quinta-feira, 17 de setembro de 2009

GAÚCHOS ILUSTRES < S-Z >

GAÚCHOS  ILUSTRES  - S-Z -


. . . continuação . . .




SÁ,  MEM DE
Político

Natural de Porto Alegre (RS), nascido aos 10 de junho de 1905; Bacharel em Direito e político, companheiro de Assis Brasil e de Raul Pila.
Suas obras:
01 - O Caminho para a Democracia (estudo político) - 1945
02 - Confronto entre Duas Características Demográficas (ensaio) - 1945
03 - Breve Exposição s/ Situação Industrial do RGS (panorama) - 1946
04 - Um Caudilho contra o Caudilhismo (comentário político) - 1948
05 - Descentralização do Direito Rural (comentário) - 1949
06 - Um Problema Nacional (pareceres) - 1963
07 - Politização do Rio Grande do Sul (ensaio histórico) - 1973



SALDANHA,  SINVAL
Advogado

O Dr. Sinval Saldanha, “Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais” foi um ilustre filho da legendária Caçapava, desde muito jovem revelo acentuada inclinação para a carreira política, ingressando no “PRR” (Partido Republicano Rio-Grandense), quando ainda acadêmico.
Foi um dos mais dedicados discípulos do Dr. Borges de Medeiros (seu sogro), em cujo governo ocupou a “Pasta da Secretaria do Interior” desenvolvendo a sua inteligência em incessante e útil atividade.
No início de sua carreira profissional, prestou bons serviços à Justiça no desempenho dos cargos de Juiz e Promotor Público em várias comarcas.
Foi Vice-intendente do Município de Porto Alegre (RS), e membro da Comissão Executiva do PRR.
Ao se esboçar o movimento cívico que agitou o Brasil com a campanha liberal, formou à frente dos mais abnegados patriotas e deu toda a sua energia à nobre causa. Representou o RGS, na “Convenção Liberal” e muito colaborou para a vitória nacional, em 1930.
Como chefe republicano de prestígio, foi um dos organizadores da “Frente Única” convênio político que veio aproximar e unir as duas tradicionais agremiações rio-grandenses outrora adversárias “PRR” (Partido Republicano Rio-Grandense - Chimangos) e “PL” (Partido Libertador - Maragatos), para o fim comum e altamente patriótico de reintegrar o país no regime verdadeiramente republicano de 1889, deturpado por práticas antidemocráticas.



SALGADO FILHO,  JOAQUIM PEDRO
Advogado

Natural de Porto Alegre (RS), nascido em 1888 e falecido em 1950, num desastre aéreo, em São Francisco de Assis (RS).
Diplomado pela Faculdade de Direito do Rio de Janeiro (RS), foi Ministro do Trabalho, Deputado Federal, primeiro titular do Ministério da Aeronáutica (1941) e Senador da República, pelo Rio Grande do Sul.
No MUSEU AEROESPACIAL - MUSAL (classificado entre os melhores museus de aeronáutica do mundo, pela autenticidade de seu acervo), localizado no legendário “Campo dos Afonsos” (berço da Aviação Militar Brasileira), situado na cidade maravilhosa do Rio de Janeiro (RJ), que conta com uma exposição permanente de 65 aeronaves (algumas delas, únicas no mundo), com mais de 5.000 peças, entre documentos, uniformes, armas, instrumentos raros, todos de valor histórico incalculável, uma biblioteca especializada e um arquivo histórico (fotos, mapas, slides e vídeo) à disposição do público interessado, encontra-se, dentre outras - a sala especial que homenageia Salgado Filho - criador da “Força Aérea Brasileira - FAB” - em 1941, sendo o seu primeiro Ministro; nessa sala também se encontram fotos, documentos, condecorações e objetos pessoais desse ilustre gaúcho, bem como os móveis de seu gabinete.
O aeroporto de Porto Alegre (sua terra natal), recebeu oficialmente o seu nome, como uma justa homenagem póstuma, sendo recentemente ampliado e um dos mais modernos do Brasil - Aeroporto SALGADO FILHO.



SALGADO,  JOAQUIM PEDRO
Militar

Quando D. Pedro II, por ocasião da Guerra do Paraguai, esteve no Rio Grande de S. Pedro, Joaquim Pedro Salgado que sentara praça desde a mocidade no 5º Regimento de Cavalaria Ligeira, tendo até tomado parte na expedição de 1855 à República do Uruguai, foi escolhido no posto de Major, para comandar o piquete que acompanhou o nosso Imperador.
Deputado provincial, Presidente da Assembléia da Província, membro da Câmara do Deputados do Império, Chefe político de grande prestígio do Partido Liberal, teve papel saliente na revolta de 1893 e por isso, emigrou para o Prata.
Joaquim Pedro Salgado passou depois a residir no Rio de Janeiro (RJ), dedicando-se às atividades do campo industrial.



SAMPAIO RIBEIRO,  ALARICO HERCULANO DE 
Advogado

Natural de Cachoeira (RS), nascido aos 07 de outubro de 1876; participou da Revolução Federalista de 1893, ao lado dos republicanos.
Bacharel em Direito, poeta, jornalista e teatrólogo; assinava Alarico Ribeiro
Sua poesia se inscreve na escola parnasiana, aliando à beleza formal, a intuspecção (auto análise) e a dúvida metafísica, e prenunciando o simbolismo.
Suas obras:
01 - O Tronco e os Vencidos - carta a D. Isabel (poema) - 1889
02 - Oásis (poesias) - 1896
03 - Glossário Policial (instruções) - 1899
04 - A Letrada (comédia) - 1901
05 - O Tributo das Árvores (poesias) - 1903
06 - Os Vencidos - inédito
Faleceu aos 02 de outubro de 1905, também na sua querência de Cachoeira (RS).



SAMPAIO RIBEIRO,  FREDERICO SÓLON
Major

Nascido em 1840, em Porto Alegre. Dedicou-se cedo à carreira das armas, concluindo na Escola Militar da Corte o curso de infantaria e cavalaria.
Por oposição de Teófilo Ottoni, deixou de ser matriculado na Escola Central e por isso não foi engenheiro militar.
Seguiu para arregimentar-se em sua província natal e tomou parte na Campanha contra Rosas e Aguirre (1851-1852 e 1864), destacando-se em Paissandú e no cerco de Montevidéu.
Fez toda a guerra contra o Governo do Paraguai, salientando-se nas ações de Tuiu-cuê, San Solane, Itororó, Lomas Valentinas, Ita-ivaté, Peribebui e Campo Grande.
Voltando da guerra com as comendas de Cristo e de Avis e todas as medalhas militares de campanha, dedicou-se ardorosamente às causas da abolição e da república.
Parece certo ter sido o então Maj. Sólon quem precipitou a proclamação da república a 15 de novembro (já marcada para 20), espalhando pela cidade e pelos corpos da guarnição, a prisão de Deodoro, Benjamim, Mena Barreto e outros chefes da conspiração.
Coube-lhe a delicada missão de entregar ao ex-monarca a mensagem de Deodoro, com a ordem de exílio, para ele e sua família.
Organizado, logo depois, o governo provisório, Maj. Sólon recusou a Pasta da Guerra, dizendo que seu lugar era nas fileiras, para sustentar a república se ela estivesse ameaçada.
Foi, ainda, como general, deputado federal pelo Estado do Mato Grosso e comandante de Distrito Militar, sendo sua última função a de inspetor do Arsenal de Guerra do Pará.
Morreu em 1900, no Rio de Janeiro.



SANTANA,  JOAQUIM JOSÉ DE
Farroupilha

Contra Joaquim José de Santana, também constou a ordem do então Presidente da Província do RGS, a Bento Manoel Ribeiro - Que acabem de uma vez com os malvados.
Joaquim José era vereador da Câmara Municipal do Rio Pardo (RS), na época da Revolução Farroupilha, sendo um dos “cabeças” do movimento.



SANTOS DA ROSA,  MARLON ARATOR
Médium e Político

Natural de Cachoeira do Sul (RS), nascido aos 25 de outubro de 1975; filho de . . .

1 - O médium:
Marlon Arator projetou-se pelas querências do Rio Grande do Sul, em grande parte do Brasil e até no exterior (Uruguai, Argentina e Paraguai), na área do curandeirismo > segundo ele, assistido por um tal de Dr. Susen.

2 - O político:
a - Vereador em Cachoeira do Sul (2000-2001);
b - Deputado Estadual do RGS (2002-2004);
c - Prefeito de Cachoeira do Sul (2005-2008).



SANTOS LOUREIRO,  MANOEL DOS
Coronel Manduca Loureiro

Nasceu na povoação de S. Borja, em fins do século XVIII e era mais conhecido por Manduca Loureiro.

Ainda menino, abraçou a carreira das armas, onde se distinguiu pelo seu valor e temeridade.

Durante a revolução de 1835, prestou serviços reais à causa do Império. Foi um inimigo terrível que os republicanos tiveram sempre pela frente. A sua cavalaria era o terror dos contrários.

Às vezes parece que o Cel. Loureiro aprendera a combater na mesma escola, de estratégia napoleônica, em que se celebrizara o Barão do Cerro Largo e mais tarde o Gen. Andrade Neves.

A luta era o seu elemento e, quando se empenhava nela não esmorecia, não recuava.

No mais aceso da peleja, aparecia para encorajar os companheiros, mostrando-lhes o caminho do dever.

A sua legião missioneira, que se tornara célebre pelos rasgos de heroísmo, estava sempre na vanguarda do exército para evitar surpresas e assaltos inesperados ao acampamento.

Os generais que comandavam o exército, não se empenhavam na luta sem ouvir a opinião do Cel. Loureiro, que deu palavra sempre com a franqueza rude do gaúcho de outros tempos.

Ainda moço e cheio de vida, a 27 de abril de 1840, caiu fulminado por um insulto apoplético, o valoroso soldado, que nunca deu as costas ao inimigo.

Para substitui-lo no comando da legião missioneira foi designado, não um outro coronel, mas o brigadeiro Bonifácio Calderón.

O tenente-general Manoel Jorge Rodrigues, comandante em chefe do exército, escolhendo um general para confiar-lhe o comando daquela força, prestou a mais bela homenagem à memória do herói que desapareceu, deixan¬do um traço luminoso de bravura incomparável.



SANTOS PEDROSO,  MANOEL DOS
Caudilho Maneco Pedroso

Natural do Rio Pardo (RS). Era filho de um outro Manoel do Santos Pedroso, natural de Curitiba (PR) e tropeiro do Rio Grande do Sul; foi estancieiro no distrito do Acampamento (Santa Maria).

Os livros de batismo de Cachoeira, fala em filhas do conquistador das Missões, pois este Maneco Pedroso foi companheiro de Borges do Canto.

Em 1801, comandou a conquista das Missões para os portugueses.

Em 1811 e 1812, tomou parte como sargento-mor de milícias, na primeira campanha da Cisplatina.

Em 1816, combateu as forças do caudilho José Gervásio Artigas.

Poucos o conhecem, quando todos o deviam conhecer. Nasceu em 1738 e faleceu em1816, e apesar das suas façanhas de valor para glorifi¬car a terra natal, está na sombra do esquecimento, como se nunca existisse.

Nada há, entre nós, que nos fale do seu nome, recordando uma das páginas mais refulgentes da nossa História.

Descendente dos primitivos açorianos que para aqui vieram, assinalou-se ainda bem moço, por uma vida de aventuras guerreiras, mais parecendo uma fábula, que uma página de radiante verdade.

Portugal e Espanha disputavam, com vivo empenho, a posse das missões orientais, ocupadas desde longos anos pelos jesuítas.

Era uma larga zona de assombrosa fertilidade, com risonhas paisagens, sobre douradas por um clima delicioso, dando a idéia nítida de um recanto encantado.

Bem atilados andaram os jesuítas, escolhendo, num deserto enorme, sem limites, essa nesga de terra, coberta pelo rio Uruguai e seus afluentes, ensombrados por densa mataria, em cujo seio reinava uma profunda paz religiosa.

Razão de sobra tinham, pois, os jesuítas para se oporem à entrega do trecho de terra onde estavam estabelecidos desde remotas épocas havendo transformado aquela solidão em povoados cheios de vida e de aspectos risonhos.

Apesar dos acordos das chancelarias da Europa, os jesuítas não quiseram abrir mão das terras, que alí possuíam e resistiram, com as armas em punho, com uma coragem admirável, às tropas que tentaram, mais de uma vez, desalojá-los dalí.

Exercendo extraordinária influência sobre os selvagens que povoavam as missões, os jesuítas os atiravam contra as forças regulares que buscavam afastá-los daqueles sítios, onde já estavam, uns e outros, enraizados.

O cacique Sepé, chefe indígena, valente como as armas, pagou com a vida, batendo-se como um herói, a sua dedicação pelos jesuítas, que não queriam abandonar as terras que Deus lhes havia dado neste recanto da América; e, como ele, legiões de índios aguerridos acabaram os seus dias, também brandindo as armas em defesa dos dominadores das missões.

Em 1801, o capitão de dragões Francisco Barreto Pereira Pinto coman¬dava uma guarda avançada, entre o Ibicuí-mirim e Toropí, quando se lhe apresentou Manoel dos Santos Pedroso com mais vinte gaúchos, oferecendo-se para conquistar a região missioneira.

O comandante da guarda avançada depois de ouvi-los e de o fitar de alto a baixo, só teve palavras de encorajamento para aquele ousado guerrilheiro, que lhe aparecera diante dos olhos, como um caudilho capaz dos mais belos lances de heroísmo.

E lá partiu o bando de aventureiros em direção a S. Martinho, onde estava uma força castelhana. Maneco Pedroso, à frente dos seus companheiros resolutos, avança à guarda que ali estava e a desbarata sem piedade. A notícia dessa vitória espalha-se rapidamente, levando o susto e o pa¬vor aos povoados ribeirinhos do rio Uruguai.

Por esse tempo aparece, naquelas paragens, um outro gaúcho capitaneando um bando de guerrilhas; era o cachoeirense José Borges do Canto, que desertara das nossas tropas, á espera de uma ocasião propícia, para cair, de surpresa, sobre os povos das missões.

Maneco Pedroso não operava só nesta cruzada de patriotismo; vinha também ao seu lado o cabo desertor José Borges do Canto, animado dos mesmos sentimentos, para juntar aquela nesga de terra abençoada, ao torrão em que ambos nasceram.

Pouco depois, no topo de uma coxílha, surge um outro caudilho com gente armada, com os mesmos intuitos elevados, é Gabriel Ribeiro de Almeida, paulista de nascimento, mas rio-grandense de coração.

Em pouco tempo, estes três heróis, inflamados do santo amor da Pátria, fazem a conquista da região missioneira para incorporá-la ao nosso território.

A essa formosa trindade de bravos, devemos, pois, a zona mais rica que o Rio Grande possui. A maior glória cabe, entretanto, a Manoel dos Santos Pedroso que tomou a iniciativa da conquista dos sete povos das Missões, contando apenas com a sua coragem e o seu valor.

Esse homem obscuro, que viu a luz, num rancho, nas brenhas do sertão e tanto se celebrizou pelos seus feitos de bravura, morreu a 05 de abril de 1816, (Conforme carta do Capitão Gabriel Ribeiro de Almeida ao Tenente General Patrício da Câmara, Manoel dos Santos Pedroso morreu em meados de março de 1816) - (Conforme documento do Arquivo Público do RGS, a data da morte é 24/03/1816), pobre como nascera, tendo apreendido, no Passo de S. Isidoro, seis carretas fugitivas, atulhadas com os armamentos e as ricas alfaias de ouro e prata daqueles famosos templos, que deslumbravam pela magnificência dos finos metais e das pedras preciosas, que resplandeciam na fronte das suas imagens sagradas como constelações no céu.



SANTOS,  CÂNDIDO NOBERTO DOS
Advogado e Jornalista

Cândido Norberto dos Santos nasceu em Bagé, no dia 18 de outubro de 1927, mesmo ano de fundação da Rádio Gaúcha. Chegou a Porto Alegre em 1943, para trabalhar na Folha da Tarde, periódico da Caldas Júnior. Além de experiência, conquistou várias amizades. Cita como exemplos Flávio Alcaraz Gomes e João Bergmann, locutor da PRF-9, Rádio Difusora Portoalegrense. Durante as tardes, Norberto passava o tempo livre no estúdio da rádio jogando conversa fora com Bergmann. Determinado dia, Bergmann não pode apresentar o seu programa como habitualmente e a chance de locução surgiu pela primeira vez. Impressionado com a voz de Cândido, o diretor da Difusora, Nelson Lança, empregou-o automaticamente. Iniciava-se, então, uma carreira que iria confundir-se com a história da evolução do rádio gaúcho.

Primeira experiência com rádio-teatro

Durante os anos 40, Cândido Norberto era diretor de broadcasting na Rádio Gaúcha. Estruturou o elenco de rádio-teatro da emissora. Conquistou nomes importantes como Walter Ferreira, Tânia Maria, primeira-dama do estilo, Aida Terezinha e Rui Figueira, que além de locutor do Repórter Esso era o responsável pela publicidade. O diferencial da Gaúcha na disputa pela audiência com a Farroupilha era a veiculação diária dos capítulos da novela. É desta época, o programa Tapete Mágico, que incluía novelas e foi um fenômeno de audiência, marcando época no dia-a-dia gaúcho.

O tradicional comentário Pensando em Voz Alta, durante anos projetou Cândido Norberto como analista do cotidiano. A partir daí, trabalhou nas rádios Guaíba e Farroupilha e nas emissoras de televisão Gaúcha e Educativa. Mas foi na Rádio Gaúcha que exerceu o ofício por mais de 50 anos. Foi locutor, redator, cronista, comentarista, rádio-ator. Até cantou, parodiando um bolero ao lado de Adroaldo Guerra e Walter Ferreira.

Em 1950, quando concorreu ao primeiro cargo político, as eleições se caracterizaram pela chamada fase de redemocratização que seguiu ao Estado Novo, regime que impunha uma forte censura aos veículos de comunicação. O chefe político da época era Getúlio Dornelles Vargas.

Formou-se em advocacia e exerceu cargos políticos. Integrou o Legislativo do Rio Grande do Sul por 16 anos, totalizando quatro mandatos consecutivos como deputado estadual pelo Partido Socialista Brasileira (PSB). Ocupou a presidência da Assembléia Legislativa e da União Parlamentar Interestadual e ainda o governo do Estado interinamente. Entretanto, seus comentários políticos na Rádio Gaúcha e na televisão custaram-lhe a troca de emissora na década de 50, quando foi trabalhar na Guaíba comandando o programa Távola Redonda. Teve o mandato cassado pelo regime militar, em 1966.

Cândido Norberto graduou-se em Jornalismo pela primeira turma do curso de Comunicação da UFRGS, atuando desde então somente no meio radiofônico. Foi responsável pela primeira transmissão esportiva internacional do rádio gaúcho, em 1949. A partida foi no Uruguai entre o Grêmio 3 X Nacional 1.

As transformações na Rádio Gaúcha foram feitas após a chegada de Jesuino Antônio D´ Ávila, que dirigiu a Farroupilha em seus anos mais prósperos. A maior mudança, porém, ocorreu em 1970, quando Norberto idealizou o Sala de Redação, programa que ocupava o horário do almoço e consistia na leitura de notícias direto da redação do jornal Zero Hora.

