);
- Estábulos (abrigo das vacas-de-leite e suas crias);
- Estrebarias (abrigo dos eguariços e dos touros);
- Mangueiras, Curros e Bretes (currais);
- Banheiros (carrapaticida e sarnicida);
- Piquetes (lugares onde ficam os animais do trabalho diário);
- Potreiro (lugar onde pastam os animais das lides diárias);
- Quintal (sítio ao redor da Casa Grande onde localiza-se o jardim e a horta);
- Quinta (lugar das plantações de subsistência e do pomar);
- Postos (lugares estratégicos em que se localizam as casas dos posteiros);
- Arranchamento (conjunto de ranchos, onde habita a peonada casada).

A atividade econômica se resume em três ou quatro segmentos (bovinos, bubalinos, ovinos, caprinos, suínos, eqüinos, asininos, etc.) com confinamento intensivo, podendo haver a agricultura (trigo, arroz, feijão, soja, sorgo, milho e tubérculos).

Uma ESTÂNCIA ocupa gleba de terras entre 50 e 150 quadras de sesmarias de campo (o equivalente entre uma a três léguas, que eqüivale entre 4.356 Ha e 13.068 Ha, respectivamente) e é subdividida em Fazendas, onde moram os respectivos Capatazes.

A atividade econômica é bem diversificada e ampla, principalmente com bovinocultura e ovinocultura, extensiva e cabanheira, podendo haver a policultura.



FIM



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