O Sala de Redação seria o ponto central da reformulação da Gaúcha, tornando-a eminentemente jornalística. Entretanto, Cândido não acompanhou todo o processo de reestruturação. Transferiu-se para a Rádio Farroupilha e, posteriormente, atuou na direção da TV Educativa.

Em 1993, retorna à Gaúcha, participando semanalmente do Fórum Rádio Gaúcha. Fazia, também, três comentários diários na rádio, além de atuar como cronista do jornal Zero Hora.

Entrevista gravada em outubro de 1999.

Cândido Norberto dos Santos faleceu em Porto Alegre (RS), em 01 de fevereiro de 2009.



SANTOS,  CONSTANTINO JOSÉ DOS
Político

Filho de Joaquim José dos Santos e de Perpétua Joaquina Lopes.

Constantino casou-se em 1822, na Encruzilhada, com Inácia Veloza da Fontoura, natural daquela vila e filha de Patrício José Peixoto e de Vicência Maria do Sacramento.

Constantino teve destacada atuação nos acontecimentos políticos do Rio Pardo e da Encruzilhada.



SANTOS,  DOMINGOS FRANCISCO DOS
Engenheiro

Era figura saliente do partido conservador. Havia conquistado as suas esporas de ouro nas lutas que teve de sustentar, durante anos, na imprensa e na tribuna.

Á testa do “Conservador” revelou-se um polemista de pulso, que não se acovardava com os ataques dos adversários que não o poupavam. Escrevia o artigo de fundo, a crônica, o folhetim: era ele, finalmente, o “facto totum” do jornal do seu partido e nas fileiras conservadoras não existia um outro nas suas condições.

Era um escritor infatigável, de rija têmpera, às vezes violento nos seus golpes, outras vezes, fazendo jogos malabaristas com a fina graça portuguesa de outros tempos. Nas palestras, entre amigos, era um encanto vê-lo contar um caso ou uma anedota.

Era engenheiro civil, mas quase não exercia a sua profissão apesar de não lhe faltar competência. A política conquistara-o, prendera-o, para sempre, nas suas malhas de aço, das quais não podia se desembaraçar quando mesmo quisesse tentar.

Foi eleito diversas vezes à Assembléia Provincial, ocupando a tribuna, quando era preciso. E a mesma facilidade que tinha em escrever para o jornal, tinha também para falar em público; e o fazia com graça, jogando a fina ironia, como se estivesse em palestra, em roda de amigos, com o seu charuto à boca.

Em 1888, contrariado, aborrecido com a marcha dos negócios políticos do país, abandonou o velho partido a que servira com a maior dedicação e filiou-se ao partido republicano, publicando por esta ocasião, um manifesto explicando a sua conduta.

Proclamada a república, seguiu para o Rio de Janeiro, a chamado de seu amigo o Marechal Deodoro da Fonseca.

Aí, a fortuna lhe sorriu, mas recebeu três profundas punhaladas no coração, perdendo três filhas quase ao mesmo tempo.

Apesar de ausente da terra natal, tinha sempre os olhos amorosos voltados para ela, que lhe parecia, à distância, mais cheia de encantos, a fasciná-lo.

Escreveu uma série de artigos sobre a cultura do trigo entre nós, artigos esses que se recomendavam, não só pela elevada competência técnica, como pela beleza da forma.

Aos 69 anos de idade, a 4 de abril de 1910, faleceu em Niterói, o nosso ilustre patrício, que exercia então um alto cargo no Ministério da Agricultura.



SANTOS,  JOSÉ BERNARDINO DOS
Poeta

José Bernardino dos Santos nasceu na cidade de Porto Alegre, a 20 de maio de 1845. Foi uma das inteligências mais em evidência e de maior autoridade literária que teve o Rio Grande do Sul.

Pertenceu à plêiade brilhante que, em 18 de junho de 1868, fundou o Partenon Literário. A esse tempo, Bernardino dos Santos já era conhecido e admirado nas letras indígenas.

Preso à vida estreita e absorvente do funcionalismo público, pois trabalhava na antiga tesouraria da fazenda, era ainda assim um dos nomes assíduos nos jornais e nas revistas daquela época.

Apesar de muito moço, a sua autoridade era acatadíssima pelos intelectuais de então e a sua crítica impressa valia por uma consagração ou por um excídio literário.

Foi José Bernardino dos Santos quem corrigiu e prefaciou o primeiro livro de versos de Múcio Teixeira, um dos maiores poetas gaúchos. Vozes Tremulas, como se intitulava esse livro, apareceu em 1873.

Tinha então José Bernardino dos Santos, 28 anos de idade, produzia incessantemente e o seu nome brilhava entre os de maior brilho. Era uma voz entusiástica, e só se erguia para insuflar coragem.

Numa Carta a Múcio Teixeira, publicada em 1872 no Álbum Semanal, escrevia ele, referindo-se ao Partenon Literário:

“Descansemos um pouco sobre a pedra angular do grandioso monumento recém lançado à vala e contemplemos com desvanecimento e orgulho aquela ardida mocidade que se lhe agrupa ao redor, desfraldando o estandarte da revolução e da conquista!

Saudemo-los, os ilustres neófitos das letras, que cônscios de si, se voltam sorrindo ao martírio de um apostolado grandioso, como outrora se adornavam de flores as vítimas destinadas ao holocausto, saudemo-los com uma dessas vibrações patrióticas que nos arrancam da alma o entusiástico brado de - Avante!”

Era sempre assim, num despertar de energias e de incitamento que Bernardino dos Santos falava, nos momentos precisos, aos pioneiros do ideal.

Ligado a Eudoro Berlink por idéias políticas e afinidades literárias, colaborou muito tempo no Rio-grandense, órgão do partido conservador, redatoriado por aquele.

Escreveu algumas exitosas peças, para o teatro. Foi, porém, na revista do Partenon Literário que ele deixou melhor estampado o cunho da sua intelectualidade vigorosa.

Nas páginas deste famoso mensário, de cuja comissão redatorial fez sempre parte, publicou o nosso patrício, novelas, contos, poesias, crítica literária, esboços históricos, entre os quais um sobre Frei Cristóvão de Mendonça bem como, sobre lendas e crenças rio-grandenses.

Bernardino dos Santos foi da geração do seu tempo, um dos mais assíduos cultores da literatura francesa, de que traduziu muitas poesias de autores célebres.

Era filho de Eleasar José dos Santos e de Dª Comba Norberto dos Santos e faleceu em Caxias, no ano de 1892, tendo tido como se viu, a sua época de celebridade nas letras do Rio Grande do Sul.

Data controversa.

Villas-Bôas e Ari Martins apontam 20/02/1848.

Guilhermino César na sua História da literatura do Rio Grande do Sul, registra 20-05-1848.



SARAIVA DA FONSECA,  GLAUCUS
Advogado e Poeta regionalista

Nasceu em S. Jerônimo (RS), aos 24 de dezembro de 1925. Foi um dos pioneiros do Movimento Tradicionalista Gaúcho - MTG (juntamente com Barbosa Lessa e Paixão Côrtes), surgido em 1947 e eclodido em 1948, com a fundação do primeiro CTG, que dirigiu como seu primeiro Patrão.

Fundador da “Estância da Poesia Crioula”; escreveu belas poesias gauchescas e dentre as quais, citamos:

Como cevar o mate

"Palmeio o velho porongo,!”
Derramo a erva com jeito,
Encosto a cuia no peito
Batendo a erva pra um lado;
Com quatro dedos curvados
Formo um topete bem feito.

Com um pouquito de água morna,
Bem devagar despejado,
Tenho o amargo ajeitado
Que ponho a um canto pra inchar
E espero a água esquentar
Pitando um baio sovado.

A pava chiou no fogo,
Encho a cuia que promete;
A espuma se arremete
Bem pra cima, borbulhando
E acariciando, beijando,
Branqueia todo o topete.

Agarro a bomba de prata,
Tapo o bocal com o dedão,
Calço o bojo bem no chão
Da cuia e vou destapando
A bomba que vai chupando
Um pouco do chimarrão.

Derramo outro pouco d’água,
Para aumentar o calor . . .
E o mate confortador
Vou sorvendo em trago largo,
Pois me saiu um amargo
Despachado e roncador."

No Reino da Poesia (1951)

“Amargo doce que eu sorvo
Num beijo em lábios de prata!
Tens o perfume da mata
Molhada pelo sereno,
E a cuia, seio moreno
Que passa de mão em mão,
Traduz no meu chimarrão,
A velha hospitalidade
Da gente do meu rincão."

Foi o autor da Carta de Princípios do Movimento Tradicionalista Gaúcho - MTG, aprovada no VII Congresso Tradicionalista - Taquara (RS), em 1961, como segue:

A Carta de Princípios, é cláusula pétrea do Estatuto do MTG (Art. 2º) e fixa os seguintes objetivos:

I – Auxiliar o Estado na solução dos seus problemas fundamentais e na conquista do bem coletivo.

II – Cultuar e difundir nossa História, nossa formação social, nosso folclore, enfim, nossa Tradição, como substância basilar da nacionalidade.

III – Promover, no meio do nosso povo, uma retomada de consciência dos valores morais do gaúcho.

IV – Facilitar e cooperar com a evolução e o progresso, buscando a harmonia social, criando a consciência do valor coletivo, combatendo o enfraquecimento da cultura comum e a desagregação que daí resulta.

V – Criar barreiras aos fatores e idéias que nos vem pelos veículos normais de propaganda e que sejam diametralmente opostos ou antagônicos aos costumes e pendores naturais do nosso povo.

VI – Preservar o nosso patrimônio sociológico representado, principalmente, pelo linguajar, vestimenta, arte culinária, forma de lides e artes populares.

VII – Fazer de cada CTG um núcleo transmissor da herança social e através da prática e divulgação dos hábitos locais, noção de valores, princípios morais, reações emocionais, etc.; criar em nosso grupos sociais uma unidade psicológica, com modos de agir e pensar coletivamente, valorizando e ajustando o homem ao meio, para a reação em conjunto frente aos problemas comuns.

VIII – Estimular e incentivar o processo aculturativo do elemento imigrante e seus descendentes.

IX – Lutar pelos direitos humanos de Liberdade, Igualdade e Humanidade.

X – Respeitar e fazer respeitar seus postulados iniciais, que tem como característica essencial a absoluta independência de sectarismos político, religioso e racial.

XI – Acatar e respeitar as leis e os poderes públicos legalmente constituídos, enquanto se mantiverem dentro dos princípios do regime democrático vigente.

XII – Evitar todas as formas de vaidade e personalismo que buscam no Movimento Tradicionalista veículo para projeção em proveito próprio.

XIII – Evitar toda e qualquer manifestação individual ou coletiva, movida por interesses subterrâneos de natureza política, religiosa ou financeira.

XIV – Evitar atitudes pessoais ou coletivas que deslustrem e venham em detrimento dos princípios da formação moral do gaúcho.

XV – Evitar que núcleos tradicionalistas adotem nomes de pessoas vivas.

XVI – Repudiar todas as manifestações e formas negativas de exploração direta ou indireta do Movimento Tradicionalista.

XVII – Prestigiar e estimular iniciativas que, sincera e honestamente, queiram perseguir objetivos correlatos com os do tradicionalismo.

XVIII – Incentivar, em todas as formas de divulgação e propaganda, o uso sadio dos autênticos motivos regionais.

XIX - Influir na literatura, artes clássicas e populares e outras formas de expressão espiritual de nossa gente, no sentido de que se voltem para os temas nativistas.

XX - Zelar pela pureza e fidelidade dos nosso costumes autênticos, combatendo todas as manifestações individuais ou coletivas, que artificializem ou descaracterizem as nossas coisas tradicionais.

XXI - Estimular e amparar as células que fazem parte de seu organismo social.

XXII - Procurar penetrar e atuar nas instituições públicas e privadas, principalmente nos colégios e no seio do povo, buscando conquistar para o Movimento Tradicionalista Gaúcho a boa vontade e a participação dos representantes de todas as classes e profissões dignas.

XXIII - Comemorar e respeitar as datas, efemérides e vultos nacionais e, particularmente o dia 20 de setembro, como data máxima do Rio Grande do Sul.

XXIV – Lutar para que seja instituído, oficialmente, o Dia do Gaúcho, em paridade de condições com o Dia do Colono e outros “Dias” respeitados publicamente.

Hoje, o nosso Pago Gaúcho, já instituiu pela Lei N º 36.180 (18-09-1995), que o 20 de Setembro é o DIA DO GAÚCHO.

XXV - Pugnar pela independência psicológicas e ideológica do nosso povo.

XXVI – Revalidar e reafirmar os valores fundamentais da nossa formação, apontando às novas gerações rumos definidos de cultura, civismo e nacionalidade.

XXVII – Procurar o despertar da consciência para o espírito cívico de unidade e amor à Pátria.

XXVIII – Pugnar pela fraternidade e maior aproximação dos povos americanos.

XIX – Buscar, finalmente, a conquista de um estágio de força social que lhe dê ressonância nos Poderes Públicos e nas Classes Rio-Grandenses para atuar real, poderosa e eficientemente, no levantamento dos padrões de moral e de vida do nosso Estado, rumando, fortalecido, para o campo e homem rural, suas raízes primordiais, cumprindo, assim, seu alto destino histórico, em nossa Pátria.

Seu trabalho foi muito importante, em especial, sua publicação do Manual do Tradicionalismo pela Livraria Sulina, em 1968.

Glaucus Saraiva morreu . . .



SARAIVA,  GUMERCINDO
O Napoleão dos Pampas
Revolucionário Maragato

Gumercindo Saraiva sul-rio-grandense, natural de Arroio Grande (RS), nascido aos 13 de janeiro de 1848. Filho de Francisco Saraiva (partidário do Cel. Bento Gonçalves da Silva) e de D. Pulpícia da Rosa, ambos gaúchos de Arroio Grande, estancieiros com bons recursos, residia habitualmente no Departamento de Cerro Largo (Uruguai) onde possuía outra estância e por isso, falava mal a língua materna, além de ter instrução rudimentar, pois as letras eram bem poucas, sua língua predileta era o espanhol, mas sobravam-lhe inteligência, agudeza, determinação, serenidade e coragem, para ninguém lhe pisar no poncho.

Em 1873, casou-se com D. Amélia Rodrigues Corrêa, brasileira de Jaguarão e sua prole chegou a sete filhos que falavam as duas línguas (português e espanhol).

Ao tempo da monarquia brasileira, militando no Partido Liberal, chegou a desfrutar de grande prestígio, a ponto de ter sido nomeado Ten.-Cel. da Guarda Nacional.

Em 1890, foi preso em Santa Vitória do Palmar, por crimes políticos; denunciado e processado depois por homicídio, conseguiu fugir.

Irrompendo a Revolução Federalista (Guerra da Degola), em 1893, pôs-se logo à frente de um grupo armado e dentro de pouco era um dos generais das forças maragatas, comandando a vanguarda de João da Silva Tavares (Joca Tavares), onde também lutavam seus irmãos Apparício Saraiva e Cizério Saraiva.

Tomou parte no combate do Salsinho, um dos primeiros encontros da revolução; enquanto outros chefes militares rebeldes emigravam, sua gente levava a revolução ao coração do Rio Grande, angariando simpatias até fora do Estado.

A ele se deve o plano e a invasão de Santa Catarina e Paraná, visando a Capital da República; depois de ter atacado Blumenau, Lages, Campos Novos e Rio Negro, cercou a Lapa, que só se rendeu após a morte de seu defensor, o Cel. Gomes Carneiro.

Preparava-se para iniciar a marcha sobre São Paulo, quando o Gen.. Floriano Peixoto organizou um Corpo de Exército de 5.100 homens ao mando do Gen. Ewerton Quadros; vendo a inutilidade de seu plano e sabendo do fim inglório da Revolta da Armada, decidiu voltar ao Rio Grande.

Realizou, com seu exército de ainda 5.000 homens, a penosa marcha de Curitiba até a região do Caroví, onde encontraria a morte, na tarde de 10 de agosto de 1894, vítima de uma emboscada. As tropas republicanas foram depois acusadas de terem desenterrado o seu cadáver, profanando sua sepultura situada na margem sul do arroio Caroví, na margem oeste da estrada; cortaram sua cabeça e levaram até Porto Alegre, como troféu de guerra ao então Presidente Júlio de Castilhos, que não aceitou o presente, ordenando que fossem até ao local do corpo, para recolocar a cabeça junto ao corpo.

Ao passarem por Cachoeira, aquilo já cheirava mal e quando transpunham a ponte sobre o rio Jacuí, jogaram-na pela janela do trem.

Mais tarde, seus familiares trasladaram seus 88 ossos lá encontrados, para Arroio Grande, sua terra natal.



SARMENTO LEITE DA FONSECA,  EDUARDO
PHD em Medicina

Natural da cidade de Porto Alegre (RS), nascido aos 07 de abril de 1868. Fez os estudos preparatórios no Ginásio S. Pedro, dirigiu-se ao Rio de Janeiro, em cuja Faculdade de Medicina, matriculo-se. Revelando já os seus pendores pelas disciplinas anatômicas, exerceu ali o lugar de interno de clínica cirúrgica.

Aos 20 de dezembro de 1890, defendeu tese sobre “O Tratamento Cirúrgico da Oclusão Intestinal”. Colou grau aos 07 de janeiro de 1891 e neste mesmo ano regressou à sua terra natal. Começa o jovem médico exercendo o cargo de adjunto da 2ª Enfermaria da Santa Casa de Misericórdia; em 1910, passa a diretor da 5ª Enfermaria, do mesmo hospital.

Foi médico interino da Brigada Militar, em 1891, médico da Casa de Correção, em 1892. Foi secretário da Diretoria de Higiene de 1898 a 1899, diretor do Lazareto de Variolosos de 1895 a 1898, e de 1899 a 1900, foi chefe de Zona Sanitária por ocasião da epidemia de peste bubônica em 1901; em 1907, por ser professor exemplar, foi eleito vice-diretor da Faculdade de Medicina; foi diretor do hospital de emergência durante a epidemia gripal de 1918. Em 1898, nomeou-o seu membro correspondente a Academia Nacional de Medicina. Fez parte do Colégio Americano dos Cirurgiões. Foi Diretor da Faculdade (1915-1934); exerceu a presidência da Sociedade de Medicina de Porto Alegre no período de 1917 a 1921; foi eleito seu sócio Honorário em dezembro de 1923.

Sobressaía-se entre os colegas de profissão; era um homem de pequena estatura, com voz grave e pausada, movimentos lentos, que se diria arrastar sempre consigo um grande peso, mas em cujo olhar inteligente cintilava não raro a ironia.

Este homem - Sarmento Leite - encarou verdadeiramente a Faculdade de Medicina, tanto com ela se identificara. Encarnou-a não somente nas épocas de crise, quando as dificuldades suscitam não raro energias latentes e insuspeitadas, mas também nos períodos de calmaria, quando o esforço tende a relaxar-se.

Ele foi realmente o seu nume (espécie de divindade) tutelar. Constituiu um dos mais típicos exemplos de consagração de uma vida inteira a uma idéia ou instituição. Pela Faculdade de Medicina, abandonou Sarmento Leite a profissão, renunciou-lhe aos proventos, resignou-se a viver modestamente, senão dificultosamente. Porque é preciso dizer que, até tornar-se instituição federal, não remunerava a Faculdade verdadeiramente os seus professores; apenas os gratificava modestamente.

De espírito aberto a tudo quando pudesse elevar o nosso nível cultural, foi sócio Fundador do Instituto de Belas Artes do Rio Grande do Sul e membro do seu Conselho Central.

Quando foi eleito pela Congregação médica, para a direção plena e efetiva da Faculdade de Medicina; então, pode ele entregar-se inteiramente à grande vocação da sua vida, não havendo tarefa que não tomasse nos ombros. Já diretor do Instituto Anatômico, passou a acumular sucessivamente, com a direção da Faculdade, as do Instituto Pasteur e do Instituto Osvaldo Cruz. Enquanto para alguns era já incômoda ou pesada carga o simples exercício do magistério, nada era demasiado para Sarmento Leite, desde que o reclamasse o interesse da sua escola. Nela, pode-se dizer que foi tudo, desde bedel e porteiro, até diretor.

Essa transubstanciação parecia refletir-se no homem. À medida que a Instituição se desenvolvia, o homem parecia mirrar, como se nele haurisse ela a força vital. Finalmente, quando três anos depois de tornada a Faculdade instituição federal, isto é, depois de plenamente assegurado o seu desenvolvimento material, Sarmento Leite deixa a direção em dezembro de 1934, em virtude de imperiosas disposições legais, recebendo então verdadeira consagração de alunos e professores, não pode sobreviver o homem que fizera da Faculdade o grande objetivo de sua vida.

Faleceu aos 02 de abril de 1935, pouco depois de seu afastamento, para descanso.



SARMENTO MENNA,  ANTÔNIO MANOEL DO AMARAL
Militar Farroupilha

Natural do Rio Pardo (RS), Antônio Manoel do Amaral Sarmento Menna era filho de Francisco Xavier do Amaral Sarmento Menna e de Rosália Brígida de Carvalho.

Foi oficial das forças revolucionárias de 1835; quando do Rio Pardo marcham os republicanos, a engrossar o destacamento do Coronel Côrte Real, no Capané (em Cachoeira), junto segue Antônio Manoel, no posto de oficial subalterno.

Passo a passo, em lances de coragem, ele chegou a Coronel; legítimo batalhador dos pampas, atacava o inimigo, de face bem descoberta, à arama branca. E, quando atacava o inimigo em campo raso era de espada em punho, contava uma testemunha, acrescentando que ele era homem de poucas palavras e muito concentrado, sendo considerado como um dos tantos valentes que teve a República Rio-Grandense.

Entre as vitórias conquistadas para os farrapos por Antônio Manoel, merece destaque a de 16-03-1844, no Cerro da Palma (em Cachoeira), em que destroçou a força do Coronel Francisco Pedro de Abreu, que foi ferido na ocasião.

Ainda em junho de 1844, Antônio Manoel foi destacado por David Canabarro, para atacar a vila de Jaguarão, em cujo comércio poderiam obter alguns recursos. Antônio Manoel encontra na vila resistência tenaz; palmo a palmo, obriga os imperialistas a recuar. Nas margens do rio, porém, secundados por uma canhoneira, eles se fazem fortes; Antônio Manoel, realizado o seu objetivo principal, pois que se apropria de víveres e fazendas, ordena a retirada.

Nessa ocasião, porém, ao atravessar a praça principal da vila, é atingido por uma bala e cai mortalmente ferido.

O valoroso Coronel farrapo morreu aos 21 de junho de 1844, com 34 anos de idade, mais ou menos, quase ao fim da Revolução Farroupilha; foi um doloroso tributo de sangue da família Amaral Sarmento Mena, aos ideais republicanos.

FONTE: Vultos da epopéia Farroupilha - 1935, págs. 187-191 - Othelo Rosa



SARMENTO MENNA,  FRANCISCO ANTÔNIO DO AMARAL
Farroupilha

Francisco Antônio do Amaral Sarmento Menna é o filho mais moço de Francisco Xavier Sarmento Menna.

Sabe-se que esteve implicado nos acontecimentos de 1835; foi também deportado para o Rio de Janeiro (RJ), nos fins do ano de 1836.



SARMENTO MENNA,  FRANCISCO DE PAULA DO AMARAL
Farroupilha

Francisco de Paula do Amaral Sarmento Menna era filho de Francisco Xavier Sarmento Menna.

Assentou praça no Regimento dos Dragões de Rio Pardo, em 1819 e foi promovido em 1820 a alferes.

Tenente em 1825; em 1832 abandonou o serviço ativo do Exército com brilhante folha de serviço, pois tomara parte no sítio de Montevidéu, combate de Tacuarembo, Guerras de 1825 a 1828 e Batalha do Passo do Rosário (Ituzaingo).

Extremado revolucionário farroupilha, presidente da “Sociedade Defensora da Liberdade de Independência Nacional” também lutou de armas na mão como republicano e trouxe para a capital, prisioneiro, depois do combate de Pelotas em 1836, o futuro “Conde de Porto Alegre”.

Morreu Francisco de Paula no mesmo ano do cerco da capital da Província; foi enterrado em Viamão (RS) e seus funerais estiveram imponentes homens, porque a eles se associou espontaneamente o povo.

Poeta de mérito; escreveu a conhecida poesia Ode - sobre a amizade.



SARMENTO MENNA,  FRANCISCO XAVIER
Militar

Há dois personagens com este mesmo nome: Pai e Filho; o primeiro que era Tenente-coronel, nasceu em Portugal e morreu no Rio Pardo, em 1806 e o segundo que é este Coronel, nasceu na cidade de Porto Alegre (RS), teve onze filhos todos nascidos no Rio Pardo (RS).


Destacaram-se os seguintes:

01 - Sebastião Xavier do Amaral Sarmento Menna

02 - Francisco de Paula do Amaral Sarmento Menna

03 - Frederico Augusto do Amaral Sarmento Menna

04 - Antônio Manoel do Amaral Sarmento Menna

05 - Francisco Antônio do Amaral Sarmento Menna



SARMENTO MENNA,  FREDERICO AUGUSTO DO AMARAL
Farroupilha

Frederico Augusto do Amaral Sarmento Menna era filho de Francisco Xavier Sarmento Menna.

Frederico também foi poeta como o seu irmão Sebastião Xavier, político e militar. Foi preso, foi deportado em 1836, para o Rio de Janeiro (RJ), onde então teve oportunidade de fazer estudos regulares na Escola de Guerra.

Entrou para a Escola de Guerra, como soldado e concluiu com distinção, o curso de engenharia militar.

De cadete a 2º Tenente, logo regressa ao Rio Grande do Sul e como 1º Tenente nas forças de Marques de Sousa, toma parte nas batalhas de Tonelero e Morón (Argentina), em 1852; não envergonhou nunca o hábito de Cavaleiro da Ordem da Rosa, que recebera.

Reformou-se no posto de Capitão de engenheiros. Entrou na política, tomou parte saliente na fusão de velhas facções, foi eleito Deputado várias vezes e em 1856, foi candidato a Deputado Geral, aos discursar como Deputado Provincial, na Assembléia do Rio Grande do Sul, morreu subitamente.

Começara sua carreira como professor público, no Rio Pardo (RS).



SARMENTO MENNA,  SEBASTIÃO XAVIER DO AMARAL
Militar Farroupilha

Sebastião Xavier do Amaral Sarmento Menna era filho de Francisco Xavier Sarmento.

O poeta Sebastião teve uma profícua atuação no decurso da Revolução de 1835 e muito se lhe deve o Rio Pardo, na propaganda republicana e na campanha da abolição da escravatura.

Sebastião foi Deputado à Constituinte da República Rio-Grandense (1840), sendo também Promotor Público (perto de trinta anos), Professor e Jornalista.

Esqueceram-no ligeiro, mas sua obra talvez cheia de muitos defeitos, ficará como documento de uma época.



SCHMIDT Fº,  MATHEUS JOSÉ

Advogado e Político



Natural de Stª Cruz do Sul (RS), nasceu aos 28 de outubro de 1926 e faleceu em Porto Alegre (RS), aos 27 de março de 2010.

Matheus Schmidt foi advogado em Cachoeira do Sul, secretário estadual dos Transportes durante o Governo Alceu Collares e deputado federal por Cachoeira.

Com 20 anos de idade, foi líder estudantil e presidente do Centro Acadêmico do curso de Direito da UFRGS. Nessa época, atuava no jornal comunista Tribuna Gaúcha.

Em 1949 casou-se em Cachoeira do Sul, com Sueelly Feldman Schmidt, com quem teve cinco filhos (Tito, Márcia e as trigêmeas Flávia, Silvia e Gláucia).

Fundador proprietário da “Empresa Marabá” (transporte coletivo urbano), estabelecida na Av. Brasil, entre as ruas Ricardo Schaurich e Araújo de Porto Alegre - (sucessora da “Empresa Theodoro Costa” estabelecida na rua Conde de Porto Alegre, entre as ruas Saldanha Marinho e Senador Pinheiro Machado).

Foi vice-prefeito de Cachoeira do Sul na década de 60, Matheus Schmidt.



Sua carreira política

Foi vice-prefeito de Cachoeira do Sul na década de 60, Matheus Schmidt

Durante o governo Leonel Brizola (1959/1963), Matheus Schmidt assumiu a chefia de gabinete da secretaria de Administração.

Na primeira disputa para a Câmara dos Deputados, em 1962, ficou na quinta suplência.

Em 1966, elegeu-se deputado federal como o quinto mais votado pelo PTB do Rio Grande do Sul. Assumiu o mandato e foi eleito vice-presidente da Câmara dos Deputados.

No governo Alceu Collares (1990/1994), foi secretário dos Transportes, quando garantiu o cronograma de obras do Porto do Jacuí, principalmente o ramal ferroviário até a zona da Centralsul.

Foi eleito algumas vezes como um dos 100 cabeças do Congresso Nacional, título dado pela imprensa que faz a cobertura de Brasília aos 100 deputados federais mais influentes internamente.

Em 1994 assumiu o último mandato como deputado federal.

Presidiu o PDT do Rio Grande do Sul de 1999 a 2001 e em 2004, voltou a presidir a sigla até 2009. Era membro do Diretório Regional e Nacional do PDT.


Os votos de Matheus Schmidt em Cachoeira do Sul

6.863 para vice-prefeito em 1959

6.273 para deputado federal em 1962

8.944 para vice-prefeito em 1963

7.281 para deputado federal em 1966

7.712 para deputado federal em 1982

2.941 para deputado federal em 1986

5.411 para deputado federal em 1994

Total de 45.425 votos




SCHMITT,  FELIPPE
Militar

Felippe Schmitt era natural de Hamburgo Velho, município de S. Leopoldo (RS); casou-se com Maria Delfina com quem teve cinco filhos: Oscar, Luiz Fritz, Maria Nicolina, Renata Olga e Reynaldo.

Felippe Schmitt foi destacado membro do “PRR” (Partido Republicano Rio-Grandense).

Foi nomeado Tenente-coronel comandante do 88º Regimento da 44ª Brigada de Cavalaria da Guarda Nacional; também desempenhou a função de Sub-Intendente e Delegado de Polícia.

Faleceu em 1910.



SCHMITT,  OSCAR
Chimango

Oscar Schmitt era natural da Ilha da Pintada, 8º Distrito de Porto Alegre (RS), onde nasceu aos 22 de junho de 1889; filho de Felippe Schmitt e de Maria Delfina.

Casou-se com Clara Corrêa com quem teve cinco filhos: Ercy, Nidya, Neusa, José e Adão.

Oscar Schmitt foi um destacado elemento na política de sua época; foi Subprefeito e Subdelegado de Polícia da Ilha da Pintada, 8º Distrito de Porto Alegre (RS).

Exerceu, além de outros cargos de confiança, os de suplente de Juiz Distrital e mais tarde o de Juiz de Paz, reconduzido ao cargo por diversas vezes.



SCHULTZ FILHO,  GUILHERME
Advogado

Natural de Carazinho (RS), nascido aos 02 de abril de 1911; além de advogado, era poeta, ensaísta, jornalista e orador.

Filiado à Academia Sul-Rio-Grandense de Letras e ã Estância da Poesia Crioula; usava o pseudônimo de: Mariano, Chiquinho da Vovó, Xirú, Gaúcho.

Suas obras:
01 - Félix da Cunha (conferência) - 1963
02 - Xavier Ferreira e a Revolução Farroupilha (conferência) - 1963
03 - Homenagem à Memória do Dr. Oswaldo Miller Barlém (conferência) - 1968
04 - Osório, o Legendário (síntese biográfica) - 1970
05 - Antologia da Estância da Poesia Crioula (notas) - 1970



SCLIAR,  MOACYR JAYME
Médico, Escritor e Jornalista

Moacyr Scliar nasceu em Porto Alegre, aos 23 de março de 1937. Escreveu uma grande quantidade de obras, entre crônicas, novelas, romances, contos e ensaios.

Histórias de médicos em formação foi seu livro de estréia, publicado em 1962.

Seguiram-se as obras:
01 - O centauro no jardim
02 - A orelha de Van Gogh
03 - Olho enigmático
04 - A mulher que escreveu a Bíblia
05 - O carnaval dos animais
06 - A guerra do Bom Fim
07 - O exército de um homem só
08 - O ciclo das águas
09 - Mês de cães danados
10 - O anão do televisor
11 - A festa no castelo
12 - Um país chamado Infância
13 - Sonhos tropicais
14 - Pra você eu conto

Moacyr Scliar ganhou muitos prêmios literários e tem livros traduzidos em vários idiomas; ele é hoje um dos escritores mais representativos da literatura brasileira. Os temas dominantes em sua obra são a realidade social da classe média urbana brasileira e o judaísmo.

Hoje (2004), Moacyr Scliar integra a Academia Brasileira de Letras - ocupando a Cadeira nº . . .



SILVA E FONTOURA,  MANOEL CARNEIRO DA
Dragão

Natural do Rio Pardo (RS), nasceu em 1762 e faleceu em Porto Alegre (RS), em 1824; filho de João Barbosa da Silva Gama e de Inácia Maria Veloza da Fontoura.

Manoel Carneiro casou-se no Rio Pardo, em 1796, com a riopardense Francisca Margarida Pereira Pinto, que faleceu em Stª Maria, em 1821; era a terceira filha de Nicolau Inácio da Silveira, porta-estandarte, nascido no Rio Grande (RS), de pais ilhéos do Faial (Açores) e de Engrácia Raquel Pereira Pinto, nascida na cidade de Viamão (RS), em 1754 e falecida na cidade de Triunfo (RS), em 1799; era a sexta filha de Francisco Barreto Pereira Pinto e de Francisca Veloza. Os pais de Francisca Margarida casaram no Rio Pardo.

Os autores da obra “Genealogia Rio-grandense” dizem (à pág. 33, de seu livro), que Manoel Carneiro da Silva e Fontoura, de fato nasceu em Rio Pardo.

Manoel casou duas vezes; a segunda, com a paranaense Maria Nepomuceno Carneiro filha de um capitão de Dragões.

Manoel teve onze filhos do primeiro matrimônio, quatro do segundo e dois ilegítimos; entre os seus filhos conta-se João Barbosa Carneiro da Fontoura, capitão do Exército - e entre os netos, figura o General Lino Carneiro da Fontoura e o Capitão e Dr. Nicolau Ignácio (médico).

Manoel Carneiro, ingressou no Exército, chegando ao posto de Marechal.



SILVA FLORES FILHO,  LUIZ DA
Médico

Era filho do venerando médico Dr. Luiz da Silva Flores cujo nome é ainda lembrado com saudades.

Nasceu na cidade de Porto Alegre, em 1843 e herdara do seu ilustre pai as grandes virtudes que o tornaram querido de todos.

Aqui estudou os preparatórios no colégio de Hilário Ferrugem, seguindo depois para o Rio de Janeiro, onde se matriculou na Faculdade de Medicina.

Em 1864, quando o nosso país foi forçado a levar a guerra à República do Uruguai, o nosso patrício abandonou os estudos e para lá partiu a fim de prestar seus serviços como médico.

Diante de Paissandu, que ofereceu heróica resistência, serviu ele no hospital de sangue, com a mais carinhosa solicitude.

Parecia completamente indiferente ao sibilar das balas, que lhe cruzavam por cima da sua cabeça; e tais foram os serviços que aí prestou, que a ordem do dia do comando em chefe, referindo-se à tomada daquela praça lhe fez as mais honrosas referências.

Por este motivo foi condecorado com o “Hábito da Rosa.”

Marchando, em seguida, o nosso exército para sitiar Montevideo, o nosso patrício o acompanhou, assistindo, pouco depois, à rendição daquela praça, que estava em condições de oferecer mais enérgica resistência que Paissandu.

Depois das nossas forças terem entrado em Montevideo, seguiu ele para o Rio de Janeiro, a fim de concluir o 6º ano da Academia de Medicina.

Voltando em 1866 à terra natal, foi nomeado médico da praticagem da Barra, onde pôs em relevo as suas aptidões.

Pouco tempo porém, aí se manteve, indo de novo para o teatro da guerra. Assistiu à tomada de Curuzú e ao assalto de Curupaiti, pondo mais uma vez em evidência o seu sangue frio, a sua coragem e sua competência nos hospitais de sangue.

Em atenção aos serviços prestados aí, lhe foi concedido o “Hábito de Cristo.”

Havendo, porém, sido eleito à Assembléia Provincial, pelo partido progressista, teve que abandonar o campo de luta pelos deveres impostos pela política. Começou então a clinicar em Porto Alegre, granjeando desde logo a confiança pela competência e desprendimento.



SILVA FLORES,  LUIZ DA
Médico

O pai do Dr. Luiz da Silva Flores, foi nos meados do século XIX, um dos médicos mais populares do Rio Grande do Sul.

Possuidor de um coração excelente e dotado de um espírito fidalgo, o ilustre médico porto-alegrense, tinha uma vasta clientela, não só pertencente à alta sociedade, como às classes menos favorecidas da fortuna.

Sua casa abria-se a qualquer hora para atender aos chamados num tempo em que os médicos eram poucos, mas todos amadurecidos nos seus misteres e no trato contínuo dos enfermos, que são os melhores livros de medicina.

O Dr. Luiz da Silva Flores era infatigável. Ligado ao partido liberal, de que era um dos paredros, no tempo em que o partido liberal era, no Rio Grande do Sul uma agremiação respeitável, não só pelas personalidades de seleção que o constituíam como pelo papel saliente que desempenhava na política do império, foi deputado em diversas legislaturas, prestou serviços de relevância à sua terra e ao seu partido, sem, todavia, prejudicar os seus deveres de médico e clínico de muita procura.

Espírito cultíssimo, o Dr. Luiz da Silva Flores deu sempre arras de vivíssimo interesse pelo progresso intelectual do Rio Grande do Sul, revelando o mais forte amor pela difusão do ensino público e o fazia sob o ponto de vista mais adiantado, rompendo contra a rotina e firmando altos princípios de pedagogia moderna.

Na legislatura de 1862, defendendo a criação de escolas nas colônias alemãs, assim dissertava o Dr. Luiz Flores:

“Eu creio, senhor presidente, que nem se pode concluir do que nele está escrito nem estará na mente do autor do projeto, o querer se substituir pela instrução (permita-me a expressão) alemã nas nossas colônias a instrução primária da língua do país, que é a essencialmente preciosa; mas a experiência me tem mostrado, que é impossível educar convenientemente as primeiras gerações das colônias sem termos pessoal com as habilitações necessárias para, conhecendo a língua própria dessas gerações e ao mesmo tempo a do país, poder-lhes comunicar esses conhecimentos que constituem a instrução primária elementar, que como acabo de dizer é es¬sencial às populações todas da província, quer alemãs em sua origem, quer rio-grandenses”.

Como ainda hoje, isto é uma questão corrente e constitui por assim dizer, um programa, é bom que fique consignado nestas páginas este exemplo brilhante do elevado espírito do notável médico rio-grandense.

O Dr. Luiz da Silva Flores faleceu quase septuagenário, legando à sua descendência um nome superior e uma estrelada memória.



SILVA FONTOURA,  FRUCTUOSO BORGES DA
Ten-coronel Farroupilha

Nasceu em Rio Pardo, no ano de 1814; deixou sua cidade natal, para viver em Cachoeira onde abriu uma farmácia.

Arrebentando a Revolução Farroupilha, ingressou nas forças republicanas onde chega a Tenente-coronel; ferido no combate de Caçapava. É um dos personagens da escaramuça do Capivari (município de Rio Pardo), quando os legalistas pretendiam cercar o sobrado da fazenda de Antônio da Silveira.

Aquiles Pôrto Alegre (nos seus “Vultos e Fatos do Rio Grande do Sul”), também conta o episódio: Após a derrota dos farrapos no “Combate dos Porongos”, passa a fronteira e vai viver no Uruguai, regressando, depois da paz estabelecida em Ponche Verde.

Em 1851, como Comandante de um Corpo de Transporte do Exército, tomou parte na Guerra contra Rosas.

Foi assassinado em S. Luiz da Missões, lugar em que se encontrava ao regressar de sua estância de Pirapó, no Uruguai. Vinte e dois bandidos assaltaram a casa do parente que o hospedava, em 25 de dezembro de 1861.

Ainda é uma conseqüência da morte de Antônio Vicente da Fontoura, pois Frutuoso Borges perseguira, sem tréguas, os criminosos que tinham atentado contra a vida daquele ilustre riopardense.



SILVA GUIMARÃES,  JOSÉ AUTO DA
Barão de Jaguarão

Nasceu em Porto Alegre (RS) em 1817 e faleceu no Rio de Janeiro (RJ) em 1880.

Militar de carreira do Rio Grande do Sul; recebeu o título de D. Pedro II.



SILVA MACHADO,  JOÃO DA
Barão de Antonina

Nasceu em 1782, em Bom Retiro (município de Taquary). Seus pais eram extremamente pobres; nestas condições apenas lhe deram uma educação rudimentar. Entretanto, João da Silva Machado foi, pouco a pouco, ilustrando o seu espírito no trabalho penoso e cheio de incidentes da vida ativa, que levava, cruzando as sacras sob um sol ardente, evitando os campos ao rigor do inverno.

Bem moço, começou a conduzir mulas e cavalos para negociar em S. Paulo. Principiou esse serviço como empregado de outros; mais tarde, porém, fê-lo por conta própria, obtendo vantagens extraordinárias.

Numa dessas viagens, enamorou-se de uma moça do Paraná, cujo território pertencia então a S. Paulo, só vindo a constituir uma província autônoma em meados do século passado. Efetuado o consórcio, tornou-se Silva Machado muito rico, não abandonando, porém, a sua constante labuta.

Era um homem ativo, afeto ao trabalho e empreendedor. À sua custa rasgou extensas estradas, mandou explorar os rios Tibagi e Paranapanema, fundou duas colônias de índios: uma à margem do rio Verde e a outra em Itarará. Tornou-se, então, um valioso elemento de progresso, ligando o seu nome a tudo quanto concorresse para o desenvolvimento da pátria adotiva.

Em recompensa dos seus bons serviços o estado de S. Paulo o elegeu diversas vezes à Assembléia Provincial e à Câmara Temporária.

Em 1842, o governo imperial o condecorou com o título de Barão de Antonina. Mais tarde (1854), pouco depois de haver sido criada a província do Paraná, entrou ele para o senado como seu representante.

Vindo da obscuridade, sem amparo de ninguém, só com o seu esforço conseguiu o nosso patrício alcançar as mais elevadas posições na sociedade.



SILVA PEREIRA,  JOÃO BATISTA DA
Barão de Gravataí

Natural de Porto Alegre (RS), nasceu aos 15 de janeiro de 1797; casou com Maria da Silva Pereira que foi “Baronesa de Gravataí”, natural desta Província.

Por ocasião das guerras do sul, teve oportunidade de mostrar seu grande valor militar.

Faleceu no posto de Coronel do Imperial Exército Brasileiro, em Porto Alegre (RS), aos 19 de agosto de 1853.

Deixou os seguintes filhos:
01 - Francisco;
02 - Maria Emília;
03 - Augusto;
04 - Emília;
05 - Henrique.



SILVA RIBEIRO,  HILÁRIO DE ANDRADE E
Educador, Poeta e Escritor

Natural de Porto Alegre (RS), nascido em 1º de janeiro de 1847; educador, poeta e teatrólogo. Pertencia ao Partenon Literário.

Colaborou em numerosos jornais e revistas, mas entregou-se principalmente ao magistério, tendo sido Professor de Desenho, na Escola Normal de Porto Alegre e no Liceu de Artes e Ofícios, do Rio de Janeiro.

Abundantes foram suas obras didáticas, com as quais obteve medalhas de prata, na Exposição Universal de Paris, em 1886.

Suas obras:
01 - As aparências Enganam (comédia) - 1868
02 - Risos e Lágrimas (drama) - 1870
03 - Aurélia (drama) - 1873
04 - Uma História (drama) - 1874
05 - Lucinda (drama) - 1875
06 - Segundo Livro de Leitura - Lições do Lar s/ Conhecimentos Úteis - 1879
07 - Geografia da Província do Rio Grande do Sul - c/ resumo das duas Américas - 1881
08 - Quarto Livro de Leitura (lições do Lar) - 1882
09 - Gramática Elementar e Lições Progressivas de Composição - 1883
10 - Elementos de Educação Moral e Cívica (didático) - 1907
11 - Cartilha Nacional (didático) - 1941
12 - Primeiro Livro de Leitura (silabário) - 1941

Pintor e teatrólogo, além de várias telas, deixou duas peças teatrais: Risos e Lágrimas; Aurélia (ambas publicadas na Revista do Partenon Literário - na qual, ainda esboçou a biografia de vários escritores e poetas).

Morreu em 1886, no Rio de Janeiro.



SILVA RILLO,  APPARÍCIO
Poeta

Natural de Porto Alegre (RS), nascido aos 08 de agosto de 1931; contabilista, poeta, contista, teatrólogo regionalista e lírico.

Filiado à Estância da Poesia Crioula.

Poeta pensador; suas obras tem o “estilo alexandrino”; em seu livro PAGO VAGO ele assim escreveu:

“Vago é meu pago.
Este pago que trago em músculos e ossos.
Inteiro como foi porque é memória,
flor e perenidade entre destroços.”

Dentre outros, destacamos os seguintes poemas:
01 - Canto aos Avós
02 - Herança
03 - Rumo e Querência para o Tropeiro Morto
04 - Memórias da Casa Antiga
05 - Poema para um retrato
06 - Romance do Arrendador

Foi um dos criadores do Grupo Os Angüeras - juntamente com José Gonzaga Lewis Bica (falecido em setembro de 2009) e Miguel Lewis Bica, cujo prefixo musical era assim cantado:

“Eu me chamo Generoso,
Morador em Pirapó;
Gosto muito de dançar
Co’as moças, de paletó . . . ”

O vocábulo angüeras, em guarany significa fantasmas; aparece pela primeira vez em carta do Pe. Alonzo de Barzana ao seu Provincial, em Assunción (Paraguai - 1594).

O Angüera da tradição sul-riograndense e missioneira, recolhida por Simões Lopes Neto, em “Lendas do Sul” (1926) - era um índio tristonho e carrancudo, servia de tapejara (vaqueano) aos padres jesuítas missioneiros e foi batizado com o nome de Generoso; depois do batismo, de taciturno e esquivo que era, tornou-se alegre e cantador. (“Guia do Folclore Gaúcho”, págs. 19 e 20 - Augusto Meyer - 1951)

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Texto extraído do livro - 30 Anos de Poesia - Editora Tchê 1986

Parte 1:

Filho do engenheiro agrônomo e zootecnista Marciano de Oliveira Rillo e de Lélia Sílva Rillo - o pai natural de Uruguaiana e a mãe de Guaíba - Apparicio Silva Rillo nasceu a 8 de agosto de 1931, num apartamento do Hospital São Francisco, em Porto Alegre.

Seus progenitores, na época, residiam na cidade de Guaíba, localidade onde nasceram, a posterior, mais cinco filhos do casal. Apparicio nasceu circunstancialmente em Porto Alegre, por entenderem seus pais que o primogênito viria à luz no então melhor hospital e maternidade do estado, resguardada a mãe e o nascituro por toda a gama de cuidados e recursos proporcionados por aquele estabelecimento hospitalar.

Com a indicação de haver nascido na capital do estado, seu registro civil de nascimento foi efetuado na cidade de Guaíba, em documento com o timbre do cartório da antiga Pedras Brancas - circunstância que, mais tarde, viria a trazer não pequenos incômodos ao poeta. Alguns de seus documentos pessoais apontavam Guaíba como seu local de nascimento, dado que o registro em si trazia o timbre, como já referido, do cartório daquela localidade. Até hoje, inclusive, não são poucos os que juram ter Apparicio nascido na cidade berço de José Gomes de Vasconcelos Jardim - um dos pró-homens da Revolução Farroupilha. O que, diz o poeta, muito o enobrece. "Minha raíz mais funda é guaibense", confirma.

Parte 2:

O poeta guarda gratas recordações dos nove anos que viveu em Guaiba, período em que nasceram seus irmãos Alzira, Maria Eunice, José Marciano, João Carlos e Carmem, Seus pais residiram inicialmente numa casa assobradada, "com jeito de castelo", próxima ao rio que confere nome à cidade. Mais tarde - e esta é a lembrança forte dessa quadra - numa casa da rua São José, dotada de um amplo quintal "com laranjeiras e galos e cachorros", sua "pátria de infância".

Embora "filho de doutor", seus pais nunca lhe negaram a convivência amistosa e diária com os guris pobres da rua que descia para o rio. Teve sua turma de "soldado e ladrão", caçou passarinhos nos matos da periferia da cidade, jogou futebol nos "campinhos" guarnecidos por goteiras de taquara. E, em Guaíba, de início com sua tia Anita Quadros o mais tarde no grupo escolar local, fez as primeiras letras. Da época do elementar ficou-lhe fundamente marcada a estampa da professora Cruzaltina do Valle, "que sabia dos livros e do mundo".

Parte 3:

Logo após a grande enchente de 1941, que assolou o estado todo, que engoliu toda a parte baixa da cidade de Guaiba, seu pai - então funcionário da Secretaria da Agricultura - foi designado para diretor do Campo Experimental de Sementes, sediado próximo à localidade de Capela de Sant'Anna, no município de Caí. Foi a primeira viagem de trem do poeta - um descobrimento! -, tanto quanto a primeira mudança da família, a que se seguiram várias outras, contingenciadas pela função pública do pai. Em Capela (assim, resumidamente), o menino Apparicio completou seu curso primário com pouco mais de dez anos. Ia à escola, três quilômetros longe de casa, montado no Lambari, cavalinho mostardeiro, porte de petiço.

Quanta carreira embrulhada na cancha reta da estrada tu me fizeste ganhar! Quanta tropa de mentira repontei estrada a fora te cutucando com a espora nervosa do calcanhar!" (Petiço Velho, in Cantigas do tempo velho, 1959)

Depois de ano e meio repartindo o tempo entre os folguedos da infância e os deveres do estudo, preparou-se para o exame de admissão ao ginásio. Prestou estas provas em Novo Hamburgo, no hoje desaparecido Ginásio São Jacob, dos Irmãos Maristas, obtendo aprovação plena. Nesse educandário fez os quatro anos do então curso ginasial, recebendo o diploma em dezembro de 1946, com apenas completados quinze anos. Em março do ano seguinte ingressaria no curso científico, no Colégio Rosário, de Porto Alegre.

Em Capela de Sant’Anna o poeta cumpriu o que chama sua "iniciação" em costumes campeiros. O estabelecimento de experimentação agrícola dirigido por seu pai, locado em três quadras de campo, era uma espécie de média estância. Além dos trabalhos agrícolas de rotina, havia um posto de remonta com um diversificado plantel de reprodutores, um plantel de vacas mansas e dezenas de cavalos para o serviço.

Desse contato com os hábitos campeiros comuns aos homens que trabalhavam no Posto de Sementes, das conversas com os peões encarregados das tarefas diárias, nasceu-lhe o gosto, que já vinha de berço (o pai era filho de estancieiro), pelos costumes mais autênticos da vida rural gaúcha. De Capela e desse tempo ficou-lhe o embrião de que surdiria mais tarde - flor agreste - a poesia de cunho regionalista.

Parte 4:

Os quatro anos de Ginásio, como aluno interno, marcaram fundamente a formação futura de Apparicio. Deve a esse estágio o descobrimento da leitura como fonte de lazer cultural e conhecimento. José de Alencar, lembra-se, foi o primeiro clássico brasileiro que leu. Daí para o Ateneu, de Raul de Pompéia, Os sertões, de Euclides da Cunha e até mesmo as Confissões, de Santo Agostinho, foi um passo. Embora dispersas, não ordenadas nem dirigidas, essas leituras abriram ao ginasiano Apparicio uma nova dimensão do mundo - este que passava a se lhe revelar para além das janelas da sala silenciosa da biblioteca.

"Foi descobrindo aos pouquitos mistérios que o mundo velho não ensinara ao tropeiro que fora o finado pai. Por exemplo: que a estrada, mesmo sem sol e sereno, deve ser sempre de sonho, sonho sempre mais além - estrada de toda a gente, mundo de todos, também." (Viramundo, in Caminhos de viramundo, 1979)

São desse tempo no Ginásio seus primeiros versos, quadrinhos com espírito lírico que escrevia no intervalo dos estudos, relembrando os pais, os folguedos, a namorada, a vilinha de Capela, onde passava as férias grandes e as de inverno. Sob o olhar severo dos irmãos marista - mestres que relembra com carinho -, o menino começava a descobrir os mistérios da criação literária - essa que o levaria, pelo tempo, à condição de um dos grandes poetas do Rio Grande do Sul, um dos poucos, por certo, que soube se dividir com igual propriedade entre o verso regionalista e o de cunho universal, ademais que em incursões exitosas pelo conto, pela novela, pelo teatro, pelos trabalhos de fundo histórico e folclórico que tem editados.

Parte 5:

Porto Alegre, para onde foi mandado a estudar, em 1947, com menos de dezesseis anos, significou ao poeta uma abertura mais ampla para a vida. Longe da família, na casa de uma tia idosa que o hospedava "para os estudos", aprendeu a estudar sozinho e sozinho bastar-se. Com três meses de estada na capital passou a descobrir Porto Alegre como paisagem urbana e como fonte reveladora de suas indagações existenciais de adolescente inquieto.

Os primeiros bares, os primeiros amigos espertos, os cinemas e teatros, a vegetação e as águas do Parque Farroupilha, que o faziam recordar os matos e arroios de Capela de Sant'Anna, o cais do porto e seus grandes navios de médio calado ("Ah, esses navios de silêncio/ como peixes de ferro olhando o cais.. ' ") - isso tudo era um mundo estranho e novo que se abria à percepção de vida do menino que se fazia homem. Ficou apenas esse ano em Porto Alegre, cidade para onde voltaria anos mais tarde, já mocinho.

Parte 6:

E de repente a mudança para a cidade de Ijuí, o abandono do Cientifico por um curso de Técnico em Contabilidade na cidade onde passara a morar com a família. Em Ijuí o seu primeiro emprego - como empacotador de louças num magazine. Dessa função foi promovido, um mês após, a caixeiro de balcão e, mais adiante, a escriturário. Apparicio passava a ganhar o seu próprio dinheiro. E a comprar livros, cuja leitura não deixou nunca. Um ano após conseguia uma vaga na prefeitura da cidade para onde se transferira.

Seu primeiro trabalho, nessa nova função, foi o de numerar todas as casas da cidade a tinta negra pintada sobre formas numéricas de metal. A tarefa custou-lhe os maiores ralhos que jamais levou em sua vida, a que se somavam dentadas de cachorros que lhe atiçavam as revoltadas donas de casa.

Expulso com mais três colegas do Colégio Koeller - de orientação espartana e severa -, acabou o poeta, recém completado o segundo ano de Contabilidade, indispondo-se com o pai e se transferindo, com alguns cruzeiros no bolso, para Porto Alegre. De volta à capital, com dezoito anos, sentou praça no 18 Regimento de Infantaria - um dos mais duros estabelecimentos militares do Estado. Em um ano foi de soldado raso a sargento, não quis continuar na vida militar e, dando baixa, conseguiu emprego de "correspondente comercial" numa empresa de vulto, ao mesmo tempo que vaga numa pensão república da Rua da Praia, onde passou a residir. Nesse mesmo ano, 1952, foi aprovado em exames vestibulares e ingressou no curso de Ciências Econômicas e Contábeis da PUC-RS, numa continuação lógica - mas não ao gosto do poeta - do curso de Contabilidade em que se formara no Colégio Rosário. Seus poemas, então, passavam a ser publicados em jornais e revistas, inclusive no centro do país.

Parte 7:

Porto Alegre e sua vida agitada se tornara pesada ao poeta. Noivo de Suzy Maciel de Araújo - com quem viria a casar-se em maio de 1954 -, o tempo tomado pelo trabalho e os estudos à noite, na faculdade, pensava em deixar a capital para casar-se e tentar a vida no interior. Soube, então, de uma vaga como contabilista num distrito rural de São Borja, a seiscentos quilômetros de Porto Alegre. No caso, um grande empório comercial situado na vila Nhu-Porã (Campo Lindo, em guarani). Pediu demissão da empresa onde trabalhava e, a dez de outubro de 1953 (dia do padroeiro de São Borja, viria a saber mais tarde), Silva Rillo descia do trem na estaçãozinha de Nhu-Porã. Com armas, bagagens e esperanças. Mais estas que aquelas.

A Casa Irmãos Pozueco fazia jus à fama que tinha nas Missões e Fronteira. Era grande compradora de lã, couros, peles ovinas e selvagens, pelegos, trigo e linhaça. Dispunha de armazém e loja por atacado e varejo, suprindo quase que inteiramente os grandes fazendeiros da regalo. Ademais, era ponto de encontro para toda a gauchada de um ao redor de cinco léguas.

Na época o tipo social do gaúcho mostrava-se ainda por inteiro em suas características mais autênticas. Nos fins de semana uma centena de homens, pelos menos, vinha para Nhu-Porã, a maioria para divertir-se nos inúmeros bolichos onde encontravam a cachaça boa, a carpa para o jogo do truco e as canchas para a bocha e o jogo do osso.

Nesse meio viveu Silva Rillo durante cinco anos, em contato permanente com os tipos mais singulares de nossa vida campeira: o fazendeiro e os peões de campo; o capataz e os esquiladores de safra; o tropeiro e os domadores; o carreteiro e os contrabandistas de médio e pequeno porte; o jogador profissional e os simples "orelhadores de sota" dos comércios de carreira.

Vivenciou o dia-a-dia dessa gente, seus hábitos e costumes; aprendeu a selecionar lã, couros e peles; escutou centenas de histórias; divertiu-se com as patacoadas dos campeiros; tornou-se aficionado da carreira de retas e do jogo de truco, em que foi hábil atirador. Em suma, adaptou-se rapidamente ao modo de vida da Nhu-Porã daquele tempo, a ponto de considerar-se "como nascido ali".

Todas essas experiências de vida marcaram-lhe fundo a sensibilidade aberta. E resultaram, a contar de poucos meses após sua chegada a Nhu-Porã, nos poemas que viriam a integrar Cantigas do tempo velho, na sua totalidade, e em outros que foram aproveitados em Viola de canto largo e Caminhos de viramundo. O Movimento Tradicionalista, eclodido em 1947, estava em ponto de ebulição e Silva Rillo, que continuava publicando seus poemas - agora no gênero regionalista - na imprensa de Porto Alegre, se alteava, ao lado de Jaime Caetano Braun e Glaucus Saraiva, como uma das grandes vozes de exaltarão à tradição, que renascia como culto.

Com o advento das grandes cooperativas de produção no município de São Borja, a contar de 1957 a Casa Irmãos Pozueco foi perdendo sua importância. Os ganhos com a função que nela exercia já não eram suficientes ao poeta, e uma tentativa comercial sua veio por águas abaixo com a proibição de exportação de couro.

Não quis Silva Rillo, entretanto, voltar a Porto Alegre. O poeta havia feito ao contrário o êxodo rural. Havia bebido água do Uruguai, São Borja o enfeitiçara com seu jeito de bugra. Em setembro de 1958 mudou-se para a sede do município.

Chegava o poeta, após cinco anos no interior rural, à cidade onde reside até hoje, a que lhe concedeu, em 1982, no tri centenário de sua fundação histórica, o título de Cidadão Sanborjense. Já se consorciara, então, com Suzy, e do casamento nasceram Leliana e Clarissa - essas em Nhu-Porá -, e mais tarde, em São Borja, Cláudia e Synara.

Pouco após sua transferência para a cidade a Editora Globo, em meados de 1959, lançava sua primeira obra, Cantigas do tempo velho, saudada com inusitada efusão o pela crítica especializada, ademais que com ampla recepção pública, tanto que o livro, durante várias quinzenas, foi o mais vendido na Livraria do Globo, em Porto Alegre.

Era o começo de uma carreira literária que se impôs à medida do tempo, dividida entre textos para teatro, poesia e mais adiante, a contar do lançamento de Viagem ao tempo do pai, também no campo da prosa. Neste gênero os Rapa de tacho, de 1 a 3, causos gauchescos, foram dos mais expressivos sucessos de venda no campo editorial gaúcho, somando hoje setenta mil exemplares vendidos.

O merecimento literário de Silva Rillo valeu-lhe uma cadeira na Academia Rio-Grandense de Letras, em 1981, além de um sem-número de títulos, laureeis e prêmios - dentre os quais se ressalta o Prêmio Ilha de Laytano, em 1980, conferido, segundo seu regulamento, à mais importante obra sobre assuntos do Rio Grande do Sul lançada no biênio - no caso a Já se vieram! - tradição, folclore e a atualidade da cancha reta no RGS. editada pelo Instituto de Tradições e Folclore do Estado do Rio Grande do Sul.

A contar de 1962 - ano em que fundou, com amigos, o até hoje atuante grupo de arte Os Angüeras, de São Borja -, Silva Rillo veio se destacando como um dos mais importantes compositores do meio musical gaúcho. Autor, hoje, de cerca de cinqüenta composições em disco, com parceiros musicistas da relevância de um José Bicca, Luiz Carlos Borges, Marinho Barbará, Pedro Ortaça, Cenair Maicá, Noel Guarany e outros deste naipe, o poeta será talvez o maior vencedor de festivais de música nativista no Rio Grande do Sul.

Com os Angüeras, de 1971 a 1975, recebeu expressivas colocações na Califórnia da Canção Gaúcha, em Uruguaiana. Foi o grande vencedor deste evento em 1975, com Roda canto, musicada por Marinho Barbará, havendo a dupla, na oportunidade, recebido nada menos que cinco premiações pela mesma composição. Ainda com Barbará, foi o vencedor da Linha Campeira em 1976 e 1977, e da Linha de Manifestação Rio-grandense em 1978, na mesma Califórnia da Canção. Venceu, com Luiz Carlos Borges como parceiro, a I Ronda da Canção, em Alegrete, em 1980; a III Vindima da Canção, em Flores da Cunha, em 1982 e, mais recentemente, a V Vigília do Canto Gaúcho, 1986, em Cachoeira do Sul. Neste festival, foi igualmente o terceiro colocado, com Ribamar Machado, com composição que levou o título de a mais popular. É autor, com música de José Bicca, dos hinos oficiais dos municípios de Sã Borja e Cerro Largo, e, com Luiz Carlos Borges - seu parceiro de várias vitórias -, da composição vencedora de Uma canção para Santa Rosa, na cidade do mesmo nome. No gênero popular tem parcerias com o grande compositor Túlio Piva e, com músicas suas e de outros parceiros, venceu por várias vezes o Festival de Músicas para o Carnaval, que São Borja realiza anualmente desde 1969.

Como jurado de festivais, Silva Rillo atuou por três vezes na Califórnia da Canção, em Uruguaiana; por duas vezes no Musicanto, de Santa Rosa e na Coxílha Nativista, de Cruz Alta e, por uma vez, na Tertúlia Nativista, de Santa Maria, e na Vigília da Canção, em Cachoeira do Sul. Além destes, integrou a Comissão Julgadora de vários outros festivais, em Santo Ângelo, Porto Alegre (Festival do Tchê!), Caibaté, Tucunduva, Itaquí, São Luiz Gonzaga e em São Borja, sua terra adotiva.

Como conseqüência natural desta atuação de um quarto de século no campo da música regional(especialmente), Silva Rillo é considerado, sem qualquer favor, um dos mais importantes conhecedores do gênero no Estado, participando seguidamente, a convite, de painéis e debates sobre o assunto.

Esta, a notícia biográfica de nosso antologiado que, aos 55 anos, vê selecionados seus poemas para edição de uma obra que há de significar muito para as letras rio-grandenses, Evidente que esta "notícia..." não se encerra. Todos ainda esperamos muito deste singular poeta gaúcho que não precisou, para salientar-se na vida literária, buscar os centros maiores, como fazem tantos. De Nhu-Porã, de São Borja - sua terra adotiva - lançou-o à admiração o aplauso do Rio Grande do Sul, cujos homens, hábitos o costumes, transitam com tanta propriedade no sentimento mágico de seus versos.

Lista extraída do livro:
"Apparicio Silva Rillo, 30 Anos de Poesia" - Editora Tchê - 1986

Poesia:
Cantigas do tempo velho (Edit. Globo, 1959)
Viola de canto largo (Ed. Kunde, 1968)
São Borja aqui te canto (Edit. Gráfica A Notícia, 1970)
Caminhos de viramundo (Martins Livreiro Editor, 1979)
Pago vago (Martins Livreiro Editor, 1981)
Itinerário de rosa (Martins Livreiro Editor, 1983)
Doze mil rapaduras & outros poemas (Edit. Tchê, 1984)
Alma pampa (Martins Livreiro Editor, 1984)

Ficção:
Viagem ao tempo do pai (contos, Martins Livreiro Editor, 1981)
Rapa de tacho (causos gauchescos, Ed. Tchê, 1982)
Rapa de tacho 2 (causos gauchescos, Ed. Tchê, 1983)
Rapa de tacho 3 (causos gauchescos, Ed. Tchê, 1984)
Dois mil dias depois (contos, Ed. Tchê, 1985)
O finado trançudo (novela, Ed. Tchê, 1985)

Folclore e História:
Já se vieram! História, Tradição, Folclore e Atualidade da Cancha reta no RGS (Edição da Fundação Instituto Gaúcho de Tradições e Folclore, 1978)
São Borja em perguntas e respostas (Ed. Argraf, 1982)

Teatro:
Domingo no bolicho (primeira montagem em 1957)
João-gaudério a João peão, vida e paixão (primeira montagem em 1970)



SILVA TAVARES,  FRANCISCO DA
Advogado

Nasceu na cidade de Bagé e ai faleceu aos 18 de novembro de 1901. Era filho do Visconde do Cerro Alegre, um nome que recorda as mais belas tradições de valor e de heroísmo.

Havendo completado os seus estudos preparatórios, partiu para S. Paulo, onde se bacharelou em ciências jurídicas e sociais, vindo pouco depois para a sua terra querida.

Mal chegou ao Rio Grande, filiou-se ao partido conservador, em cujas fileiras militava toda a sua parentela. Foi eleito diversas vezes á Assembléia Provincial, à Câmara Temporária, onde se revelou um homem de grande valor pessoal.

Em pouco tempo tornou-se um dos chefes mais prestimosos do partido a que pertencia; essa posição conquistou-a pela energia, pela sua coragem, grandes qualidades de combatente, desses da velha têmpera de “antes quebrar que torcer".

Dando notícia do seu passamento, uma folha daquela época o fez com o seguinte remate:

“Depois de proclamada a República, de que não fora um adesista vulgar, mas um esforçado paladino da última hora, a mais agitada e vibrante, o Dr. Silva Tavares teve o seu dia de prestígio e não foi desvalorizada a sua ação.

Retirado à vida privada, desde que se sentiu vencido ao embate das paixões políticas que se entrechocaram em determinado momento histórico do encaminhamento definitivo da organização republicana do Rio Grande do Sul, consoante a feição radical que se lhe imprimiu, o distinto e prestimoso rio-grandense, dedicava-se ultimamente aos labores de industrialista, colhendo-o a morte quando lhe sorriam esperanças de fortuna.”

O Dr. Francisco da Silva Tavares, que tinha nas veias o sangue valoroso de seus avoengos, como todos os que pertenciam a esse heróico ramo de uma das famílias mais ilustres do Rio Grande do Sul, era altivo, pertinaz e não raro violento, mas de uma violência cheia de orgulho, porque ele ainda tinha a consciência do seu valor e a responsabilidade do nome que trazia.



SILVA TAVARES,  JOÃO DA
General Joca Tavares
Visconde de Cerro Alegre

O Gen. João da Silva Tavares, nasceu na antiga província do Rio Grande do Sul, por volta de 1791.

Bem cedo se alistou na carreira militar, servindo como soldado, em um corpo da 2ª Linha, na campanha iniciada pelo Gen. Carlos Frederico Lecor, mais tarde Visconde da Laguna.

Afeito, desde moço, à arte da guerra, Silva Tavares prestou à bandeira do Império com lealdade inexcedível, os mais assinalados serviços, batendo-se como um leão em nossas campanhas com as repúblicas do Prata.

Todos os serviços de Silva Tavares, na guerra como na paz aparecem revestidos de um cunho de bravura e austeridade inconfundíveis.

“Por sua coragem e merecimentos — diz um artigo do ‘Jornal do Comércio’ (Rio de Janeiro - 04 de janeiro de 1837), subiu ao posto de capitão, passando pelos de furriel, sargento, alferes e tenente, em todos os quais cumpriu sempre os seus deveres, serviu sem mancha, porém bem antes, com louvor de seus superiores e admiração de seus camaradas.

Foi comandante de companhia e de distrito. Foi eleito “Juiz de Paz” do distrito do Herval, em cujo cargo prestou, durante 4 anos de sua judicatura, relevantes serviços, perseguindo os facínoras e salteadores, que infestavam os arredores daquele lugar, e mantendo o sossego e harmonia entre os seus concidadãos, que gratos à sua retidão e justos avaliadores de seus nobres feitos, o elevaram a eleitor, a major e a te¬nente-coronel da Guarda-nacional.”

Ë de ver que não era uma missão cômoda a de distribuidor de justiça, numa época como aquela em que a província estava sempre em movimento armado, não só por causa de suas agitações intestinais, como também porque as suas fronteiras eram continuamente assoladas por maltas de bandoleiros, de aventureiros e de outros elementos perniciosos que fugiam das repúblicas vizinhas, acossados pelas autoridades de lá.

Contudo, Silva Tavares se houve no desempenho dessas funções ao contento geral, sendo, mais tarde : pelas suas castiças qualidades de caráter e de ação, eleito deputado provincial e nomeado pelo então presidente Dr. Antonio Fernandes Rodrigues Braga, comandante militar da fronteira de Jaguarão, em lugar do Cel. Bento Gonçalves da Silva, que já andava arquitetando os seus planos de revolta.

Três dias antes de explodir a revolução de 1835, foi ele procurado por aquele coronel, seu amigo íntimo e compadre, convidando-o a pegar em armas contra o governo do Império. Silva Tavares não só se negou a isso, como declarou que se oporia com a sua gente ao movimento revolucionário.

De fato assim sucedeu. Quando estalou a revolução, já os republicanos encontraram Silva Tavares à testa de gente armada e a 13 de outubro de 1835, as suas forças reunidas às de Manoel Marques de Souza (Conde de Porto Alegre), derrotavam nas margens do Arroio Grande, os revolucionários ao mando do Cap. Manoel Antunes.

Entretanto, Silva Tavares a despeito de sua bravura, nem sempre foi feliz nos seus encontros com os revolucionários.

No combate de Seival, por exemplo, travado em 10 de setembro de 1836, o republicano Cel. Antônio de Souza Netto derrotou as forças legais comandadas por Silva Tavares e três meses depois, a 17 de dezembro, na surpresa do Arroio Grande do Herval, foi o valente oficial da legalidade feito prisioneiro pelo valoroso chefe revolucionário David Canabarro.

Nesse feito ficou também prisioneiro seu filho João Nunes da Silva Tavares, salvo em seguida por intervenção do oriental Calengo, vários oficiais e praças.

O velho Silva Tavares, porém, passou martírios, na prisão, porque muitos oficiais revolucionários faziam questão de sua morte, tal o valor do velho soldado imperialista nos combates.

Foi David Canabarro quem sempre se opôs a este desígnio de seus companheiros de armas.

Foi Silva Tavares, com outros companheiros, por fim, entregue ao capitão rebelde Menino Diabo de sinistra memória.

Dizem os cronistas da época, que havia a intenção de fazerem fuzilar Silva Tavares e os seus companheiros de infortúnio no Estado Oriental.

O bravo soldado, porém, peitando o sargento, comandante da guarda que o vigiava, conseguiu fugir com seus companheiros em 5 de fevereiro de 1837, segundo uma versão espalhada por um jornal dessa época, ou em 10 de março do referido ano, conforme relata um manuscrito pertencente ao arquivo da família Tavares.

O fato é que, a sua vida militar em campanha não terminara. O denodado rio-grandense ainda prestou serviços de relevância, na guerra do Paraguai.

Silva Tavares faleceu em avançada idade, deixando uma descendência ilustre, e tendo o Império cumulado-o de honrarias e títulos de nobreza, merecidos pelas suas preclaras virtudes.



SILVA TAVARES,  JOÃO NUNES DA
Joca Tavares
Barão de Itaquí

Na opulenta galeria dos homens de armas que ilustram a história rio-grandense, João Nunes da Silva Tavares (o Joca), é um vulto de magnífico relevo.

Filho legítimo do Gen. João da Silva Tavares (Visconde do Cerro Alegre), nasceu ele na pitoresca vila do Herval (RS), aos 24 de maio de 1818, sendo chamado ao serviço militar aos 19 de setembro de 1835 - justamente na véspera da Revolução Farroupilha, chefiada pelo Cel. Bento Gonçalves da Silva.

Contava apenas 17 anos de idade, mas fervia-lhe nas veias o sangue belicoso de seu bravo genitor. Envergava a farda, que tanto honrou, em pleno período revolucionário, havendo o velho general seu pai se posto ao lado da legalidade, o filho o acompanhou e três dias depois recebia o batismo de fogo, nas pontas do arroio Telho, com as forças revolucionárias de Gervásio Verdum. Em seguida, em marcha para Pelotas e Arroio Grande, assistiu, nas proximidades de São Lourenço, ao combate de 19 de outubro contra as forças do Cel Antonio Gonçalves Dias. Havendo emigrado para o Estado Oriental, voltou em 1836, tomando logo parte no combate do Rosário, em que ficou prisioneiro o Cel. Corte Real, chefe das forças inimigas.

A despeito de seus verdes anos, a assistência de Joca Tavares na revolução foi ativa e reveladora de incorruptível lealdade à causa imperial, que havia abraçado. Prova-o a sua atitude, quando foi ferido e feito prisioneiro no combate do Seival, resistindo aos insistentes convites dos chefes republicanos para militar com eles pela causa da revolução.

Repeliu novamente todas as propostas. Seu pai pelejava nas hostes imperiais, esse era, pois, o seu lugar. Intimaram-no, então, à neutralidade; Joca Tavares resistiu ainda, porque dizia - "importava isso, no sacrifício de seus brios e de seus sentimentos”.

À vista de sua pertinácia, foi resolvida a sua detenção, sendo, posto em liberdade, graças à intervenção do chefe oriental Galengo.

Após um curto descanso na estância de Taquarí, onde se achava a sua família, o jovem Joca Tavares voltou ao serviço em companhia de seu pai. Atacado e sitiado este nas pontas do Arroio Grande pelas forças republicanas de David Canabarro, em número superior às suas, capitulou e ficou prisionei¬ro. Conseguindo, pouco depois, o velho Tavares fugir da prisão, organizou nova brigada, sendo então nomeado seu filho, o nosso perfilado, alferes-ajudante de campo.

Tomou parte ativa nas operações de 1837 e nas do ano seguinte. Em 1840 entrou no combate contra o Cel. Florentino Manteiga e em 1841, como comandante da guerrilha, assistiu à derrota do Maj. Felix Vieira e em seguida, sob o comando do Ten-coronel Serafim Ignácio dos Anjos, à das forças do Maj. Quero-quero.

Serviu mais tarde no exército do Gen. João Paulo e em seguida nas forças do Cel. Manoel dos Santos Moreira.

Encarregado de tomar conta da cidade de Pelotas, aí aguardou a chegada do então Barão de Caxias, nomeado presidente da Província e comandante das armas.

Ao terminar o glorioso decênio de lutas, Joca Tavares foi promovido a major, tendo conquistado todos os postos subalternos por atos de bravura; estava então, com 27 anos de idade e dez de serviços militares na guerra.

Quando, em 1864, o Brasil rompeu violentamente com o Estado Oriental, o nosso bravo patrício ofereceu seus serviços ao Gen. João Propício Menna Barreto e seguiu com o exército deste, tomando parte no assalto e na tomada de Paissandu.

No ano seguinte, invadido o Brasil pelos paraguaios, o já então Cel. Silva Tavares (Joca), organizou um corpo de voluntários e seguiu para Uruguaiana.

Depois da rendição dos paraguaios em Uruguaiana, recebeu ele ordem de voltar para Bagé, em cuja fronteira exerceu o comando de uma brigada, incorporando-se, depois, ao 3º Corpo do Exército comandado pelo Gen. Osório, com o qual marchou para o Paraguai; lá o seu raio de ação se expandiu e a sua promoção a coronel, fê-la o Duque de Caxias, por atos de heroísmo, em pleno campo de batalha. Joca Tavares, assistiu aos reconhecimentos à viva força, no Passo-Pucú, Espinilho e trincheira de Humaitá.

Em 1868 entrou em Palmas com o exército, tomou parte saliente no combate de 11 de dezembro e portou-se por forma tal que recebeu a medalha de mérito militar.

Em 21 do mesmo mês, combateu em Lomas Valentinas, na linha Pequecerí, empenhando-se com a sua brigada no cerco da Angostura, até a rendição do forte.

Em 1869 seguiu para a Assunção, onde aguardou a chegada do Conde d’Eu, novo general em chefe. Prosseguindo com sucesso sua tenaz ação guerreira em Peribebuí, em Campo Grande, na Picada de Caraguataí, etc. pouco depois, bateu em Lotopitanguá as forças do coronel Caneto e venceu em Loma¬ Uruquá as do coronel Chénes.

No último período da cruenta guerra, Joca Tavares era o homem de maior confiança do general Visconde de Pelotas, o qual lhe confiava sempre o comando da vanguarda das forças.

Foi numa dessas ocasiões que Joca Tavares, transpondo o Arroio Negla, ao chegar às pontas guias, aprisionou o coronel Salinas e por ele soube, estar Lopes na margem esquerda do arroio Aquidaban.

Das forças da vanguarda, fazia parte o 9º Batalhão de Infantaria, comandado pelo então Maj. Floriano Peixoto.

Aprisionado Salinas, Joca Tavares fê-lo conduzir à presença do Visconde de Pelotas e prosseguiu rumo a suas marchas, a fim de impedir que Lopes ganhasse o caminho da Bolívia.

Aos 27 de fevereiro de 1870, foi alcançado pelo Visconde de Pelotas e aos 28 mandou o Ten.-coronel Francisco Antonio Martins com os atiradores e o Maj. Floriano Peixoto com uma ala do 9º Batalhão, tomar a artilharia inimiga que, no passo Taquara, servia de vanguarda às forças de Lopes.

Ao amanhecer de 19 de março, aí chegou Joca Tavares, encontrando já o Visconde de Pelotas, que o mandou que atacasse imediatamente o passo de Aquidaban.

Após rápidas peripécias, Joca Tavares atacou o acampamento de Lopes; este já fugia, perseguido pelo Maj. Joaquim Nunes Garcia, mas, ferido, internou-se no mato.

O Visconde de Pelotas foi encontrar Solano Lopes caído junto ao arroio; e assim morreu, como um bandido, o torvo tirano que sonhara fundar um império.

Terminada a guerra, o governo imperial, que em atos deste jaez era pronto e de uma nobreza olímpica, querendo premiar seus excelsos serviços à Pátria, elevou, por decreto de 11 de maio de 1870, Joca Tavares ao posto de “Brigadeiro Honorário” e agraciou-o com o título de Barão do Itaquí, já o tendo feito com o “Oficialato do Cruzeiro”.

Em 1871, foi nomeado comandante superior da Guarda Nacional de Bagé, tendo também servido como comandante da guarnição e fronteira de 1874 a 1878.

Em maio de 1886, a insistentes pedidos do Gen. Deodoro, então comandante das armas, voltou de novo ao co¬mando, dele solicitando exoneração, que foi concedida em julho de 1889; neste mesmo mês e ano declarou-se republicano e renunciou seu título de barão.

Proclamada a República, aos 15 de novembro de 1889, foi Joca Tavares, no dia 16, empossado no comando da guarnição e fronteira de Bagé, cargo de que foi exonerado aos 18 de janeiro de 1892.

Joca Tavares chefiou a revolução federalista de 1893, até a conclusão da paz, assinada por ele e pelo Gen. Inocêncio Galvão, na cidade de Pelotas.

Faleceu este rio-grandense ilustre, na cidade de Bagé, aos 08 de janeiro de 1906.


Coincidência notável:

Foram o Visconde de Pelotas, Joca Tavares e Floriano Peixoto, os três imperialistas que, nos últimos dias de guerra, mais perseguiram Solano Lopes, o mais encarniçado inimigo do Império.

Os três assistiram à morte do tirano nas margens do Aquidaban, entretanto o Visconde de Pelotas foi o primeiro governador republicano do Rio Grande do Sul, Joca Tavares o 1º Comandante da Guarnição e fronteira de Bagé, como garantia da ordem e consolidação do novo regime (republicano) e o Marechal Floriano Peixoto, foi o consolidador da República.



SILVA TAVARES,  JOAQUIM DA
Juca Tavares
Barão de Santa Tecla

Nasceu em Erval (RS) em 1830 e faleceu em Bagé (RS) em 1900; era filho do “Visconde do Cerro Alegre” e irmão do “Barão de Itaquí”.

Foi grande proprietário de terras, Coronel da Guarda Nacional, político de destacada atuação na região e também, Presidente do Rio Grande do Sul.

Recebeu o título em 1866, de D. Pedro II.



SILVA TELLES,  CARLOS MARIA DA
General

Nasceu a 31 de outubro de 1848 na cidade de Porto Alegre e faleceu a 7 de setembro de 1899.

Desde criança, amava a carreira das armas, onde já estavam alistados outros irmãos, honrando a farda que vestiam.

Sentou praça a 23 de junho de 1865, seguindo logo para o teatro da guerra, onde teria o prazer de abraçar os irmãos mais velhos, que lá estavam cumprindo o seu dever.

No Passo da Pátria recebeu um sério ferimento, que não o acovardou, sendo por esse motivo promovido a alferes, em comissão.

Desta época em diante, começam os feitos gloriosos do nosso ilustre patrício, desde a marcha das forças de Tuyu-Cué “tomando parte saliente em todos os combates e no reconhecimento às trincheiras do Passo-Pocú”.

Depois, partiu para o Chaco, entrando nos combates de 18 e 26 de julho de 1868, presenciando em 5 de agosto a rendição do inimigo.

Teve papel saliente nos assaltos às linhas de Piquicirí e nos combates de 6, 11, 21, 25 e 27 de dezembro que rematou com a entrada do exército em Assunção. Em maio de 1869 marchou para Taquaral, seguindo em 19 de agosto para Pirajá.

Na ação da picada de Sapucaí pôs mais uma vez à prova o seu valor. No assalto às fortificações de Peribebuí distinguiu-se de tal forma, que foi elogiado em ordem do dia “pelo valor e heroísmo inexcedível e entusiasmo que mostrou no combate”.

Terminada a guerra do Paraguai, voltou para descansar no seio da família, mas isto durou pouco tempo.

Em 26 de junho de 1874 teve ordem de seguir para S. Leopoldo e daí para Ferrabrás, onde se achavam fortificados, em lugar de difícil acesso e protegidos por enormes matarias, os “mucker” que praticavam ali as maiores violências.

Tomou parte nos sangrentos combates que se deram naquelas solidões em 19, 20 e 21 de junho, 40 tendo sabido cumprir, como sempre, o seu dever.

Em 1889, fez parte da divisão de observações que partiu para Mato Grosso, sob o comando do Marechal Manoel Deodoro da Fonseca.

Neste mesmo ano, seguiu para o Amazonas, a fim de servir no 24º Batalhão de Infantaria, quando soube em caminho da proclamação da República.

Mais tarde, tomou parte saliente na campanha de Canudos, servindo na coluna do General Cláudio de Amaral Savaget.

Em Cocorobó, fez prodígios de valor, rompendo, a cargas de baioneta, a dificílima passagem. Avançou contra Canudos e tomou parte no terrível assalto de 10 de julho, onde foi gravemente ferido.

Voltando à terra natal, coube-lhe ainda papel mais importante. Dentro dos muros de Bagé, opôs a mais brilhante e vigorosa resistência aos ataques dos revolucionários, que faziam o maior empenho em se apoderarem daquele importante ponto estratégico.

Nada, porém, conseguiram diante da coragem revelada pelo ilustre rio-grandense, que em todas as ocasiões difíceis de sua vida de campanha saía triunfante, porque havia depositado na lâmina de sua espada a sua honra de soldado.



SILVA TELLES,  JOÃO BATISTA DA
General

Nasceu em Porto Alegre, a 9 de fevereiro de 1844 e assentou praça no dia em que completou vinte anos de idade.

Teve diversas promoções, por atos de bravura, na guerra do Paraguai, onde seus irmãos Pantaleão Telles e Carlos Telles haviam igualmente se distinguido nos campos de batalha.

Apenas com cinco anos de serviços, conseguiu as insígnias de capitão, em frente do inimigo, à custa do seu sangue.

Concluída a guerra, voltou ao Brasil com a consciência de ter sabido cumprir o seu dever, expondo muitas vezes a vida na defesa da Pátria, nas guardas avançadas, onde foi ferido mais de uma vez.

Tendo, mais tarde, rebentado a revolta de 6 de setembro de 1893, fo¬ram reclamados os seus serviços como um general, em cujo valor o governo podia ter absoluta confiança. Para bater os insurgentes seguiu ele à frente de numerosas forças para a ilha do Governador. Aí, foi ferido, a 14 de dezembro, à queima roupa, por gente emboscada no espesso mato, que margeava a estrada.

Causou estranheza que apenas fosse baleado o general, quando nada sucedeu aos oficiais, que o acompanhavam no reconhecimento do local e sobre os quais fora feita também cerrada descarga de fuzilaria.

Se não fosse o penosíssimo trajeto para o Rio de Janeiro, ora a cavalo, ora puxado em carreta de bois, ora em escaler, é bem possível que não tivessem se agravado os seus ferimentos.

Apesar dos desvelos de que se viu cercado no seio da família, que o idolatrava, veio falecer, a 24 de dezembro de 1893, deixando a radiosa tradição do valor e do heroísmo.



SILVA VELOSO,  MANOEL PARANHOS DA
Advogado

Formado em direito por Coimbra (Portugal), iniciou a carreira na sua cidade natal, em 1830, como Juiz de Fora de Rio Pardo.

Deputado, em 1834, pelo Rio Grande de S. Pedro, à Câmara do Império; Juiz de Direito da Comarca do Rio Grande, Chefe de Polícia de Porto Alegre e, Secretário Particular do Presidente do Rio Grande de S. Pedro > José de Araújo Ribeiro, em 1836.

Teve também, os mandatos de Deputado Geral pelas províncias de Santa Catarina e Pará, donde desempenhara os cargos de Ouvidor, na primeira província e de Presidente, na segunda.

Comendador da Ordem de Cristo. Ainda foi Desembargador na Relação do Rio de Janeiro.

Faleceu, na côrte, em 1859.



SILVA,  FRANCISCO DE PAULA E
Barão de Ibicuí

Nasceu na localidade de Bom Retiro, município de Taquarí (RS) em 1796 e faleceu em Cruz Alta (RS) em 1879.

Era irmão do “Barão de Antonina”; seus pais eram extremamente pobres e nestas condições apenas lhe deram uma educação rudimentar.

Participou da Guerra do Paraguai; recebeu o título em 1861, de D. Pedro II.



SILVA,  PIO ÂNGELO DA
Médico

O ilustre médico nasceu na cidade do Rio Grande a 03 de maio de 1818. Em 1835, quando estalou o movimento revolucionário na Província, o Dr. Pio alistou-se nas fileiras da revolta, tendo prestado bons serviços à causa patriótica.

Em 1841, seguiu para o Rio de Janeiro, matriculando-se na Faculdade de Medicina, onde apenas freqüentou quatro anos, indo completar o curso em Paris; aí, foi ele condiscípulo de distintos patrícios, destacando-se entre todos o Barão de Teresópolis.

Regressando à terra natal, em 1855, teve que enfrentar, com uma coragem rara, a cólera-morbus que ia espalhando o terror e a morte entre a população daquela cidade.

Nessa ocasião pôs em evidência os seus grandes predicados de médico, não esmorecendo, não recuando ante os horrores da epidemia, que lavrava com intensidade no seio do povo apavorado.

Para combater essa enfermidade, ele já havia adquirido grande prática, em Paris, ao lado de médicos de fama.

Chegando ao Rio Grande, continuava apenas o tratamento dos coléricos, doentes que já não lhe eram estranhos, conseguindo assim excelentes curas em proveito dos seus créditos de profissional.

Dessa época, data a grande popularidade do infatigável médico, que pa¬recia ter o dom da ubiqüidade, para poder atender a todos que o procuravam, com o mais vivo empenho.

Anos depois, por ocasião da guerra do Paraguai, foi o Dr. Pio encarregado da enfermaria militar, visto os médicos do exército terem marchado para a fronteira, a fim de tomarem parte no sítio de Uruguaiana.

Pouco depois de haver assumido a chefia da enfermaria, chegou um batalhão de voluntários da pátria, com sessenta e tantos praças atacados de varíola, sendo todos tratados com a mais intensa solicitude, pelo humanitário médico.

Durante o tempo que exerceu o lugar de diretor da enfermaria, deu as maiores provas de desprendimento. O dinheiro que aí recebia, era empregado em melhoramentos do hospital.

Pertenceu sempre ao partido chefiado pelo conselheiro Gaspar Martins, de quem era amigo dedicado e por quem seria capaz de todos os sacrifícios.

Pelos seus constantes rasgos de caridade e beneficência, foi sempre con¬siderado, na cidade do Rio Grande, como o pai dos pobres.



SILVA,  TOBIAS DA
Marinheiro Herói Farroupilha

A Grécia antiga e a velha Roma dominadora assombraram o mundo com seus feitos de valor e de heroísmo.

A tragédia das Termópilas, a coragem de Múcio Scevola diante de Porcentia, o combate singular dos Horácios e Curiacios, e outros rasgos de valor e patriotismo desses dois povos, ainda, agora, impressionam vivamente aos que se consagram com paixão ao estudo da História; o Rio Grande, não os deve invejar em rasgos de estoicismo e bravura. Conta também os seus heróis da mesma fibra moral dos gregos e romanos.

É exato que alguns dos nossos vivem completamente esquecidos pela fria indiferença do presente, mas há de chegar ainda o dia da reabilitação de todos eles.

A Justiça, embora tardia, irá arrancá-los, fatalmente, á espessa penumbra do olvido, mostrando-os, em plena apoteose, nimbados pela luz imorredoura da glória.

Rasgos de heroísmo não faltam, e de qualquer obscuro recanto da nossa História, os titãs surgem como sombras luminosas e ainda, agora, ocorre um episódio, que é preciso fique em destaque nas tantas páginas de nossa epopéia guerreira.

Numa tarde o sol expirava, entre labaredas. Parecia que um incêndio alastrava-se pelo firmamento para devorá-lo.

Na altura das Pedras Brancas e a Barra do Ribeiro, um pouco afastado da costa, cruzava serenamente um lanchão, com a vela enfunada, levando no mastro o tricolor pavilhão da República de 1835.

Súbito, em direção oposta, aparece uma escuna de guerra, com o velame solto e as suas bocas de fogo escancaradas; era um dos navios da esquadrilha do almirante Greenfell, mandado ao sul para sufocar o movimento revolucionário que ameaçava o Império.

A escuna muda de rumo e procura dar caça ao frágil navio farroupilha, apenas tripulado por meia dúzia de bravos e uma heroína, a mulher de Tobias da Silva.

O navio legal, favorecido pelo vento de feição, avança sobre o rebelde e o intima a render-se. Uma descarga de fuzilaria responde à intimação.

Nesse transe doloroso para os republicanos, que eram poucos, porém bravos, só havia dois alvitres: deporem as armas ou morrerem com elas na mão.

E a escuna cada vez mais se aproxima dos rebeldes, segura da vitoria; de repente, Tobias abraça e beija a esposa querida que o acompanha em todos os perigos, vai ao fogão de bordo e aparece com um facho na mão.

Estreita, ainda uma vez, ao peito a heroína e aproxima-se do paiol da pólvora, encarando com soberano desprezo o inimigo que está preste a dar abordagem.

Um instante depois, ouviu-se o enorme estampido de um trovão e o frágil batel dos heróis de 1835, desapareceu num turbilhão de fogo e fumo.

O sol quase a apagar-se nas alturas, ainda contemplou a apoteose de Tobias da Silva que morria e os seus, como morrem os valentes, de cujo sangue brotam as raças fortes e triunfantes...



SILVEIRA GOMES,  DUARTE DA
Farroupilha

“Juiz de Paz” na sua cidade natal, Rio Pardo (RS). Revolucionário perseguido pela justiça do Império.

Na residência de Duarte Gomes tinham lugar reuniões secretas dos próceres do movimento, além de ser lugar onde se refugiavam homens como o Major José Mariano de Matos que, sendo réu pronunciado, foi morar em casa de Duarte Gomes (então “Juiz de Órfãos” do Rio Pardo).

Contra ele, Duarte Gomes e também o governo legalista, movia perseguição, como era de esperar e, consta mesmo seu nome das ordens reservadas do Gabinete da Presidência do Província, em 1836; mas, no fim do mesmo ano, recebe uma portaria de louvor de Araújo Ribeiro por dispensar bom tratamento ao Marechal João de Deus Mena Barreto, Coronel Bibiano da Fontoura e Major J. J. de Figueiredo Neves, quando recolhidos à cadeia de Rio Pardo, por ordem do futuro general farroupilha João Manoel de Lima.

Duarte Gomes ainda assim, foi em 1837, recolhido prisioneiro a bordo do Preziganga (fedorento e infecto navio prisão, fundeado no rio Guaíba).

Duarte Gomes era além do mais, conceituado comerciante no Rio Pardo; seu filho, com o mesmo nome, viu-se de idêntica maneira envolvido no movimento farroupilha.

Duarte Gomes obteve anistia depois, sem contudo deixar de fazer inúmeras petições e mandar ouvir testemunhas de sua “lealdade” aos monarquistas.

Sua residência foi de fato abrigo indistinto a monarquistas e republicanos; entretanto, no período inicial da revolução e na tomada de Rio Pardo (28 de abril de 1838) pelos farroupilhas, Duarte Gomes mostrou-se fiel aos princípios defendidos em 1835, pelos rio-grandenses que lutaram contra o Império do Brazil.



SILVEIRA MACHADO,  PROPÍCIO
Filólogo

Natural de Tupanciretã (RS), nascido aos 11 de janeiro de 1904; além de filólogo, era farmacêutico, jornalista, ensaísta e professor.

Pertenceu à Academia Sul-Rio-Grandense de Letras e Brasileira de Filologia. Filiado também à Associação Rio-Grandense de Imprensa.

Colaborador em diversos jornais e revistas do RGS; também assinava com as iniciais: P. S. M.


Suas obras:

01 - Estudos de Linguagem - Monografia da Crase - 1939

02 - Síndrome e Suas Variantes (etimologia) - 1944

03 - Glotologia Médica: Ascórbico e Escorbuto (origem) - 1944

04 - A Medicina e as Letras (discurso) - 1948

05 - A Lição e O Exemplo de Rui Barbosa de Amor à Língua Portuguesa (tese) - 1949

06 - O Gado e o Gaúcho (estudo) - 1953

07 - Pereira Coruja - Vida e Obra - 1958

08 - Origem de alguns termos do “Vocabulário Rio-Grandense”(tese) - 1958

09 - Roque Callage - Vida e Obra - 1962

10 - O Gaúcho na História e na Lingüística (Subsídios) - 1966

11 - História do Traje Gaúcho - O Amor e a Saudade em Suas Origens e no Simbolismo das Cores (ensaio) - 1969



SILVEIRA MARTINS,  GASPAR
Advogado
O Espada de Fogo
Diplomata Poliglota
Maragato

Gaspar Silveira Martins nasceu em Bagé (RS), aos 05 de agosto de 1835, numa estância. Filho de Carlos Silveira de Morais Ramos e de Dª Maria Joaquina das Dores Martins (filha de João Antônio Pereira Martins).

Entrando na vida, quando estava prestes a estalar o raio revolucionário de que surgiu a gloriosa epopéia dos Farrapos, o ardente tribuno gaúcho tinha de ser o que foi: um gênio temerário e tempestuoso.

Nascia com a revolução: de supremas revoltas teria de ser tecido seu temperamento. E de fato, Silveira Martins (a Palavra Trovão) esgotou uma vida inteira de lutas contra tudo o que visava ferir a liberdade e a lei; dizia: “Nenhum rio-grandense é estranho às armas.

Jamais houve nestas encantadas terras do Cruzeiro quem, nos violentos choques políticos defendesse, como Silveira Martins, os direitos constitucionais. Trazia sempre consigo a constituição do Império e esta, como ele disse em discurso, que ficou célebre - “já fazia parte de seu bolso”.

Patriota de singular envergadura, seu poderoso influxo político se fez sentir em toda parte e em tudo, a grandeza do Brasil (mormente da Província do Rio Grande do Sul), era sua única, persistente, obsedante preo¬cupação.

Chefe da poderosa falange liberal, formada de homens de valor, Silveira Martins não limitou contudo sua raia de ação dentro do acanhado círculo do partidarismo egoístico.

Não. O insigne patriota estendeu o vôo para além do programa de seu partido, a sua palavra era acatada por gregos e troianos, toda a vez que deixava de ser a voz de um partido para ser o eco da vontade do povo.

Eis porque alguém, ao traçar-lhe o rápido perfil, disse que Silveira Martins “cresceu amando o povo e foi um dos únicos que lealmente o representou no parlamento”.

Caráter diamantino, espírito independente, dera disso uma prova incomparável, quando na qualidade de juiz municipal no Rio de Janeiro, fizera cair o peso da lei sobre um dos desembargadores da corte, seu supe¬rior hierárquico, passível de pena.

Quando se decidiu a abraçar a vida política, o que fez com ruidoso desassombro, ligou-se aos paredros do partido liberal de então: Conde de Porto Alegre, Tenente-coronel Lopes Teixeira, Felix da Cunha, General Osório, Dr. Caldre e Fião, Felipe Nemy, Manoel Amaro da Silveira, Luiz da Silva Flores, Pinheiro Machado, Andrade Neves e outros.

À adesão do grande tribuno ao partido, este agitou-se, dentro em pouco e desse movimento romperam as duas forças contrárias: os liberais “históricos” e os liberais “progressistas”.

De um lado ficaram Lopes Teixeira, Conde de Porto Alegre, Felipe Nery e Caldre e Fião e do outro Felix da Cunha, Silveira Martins, General Osório, Luiz Flores e Manoel Amaro da Silveira.

O fogoso tribuno rio-grandense estava lançado. Seu nome já se fazia notar, num luminoso realce, desde sua famosa sentença contra o desembargador a antes referido; bem depressa, porém, se fez notável, com a sua entrada na Câmara Temporária.

Silveira Martins penetrou nesse recinto como um violento sopro de revolta e não houve questão de interesse para os destinos nacionais em que o ardoroso tribuno não tomasse parte saliente.

O sensacional repto atirado ao Bailo de Mauá, em plena sessão da Câmara, em 27 de janeiro de 1873, de que saiu vitorioso o tribuno gaúcho, pela consulta feita ao eleitorado do 29º Distrito, a 12 de setembro do mesmo ano, revelou de modo iniludível o seu prestígio do sul ao norte do país.

Silveira Martins impôs-se, ao Governo Federal, de tal modo sua vontade tinha foros de potência que não raro os próprios adversários votavam com ele e prestigiavam suas idéias.

São conhecidos e nem vale minuciá-los, os fragorosos triunfos que, nas lutas do parlamento, alcançou contra a individualidade da estatura de um Martinho de Campos, de um Cotegipe, de um José Mariano, de um Parana¬guá, de um Sinimbu, de um José de Alencar e de tantos outros experimen¬tados e notáveis parlamentares, que teve de enfrentar do alto da tribuna.

Nomeado Ministro da Fazenda do gabinete Sinimbu, Silveira Martins patenteou de logo não ser de feitio amoldar-se à semelhante posição e havendo tomado a peito a ruidosa questão dos católicos, arremessou longe “a libré de lacaio” como então disse, voltando para o seio do povo, único lugar onde se achava bem. Aqui consigna-se que, a sua ascensão ao ministério tinha sido entusiástica, brilhantemente recebida e saudada na im¬prensa do Rio, pelos grandes chefes do partido republicano nacional, Saldanha Marinho e Quintino Bocaiúva.

Persistente, inflexível nas suas idéias e opiniões, o excelso patrício deu disso frisante exemplo na tumultuária “questão militar”.

Sua palavra nunca se retratava e nenhuma manifestação de desagrado o intimidava; era eloqüente e corajoso. Sua voz trovejante dominava as multidões e mesmo quando o incomparável tribuno queria aveludá-la, lá estava nela o tom forte, retumbante, do combatente, soltando o grito de guerra.

São sem conta os serviços prestados por Silveira Martins ao Brasil, maiores ainda ao Rio Grande do Sul, a que ele sempre dedicou o fogo do seu talento, o ardor da sua palavra e o sangue de suas veias.

Nomeado presidente da então Província em 1889, a República veio encontrá-lo nesse posto, mas em viagem para o Rio, a chamado do Visconde de Ouro Preto, então Ministro da Fazenda e presidente do Conselho.

Preso na altura de Santa Catarina, foi em seguida exilado, mantendo sempre, sem recuo de uma linha, o seu ideal político.

É certo que, mais tarde, em notável conferência realizada nesta capital, entre o chefe liberal e Júlio de Castilhos, houve um princípio de acordo, uma espécie de “entente cordiale” política, de onde resultaria quiçá o apaziguamento dos partidos divergentes.

Infelizmente as combinações falharam e daí a revolução de 1893, em que o grande brasileiro, como alma da facção liberal, teria de ser “magna pais”.

Entretanto, quem estudar minuciosamente e com imparcialidade a titânica figura do grande brasileiro, verá que o ideal político de Silveira Martins era essencialmente democrático, patentemente republicano.

Suas idéias foram adotadas pelo atual regime, porque não padece dúvida que, fora da república, o tribuno estadista só admitia uma monarquia federativa.

No notável manifesto que, juntamente com Felix da Cunha, apresentou ao eleitorado do 2º Distrito da então província do Rio Grande do Sul, a 30 de maio de 1863, há trechos assim:

“A dissolução veio provocar o país a manifestar-se por uma das duas opiniões políticas, que se disputavam o governo da nação.

Hoje, mais do que nunca, o deputado deve ser uma idéia, servida por uma convicção sincera, uma consciência honesta, um caráter íntegro e uma inteligência a par dos reclamos da situação.

O sufrágio popular não pode, não deve ser a expressão do favor, da afeição ou da condescendência. O povo que paga serviços privados com seu voto, insulta a majestade da soberania popular, de que é símbolo vivo e verbo poderoso. O candidato que exige esse sacrifício falseia a verdade da eleição. Ambos infringem o seu dever.

O voto popular deve ser a revelação de um pensamento político: só isso pode dar-lhe o cunho do patriotismo e da civilização.”

Eis a ética política de Silveira Martins; o parágrafo III dessa estupenda plataforma é toda uma profissão de fé republicana, democrática. Senão, veja-se:

“A eleição que confere funções vitálicas é a soberania que abdica. Toda delegação é temporária. Esse deve ser o caráter do Senado. Deve-se dar maior duração ao mandato de seus membros, do que têm os da Câmara e renova-los por séries. Só assim será benéfica a divisão do poder legislativo; ao ramo mais moço a iniciativa, a luta, o entusiasmo; ao ramo mais velho a sabedoria, a madureza, a experiência, a tradição. Estas qualidades são difíceis com a vitaliciedade ou se forem perdidas não serão restauradas. A vitaliciedade separa, por um abismo, os eleitos do povo e fará um senador dizer que prefere a libré do criado do paço à farda de representante da nação. Cria urna oligarquia de uma irresponsabilidade absoluta, capaz de impedir a marcha de qualquer governo e tem justificado esta sentença de Guizot na vida de Washington, um senador aristocrático é o mais intratável dos senhores, todos possuem o poder supremo e nenhum é responsável”.

No XIV parágrafo vem, nitidamente, expressada a idéia federativa:

Descentralização administrativa, dando mais ação ao elemento executivo das administrações provinciais, para emancipar as províncias da dependência da . . .

Creio seria isto suficiente para demonstrar o ideal político do assombroso tribuno gaúcho, esclarecendo melhor este ponto.

Silveira Martins preferia a república à monarquia, é ele próprio quem o diz, no discurso que pronunciou na Câmara dos Deputados, na sessão de 2 de outubro de 1877, tratando de formas de governo:

Num discurso ou escrito de Mr. Thiers:

“Se pudesse dar para a minha Pátria o governo em que mais confio, dar-lhe-ia o governo da Inglaterra, com preferência à dos Estados Unidos da América. Mas a forma de governo da Inglaterra é hoje impossível pela lu¬ta de três dinastias, eu primeiro que tudo, sou francês e amo a minha Pátria, portanto sustento a República, que é o único regime que pode produzir paz, ordem, progresso e liberdade.

Eu acho-me de todo o ponto no pólo oposto ao que se achava Thiers e digo que, se eu fosse contemporâneo da independência, ou pudesse dar à minha Pátria a forma de governo de minha preferência, antes de arremedar a Inglaterra, que tem uma nobreza de raça, antes de caricatura-la com barões de seus próprios nomes, dar-lhe-ia a forma da América do Norte, porque pre¬firo, em matéria de forma, a República à Monarquia”.

E foi este grande democrata que a República condenou ao ostracismo e que a mais cruel das fatalidades envolveu nos horrores de uma guerra civil, que ele não queria.

Todavia, impelido por uma força contrária à sua vontade, Silveira Martins aceitou a luta armada, sabia que  Idéias, não são metais que se fundem!

Foi vencido e feita a paz em 23 de agosto de 1895, decretada a anistia geral, voltou o grande rio-grandense ao seu torrão natal, assistindo como figura predominante, ao congresso federalista, que se realizou em Porto Alegre, em agosto de 1896.

Pouco depois retirou-se para Montevideo, onde habitualmente vivia depois da proclamação da República e de seu regresso da Europa, aí fixou residência, até que a morte o colheu repentinamente, a 23 de julho de 1901.

Qualquer que sejam os erros que, por ventura, haja cometido, no seu largo tirocínio político, o egrégio tribuno patrício, ninguém poderá negar a influência extraordinária de sua ação política nos destinos nacionais, e as enormes concessões que arrancou ao Império, em benefício de seu torrão natal.

Escreveu-se algures, com algum viso de verdade, que “Silveira Martins foi aclamado como tribuno, passando todavia despercebido como estadista”.

Pouco importa isso ao juízo da História. O que há de se ver nesse portentoso tipo de combatividade é o seu soberbo patriotismo, é o seu elevado sentimento de independência, é a sua excepcional cultura, é o seu acrisola¬do amor ao Rio Grande do Sul, é a confiança que ele tinha em si próprio, a certeza de seu prestígio e de sua forte e inflexível vontade, quando dizia triunfalmente, desafiando o presente e o futuro: o poder é o poder e a barra há de abrir-se porque a barra não tem querer.

Sem ter sido erudito, no lato sentido do termo, foi contudo de uma ilustração magnífica, de uma superior cultura eclética, havendo conquistado a merecida fama de notável poliglota, de que deu, mais de uma vez, admiráveis provas notadamente na célebre correspondência que manteve com o grande romancista brasileiro, Joaquim Manoel de Macedo, a propósito, creio, das línguas grega e hebraica.

Certa feita, num trem que saía de Montevideo viajavam dois judeus que negociavam linho cânhamo. Num banco fronteiro, iam dois homens vestidos à gaúcha. Os judeus falavam como enganar fregueses, especialmente um certo fazendeiro plantador de linho, mencionando o nome do dito cujo. Um dos gaúchos (o de barba grisalha), ou ouvir o nome da vítima, dirigiu-se para a dupla de salafrários que falava em francês e lascou:

Je vous avertis que je comprends le français.

Um tanto surpresos, os judeus passaram a se comunicar em inglês; mas o mesmo gaúcho intrometeu-se, novamente:

I understand English.

Espantados, os judeus passam a conversas em alemão; mas, nessa língua também vem do banco vizinho:

Ich spreche Deutsch.

Risos tomam conta de todo o vagão; um dos judeus desafia o gaúcho intrometido, a continuar, desta vez falando em russo e a resposta é implacável:

Taqze ponimain po rusquei.

Admirado, o judeu desafiante soltou uma risada e disse:

‘Diabo, só faltaria que compreendesse também o hebraico!’

Então, o gaúcho retruca:

Ani vedera gam es loochen ivrice.

O tal gaúcho poliglota, não era outro senão, o Dr. Gaspar Silveira Martins, que certa vez na Europa (durante um almoço na casa de Bismarck), chegou a conversas em seis idiomas ao mesmo tempo e Renan, após vê-lo exilado, disse:

Um país que deporta um homem desse valor - ou é um país de sábios ou, de ignorantes.

Esse era o fruto do aperfeiçoamento constante a que se submetia Gaspar da Silveira Martins, Assim que terminou o curso jurídico, decidiu instalar-se no Rio de Janeiro (a capital do Império do Brazil), ingressando no escritório de advocacia do Dr. José Júlio de Freitas Coutinho, com cuja filha Adelaide Augusta, casou-se a 27 de novembro de 1858.

A vida amorosa de Silveira Martins foi sem dúvida, bastante movimentada; alto, forte, voz potente que veiculava uma sabedoria invejável, agradava qualquer mulher - ao que, sabia tirar proveito; certa ocasião, Joaquim Nabuco o convidou para uma importante festa, onde compareceram as mais belas e aristocráticas moças da época . Em certo momento Silveira Martins disse para Nabuco num tom de voz, ouvido por muitos: “Agradeço-lhe muito estas apresentações com as quais me distinguiu, mas eu desejo conhecer é aquela potranquinha que alí está!” (e apontou para a mais linda donzela da festa).

Essa atração pelas mulheres, o tribuno cultivou a vida toda, até na velhice; por esses atributos e pelos dons intelectuais, Nabuco o apelidou de “ Sansão do Império”.

Numa outra feita, Silveira Martins ia de Encruzilhada para Rio Pardo no maior galope, rodando e quebrando uma perna. Lavado para Rio Pardo, ficou hospedado na casa de uma hospitaleira senhora, que cuidou dele; depois de recuperar-se, dizia aos amigos que lhe visitavam na convalescença: “Fiquei bom da perna, mas doente do coração” (referindo a um apego amoroso, resultante dessa “filantropia”). Quando Ministro, Silveira Martins quis conferir a essa senhora o título de “Baronesa” mas o Imperador foi sempre protelando tal desejo do tribuno, até que o caudilho desabafou: Sua Majestade não quis assinar o título de “Baronesa”; mas, se um dia me chamar à presidência do Conselho, terá talvez de assinar o de “Marquesa”.

A esposa de Silveira Martins, D. Adelaide Augusta sabia suportar o temperamento poligâmico do marido; o curioso é que, ele teve aventuras com mais três ADELAIDE, sobre o que, brincava: “Eu nasci para as Adelaide.

Usando de franqueza até para falar de suas escapadas extra conjugais, ele disse aos filhos José, Júlio e Álvaro: “Meus filhos, os homens liberais são, por via de regra, mulherengos; só os tiranos são castos.”

Com o dom da palavra, Silveira Martins encontrava muita facilidade nas conquistas; o homem era uma assombro para arregimentar tanto as massas, quanto as mulheres. Prova isso, o entusiasmo do Visconde do Rio Branco, quando afirmou: “Ouvi Gambetta em Paris; não é maior que o nosso Silveira Martins!

Ao transitar pelo Rio de Janeiro, Eleonora Duse fez questão de ouvir o tribuno rio-grandense e impressionadíssima exclamou:

Dio mio! Che non serebbe quest’uomo nel othello!

Temendo as longas enfermidades, Silveira Martins idealizava o seu fim, assim:

“Morrer? Só por uma dessas três formas: Num lampejo do verbo na tribuna, domando um belo potro ou, nos braços de uma linda mulher.

Diziam na época, que o Brazil possuía dois monarcas: um era D. Pedro II e o outro era Silveira Martins (o rei do Rio Grande).

Quanto à sua competência administrativa, aos seus predicados de estadista, assim se pronunciou o notável jornalista e propagandista republicano Quintino Bocaiuva, na imprensa do Rio, por ocasião do tribuno gaúcho tomar posse do cargo de Ministro da Fazenda do gabinete Sinimbu: “Silveira Martins não tem especialidade. Seria tão notável ministro da justiça como da guerra e como há de ser da fazenda”.

Silveira Martins morreu em terra estranha, porque esse parece ser o ingrato fadário de todo o patriota apaixonado; mas os seus preciosos despojos mortais foram recolhidos um dia ao solo do nosso Rio Grande do Sul, sua gloriosa terra gaúcha.

No dia 23 de julho de 1901, morreu em Montevideo, ao lado da quarta Adelaide de sua vida. Tinha 67 anos e foi-se de uma das três maneiras que preconizara - nos braços de uma linda mulher.


SÍNTESE: do Dr. Gaspar Silveira Martins


Profissão:

Foi advogado, juiz municipal, deputado provincial e geral, senador, ministro de Estado e presidente do Rio Grande do Sul, além de conselheiro do Império do Brazil.

1844 - Com apenas dez anos, vai sozinho para São Luís do Maranhão, com o objetivo de estudar.

1847 - Chega ao Rio de Janeiro, onde se matricula, por conta própria, no famoso Colégio Vitório.

1852 - Matricula-se na Faculdades de Direito do Recife (PE), onde fica até o segundo ano.

1856 - Acaba se bacharelando em Direito, pela Faculdades de São Paulo, aos 22 anos.

1857 - É nomeado Juiz Municipal, no Rio de Janeiro. Casa-se com a carioca Adelaide Augusta.

1860 - É eleito deputado provincial aos 26 anos, pelo Partido Liberal Histórico. Surge o grande orador.

1863 - Também é eleito Deputado Geral (Federal), mas empata com Antônio Gomes Pinheiro Machado. No sorteio do desempate, perde a vaga.

1872 - Toma, enfim, assento na Assembléia Geral (Câmara Federal), eleito pelo Partido Liberal do Rio Grande do Sul. Estréia na tribuna com um contundente ataque ao Ministério Rio Branco.

1873 - Desafia o Barão de Mauá, para um novo teste diante do eleitorado gaúcho. Vence de maneira esmagadora.

1878 - Os liberais sobem ao poder, depois de dez anos de ostracismo. É nomeado Ministro da Fazenda, realizando o sonho de gurí.

1879 - Retira-se do Ministério, onde não se sentia muito à vontade. Seu desejo era voltar à tribuna, onde torna a arrancar aplausos e admiração até dos adversários.

1880 - Conquista uma cadeira no Senado, de cujo cenário não gosta muito, pela ausência de embates vibrantes.

1889 - Ocorre a abolição da escravatura a 13 de maio de 1888, abalando a monarquia.

A 12 de julho de 1889 é nomeado Presidente da Província do Rio Grande do Sul.

A 15 de novembro de 1889 é proclamada a República. Quatro dias depois, é preso em Santa Catarina, sendo desterrado para a França.

1891 - O Marechal Deodoro da Fonseca fecha o Congresso, originando a repulsa da opinião pública e o Dr. Júlio Prates de Castilhos é obrigado a renunciar ao governo gaúcho.

1892 - Volta do exílio, desembarcando no Rio de Janeiro. Chefia o Partido Federalista, recém fundado no Rio Grande do Sul. Irrompe a guerra civil no estado gaúcho.

1895 - Acaba a Revolução Federalista. Desencantado, ruma para a Europa e depois instala-se em Montevideo (Uruguai).

1896 - Participa do Congresso Federalista, realizado em Porto Alegre, pregando o verdadeiro nacionalismo.

1901 - Morre em Montevideo (Uruguai), aos 67 anos de idade, ainda em pleno vigor, ao lado de sua 4ª Adelaide.

Consta que mais tarde transladaram seus restos mortais, para a Catedral de Bagé (RS).

É dele esta máxima: IDÉIAS, NÃO SÃO METAIS QUE FUNDEM



SILVEIRA,  JOAQUIM JOSÉ DA
Militar

Joaquim José da Silveira era casado com Maria das Dores de Jesus, paulista, filha do Cap. Miguel Pedroso Leite - que em 1777 foi destacado para Rio Pardo, a fim de com mais três capitães de S. Paulo, defender a "Fortaleza Jesus Maria José" das investidas das tropas espanholas de Vertiz y Salcedo.

Maria das Dores era irmã do Desembargador João Pedroso Leite e também irmã de Maria Nepumuceno (casada com o Marechal Manoel Carneiro da Silva Fontoura).

Joaquim José da Silveira era Vice-presidente da “Sociedade Defensora da Liberdade e Independência Nacional” de Rio Pardo; essa sociedade teve destacada atuação nos acontecimentos farrapos de 1835.



SILVEIRA,  JOSÉ INÁCIO DA
Político

José Inácio da Silveira tomou parte na Revolução Farroupilha. Era republicano no Rio Pardo. Filho de Inácio Antônio da Silveira e Maurícia Inácia.

Em 1836, José Inácio foi pronunciado pela justiça ordinária, como sedicioso, sendo um dos chefes do movimento farroupilha no Rio Pardo.

Sócio do Menino Diabo Antônio Joaquim da Silva, proprietário de um barco que fazia a linha Rio Pardo, se tornou conhecido por suas façanhas revolucionárias.

José Inácio participou dos acontecimentos de 1835, com seus filhos, principalmente um chamado Bernardo carpinteiro (que esteve ferido e preso, sendo recolhido ao Hospital de Caridade de Porto Alegre).



SIMÕES LOPES NETO,  JOÃO
1º Escritor Rio-Grandense

Natural de Pelotas (RS), nasceu na Estância da Graça (do avô João Simões Lopes), aos 09 de março de
1865. Descendia de nobre português e de índio; o que herdou, perdeu em projetos que iam de fábrica de vidros a cigarros, ou expedições na busca de minas de prata na serra de Taió (SC), ou invenção e comercialização do carrapaticida Tabacina.

João Simões Lopes Neto, foi de tudo um pouco: industrialista, jornalista, dramaturgo, escritor e sobretudo utópico, sendo o primeiro escritor e maior regionalista gaúcho a ter obra publicada; seu estilo rio-grandense aparece no conjunto de virtudes, negativas e positivas.

Seus conterrâneos o conheciam apenas como João Simões e no Rio Grande de S. Pedro, tornou famoso como Simões Lopes Neto.

Freqüentou no Rio de Janeiro, o Colégio Abílio e a Faculdade de Medicina, cujo curso interrompeu por motivos de doença, retornando à sua querência.

Passou o resto da vida em sua terra natal, efetuando longas viagens pela Província de S. Pedro do Rio Grande do Sul.

Lecionou francês e português, na Escola de Comércio, foi redator do jornal Opinião Pública e exerceu inúmeras atividades burocrata e industrial.

Seus contos, sempre vazados numa puríssima língua de campeiro, revelaram um dos nossos prosadores de maior sensibilidade e um regionalista tão espontâneo, que amplia cada vez mais a sua receptividade.


SÍNTESE CRONOLÓGICA

1865 - Em 24 de junho, foi batizado, assiste a um desfile da banda militar da cidade, mandada trazer pelo avô; viria daí, seu ufanismo incorrigível?

1867 - Ganha seu primeiro cavalo, o Vermelhinho, que se torna o companheiro permanente, mas apenas durante a infância, pois mais tarde, jamais sairá da cidade.

1872 - A descoberta de uma escrivaninha do avô, fascina-o; no natal, ganha um móvel semelhante, de presente.

1874 - Vai pela primeira vez à escola, quando já tinha 9 anos de idade, deixando a Estância da Graça e indo para a cidade.

1876 - Morre a sua mãe.

1878 - Segue para o Rio de Janeiro, matriculando-se no Colégio Abílio; jamais cursou uma Universidade, regressando à Pelotas (sua terra natal).

1888 - Ocorre sua estréia no jornalismo, através da mão do tio Ismael Lopes Neto.

1892 - Casa-se com D. Francisca de Paula Meirelles Leite (Dª Velha); jamais terão filhos, mas adotam uma jovem chamada Firmina, de Rio Grande.

1897 - Sem ser proprietário de fazenda ou criador de gado, registra uma Marca.

1899 - Participa, junto com outros irmãos e de conhecidas figuras pelotenses, na fundação da União Gaúcha.

1904 - Vai trabalhar como burocrata em um cartório da sua cidade, mas logo abandona o cargo; no ano seguinte, viaja com a esposa, para assistir a uma Exposição agrícola.

1906 - Publica seu primeiro texto importante - O Negrinho do Pastoreio, dedicado a Coelho Neto; inicia a Coleção Brasiliana.

1909 - Publica outra das lendas do sul - M’Boitatá, recebendo novo elogio de Coelho Neto.

1910 - Filia-se à Academia de Letras do Rio Grande do Sul. Recebe prêmio pelo fabrico do carrapaticida Tabacina.

1911 - Inicia a publicação da Revista do 1º Centenário da cidade de Pelotas.

1912 - Com crescentes dificuldades econômicas, entra profissionalmente para o jornalismo, indo trabalhar no jornal A Opinião Pública,  publica a 1ª Edição de Contos Gauchescos.

1913 - Publica a 1ª Edição das Lendas do Sul. Desenvolve intensa atividade profissional como jornalista.

1914 - Publica em folhetim, no jornal Correio Mercantil - Casos do Romualdo. Apresenta suas últimas peças teatrais, inclusive editando Os Bacharéis (sua obra de maior sucesso no teatro).

1916 - Faleceu aos 14 de junho - vítima de uma úlcera duodenal; deixa a viúva e a filha adotiva em sérias dificuldades econômicas.

1926 - A editora Globo de Porto Alegre (RS), publica pela primeira vez em um único volume, a sua obra - Contos Gauchescos e Lendas do Sul.

1945 - Carlos Reverbel - pesquisando a obra do escritor falecido, descobre os originais de Casos do Romualdo (até então dados como perdidos).

1949 - A editora Globo da capital gaúcha, publica edição crítica dos Contos Gauchescos e Lendas do Sul.

1955 - A editora Sulina de Porto Alegre (RS), edita o primeiro volume remanescente de Terra Gaúcha (anotado por Walter Spalding).

1956 - É publicado na Itália, a primeira edição estrangeira dos Contos Gauchescos.



SIMÕES LOPES,  JOÃO
Visconde da Graça

Em lº de agosto de 1817, nasceu na cidade de Pelotas (RS), João Simões Lopes mais tarde galardoado com o título nobiliário de “Visconde da Graça”.

Com pouco mais de 18 anos, tomou parte na revolução de 1835, combatendo ao lado dos rebeldes, havendo sido preso mais de uma vez e posto a ferros para não fugir.

Concluída a guerra, tratou de granjear a vida, entregando-se à labuta do comércio com a coragem de quem tem confiança nos seus esforços.

No interesse de dar maior desenvolvimento às transações comerciais, percorreu diversas províncias do país, estabelecendo depois dessa excursão, uma charqueada. no município de Pelotas, no sítio denominado da Graça.

Filiou-se então ao partido conservador, por influência dos Mendonça e foi, não há dúvida, um dos chefes de maior prestigio no sul do Estado; e à proporção que trabalhava, ia aumentando consideravelmente a fortuna para repartir com os necessitados que, em situações difíceis, o procuravam com inteira confiança na sua liberalidade.

Era um homem inteligente, ativo e de iniciativa própria. Tem o seu nome ligado a importantes melhoramentos de Pelotas, sobressaindo entre eles: a desobstrução da foz do rio S. Gonçalo, a edificação da Biblioteca Pública, o Asilo de Mendigos e a organização da Companhia de Iluminação a Gás.

Para dar uma idéia exata de sua generosidade, basta mencionar que, só para o Asilo de Mendigos, concorreu o ilustre patrício com cerca de cinqüenta contos. Por esse motivo, o povo de Pelotas lhe fez imponente manifestação, sem exemplo nas crônicas dali.

Em atenção ao seu grande valor político, foi nomeado vice-presidente da Província, exercendo esse cargo de 24 de maio de 1871 até 12 de setembro do mesmo ano.

Apesar de ser um homem sem cultivo, fez um governo digno de um administrador consciencioso. Na grande escola do mundo aprendeu a ser útil a si e à Pátria.



SIMÕES PIRES,  ANTÔNIO
Militar

Sargento-mor, Vereador da Câmara do Rio Pardo, esteve francamente ao lado dos revoltosos de 35.

Existe também, pois é enorme a família Simões Pires, um Gaspar Simões Pires que comandava como tenente, uma companhia do Regimento do Cel. Jerônimo Gomes Jardim, companhia à qual pertencia o famoso Jacinto Guedes da Luz.

Antônio Simões Pires em 1837, assina no Rio Pardo, com outros conterrâneos, um ATESTADO sobre a conduta política do Juiz de Paz da mesma cidade - Duarte Silveira Gomes e seu filho Duarte Silveira Gomes Júnior.

Antônio era casado com Maria do Carmo Violante de Queiroz e Vasconcelos, neta paterna de Mateus Simões (de S. Miguel dos Açores).

Uma filha de Antônio Simões Pires - Rosa Violante de Vasconcelos casou com o coronel José Antônio Martins natural do Triunfo (RS) e valente legalista que foi conhecido no decênio farroupilha, por apelido Mingote Martins.

Antônio Simões Pires nasceu no Rio Pardo, em 1766 e faleceu na mesma cidade em 1766; sua esposa era filha do tenente de Dragões Alexandre Luiz de Queiroz e Vasconcelos - o Quebra.



SIMÕES,  JOSÉ GARIBALDI EVANGELHO
Poeta

Natural de Cachoeira do Sul (RS), nascido aos 07 de março de 1916; além de poeta, era funcionário público estadual (Delegado Regional de Polícia) e jornalista.

Usava o pseudônimo de: Bidico Turco.

Fundou em São Sepé (RS), os jornais A Palavra e A Notícia.


Suas obras:
01 - Chananeco (in memoriam) - 1946
02 - Horas Vagas (poemas e prosa) - 1961



SIMON,  PEDRO JORGE
Advogado
Professor Universitário

Natural de Caxias do Sul (RS), nascido aos 31 de janeiro de 1930. Filho de Jorge Simon e de Jalila

Nome dos conjugues:
1ª Esposa - Tânia Maria Chanan (falecida)
2ª Esposa - Ivete Füller (24-02-1961)

Filhos:
Tiago Chanan Simon (30-10-1969), advogado;
Tomaz Chanan Simon (16-03-1972), advogado;
Mateus Chanan Simon (18-12-1973), falecido;
Pedro Füller Simon (17-06-1994), estudante.

FORMAÇÃO
Primária - Colégio N. S. do Carmo - Caxias do Sul (RS);
Secundária - Colégio Rosário - Porto Alegre (RS);
Colegial - Colégio Rosário - Porto Alegre (RS);
Universitária - Direito - PUC - Porto Alegre (RS);
Pós-Graduação - Economia Política - PUC - Porto Alegre (RS);
Especialização - Economia Política e Direito Penal - Sorbonne, Paris (FÇ);
Complementares - Estudos de Direito - Faculdade de Direito de Roma (IT).

ATIVIDADES ESTUDANTIS
Presidente do grêmio estudantil do Colégio Rosário.
Em outubro de 1956, foi eleito Presidente da Junta Governativa da União Nacional dos Estudantes - UNE.
Diretor do primeiro Curso de Formação de Líderes Sindicais, realizado em Porto Alegre.
Presidente da Federação de Estudantes das Faculdades e Escolas Superiores Católicas do Brasil (órgão máximo dos universitários católicos do país).
Presidente do Centro Acadêmico “Maurício Cardoso” da Faculdade de Direito da PUC (durante três gestões).
Exerceu a Presidência do Conselho da União Gaúcha dos Estudantes Secundários.
Foi Secretário-geral da 5ª Reunião Penitenciária Brasileira, organizada pelo Governo do Estado do RGS.
Presidente do 1º Congresso dos Estudantes Católicos de Universidades Brasileiras.
Presidente do 1º Congresso dos Estudantes de Direito das Américas.

ATIVIDADES PROFISSIONAIS
Professor de Economia Política - PUC - Porto Alegre (RS).
Professor de Sociologia Política - UCS - Caxias do Sul (RS).

ATIVIDADES POLÍTICAS
Governador do Estado do Rio Grande do Sul - 1987-1990
Senador da República Federativa do Brasil - pelo RGS - 1982 - . . . .

PREDILEÇÕES
A Família, a religião católica (é Irmão Franciscano), a política MDB (hoje, PMDB), o Brasil, o Rio Grande do Sul, os ideólogos Alberto Pasqualini, Ulysses Guimarães, Teotônio Vilela, Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, João Goulart, Tancredo Neves, Mário Covas - entre outros.

IMPERFEIÇÕES
O nosso biografado salienta que seria exaustivo enumerá-las; entretanto, entre as apontadas pelos seus companheiros de trabalho - sua caligrafia é de difícil leitura.



SIQUEIRA CANABARRO,  AUGUSTO JOAQUIM DE
Cônego

Nasceu na povoação de Taquary, a 15 de abril de 1843. Seus genitores foram Antonio José Leal de Siqueira e Dª Vicência Maria de Jesus.

No antigo povoado em que nasceu estudou as primeiras letras. Mais tarde, porém, seguiu para Roma e matriculou-se no Colégio Sul-americano, onde concluiu o Curso de Humanidades, tendo deixado aí um bom nome como estudante. Passou depois para a Academia Gregoriana, onde se formou em Teologia. Em 1867, recebeu então das mãos do Papa Pio IX, a investidura sacerdotal.

De volta à Província foi nomeado vigário da vila de Gravatay e, em seguida de Uruguaiana, onde se demorou pouco tempo, por ter sido transferido para Pelotas.

No dia de Natal de 1873, disse ele aí a sua primeira missa.

Mal assumiu essa posição, consagrou-se inteiramente ao progresso da localidade em que veio viver com o devotamento dos espíritos resolutos; não houve idéia generosa, não houve causa simpática a que ele não ligasse o seu nome de forma brilhante.

Foi entre nós um dos apóstolos mais sinceros da campanha abolicionista. Os escravos, quando maltratados pelos senhores, iam logo confiantes bater à porta do ilustre sacerdote, que saía a campo para defender o direito dos oprimidos. E os defendia não só com a palavra, mas com a própria bolsa e, enquanto não viu vitoriosa a causa redentora, não descansou um momento.

No púlpito, na imprensa, na palestra com os amigos, não tinha outro assunto que não fosse este; falava e escrevia com o ardor das almas apaixonadas.

É bem possível que na hora em que a morte o surpreendeu, ele tivesse ainda o pensamento voltado carinhosamente para os pequenos, que não o deixavam.



SOARES DE SOUZA,  DÉCIO
Médico Catedrático

Natural de Porto Alegre (RS), nascido aos 07 de janeiro de 1907; fez os estudos primário e secundário nessa capital.

Doutorou-se em 1929, pela Faculdade de Medicina de Porto Alegre, defendendo a tese sobre Demência Precoce e Esquizofrenia; especializou-se em Psiquiatria.

Fez viagens de estudos à Europa, em 1933, estagiando nos serviços dos Professores Guilloin e H. Claude.

Publicou vários trabalhos, dentre os quais:
01 - Demência precoce e Esquizofrenia (tese de doutoramento)
02 - Antropologia e Psicanálise
03 - Os fundamentos da ciência médica e a imagem nova do homem
04 - Antropologia médica
05 - O. S. C. R. em psiquiatria
06 - Insulinoterapia da Esquizofrenia
07 - A psiquiatria e sua orientação para o concreto
08 - A Psicologia e sua orientação espiritualista
09 - O Behaviourismo
10 - Os reflexos condicionados

Docente livre de clínica psiquiátrica; Membro da Sociedade de Neuropsiquiatria e Medicina Legal do Rio de Janeiro; sócio benemérito da Cruz Vermelha Brasileira, desempenhou as funções de “Interno da Assistência a psicopatos do RGS; ex-chefe da clínica psiquiátrica da Faculdade de Medicina de Porto Alegre”.

Exerceu a função de alienista chefe de seção no Hospital São Pedro, da capital Rio-Grandense, dedicando-se à clínica de sua especialidade.



SOARES Fº,  JOAQUIM PEDRO
Médico

Nasceu na província do Rio Grande e era filho do Cel. Joaquim Pedro Soares que representou papel importante na revolução de 1835.

Era médico distinto e gozava de fama de exímio operador. Pertencia ao partido liberal, apesar do seu sogro, o Dr. João Dias de Castro, ser um dos chefes do partido conservador.

Foi eleito diversas vezes à Assembléia Provincial, assim como à Câmara temporária. Tinha dotes de orador e uma bela figura, trajando sempre no rigor da moda.

Assumiu a presidência da Província e fez uma boa administração, ouvindo sempre, em todos os assuntos sérios, os seus auxiliares.

Podia errar, mas queria dividir a responsabilidade de seus atos, com os funcionários de mais elevada categoria, aos quais pedia o valioso conselho da experiência.

Como médico, tinha verdadeiros rasgos de desprendimento sendo solícito sempre em atender o rico e o pobre.

Era um homem de fina educação, um fidalgo no trato e assim como era na vida dos salões, era também o mesmo na vida profissional.

De uma feita, o notável médico rio-grandense operava uma pessoa por quem se interessava uma linda menina, a qual ouviu-lhe dizer com um gesto superior: o bom êxito de uma operação não está muitas vezes só na ciência, é preciso que o golpe seja certo e elegante.



SOARES PINTO,  COLBERT
Advogado

Colbert Soares Pinto nasceu aos 16 de janeiro de 1908; filho do Dr. Ildefonso Soares Pinto e de Arlinda de Freitas.

Casado com Celina Buaes com quem teve um casal de filhos: Ildefonso Cesar Soares Pinto e Croissy Soares Pinto.

Como seu ilustre genitor, Colbert Soares Pinto foi um vitorioso por seu esforço próprio; em sua posição de destaque, ocupou na sociedade rio-grandense , nos meios jurídicos e na política, unicamente ao seu saber querer servido por inteligência de escol.

Aos 17 anos de idade ficou órfão de pai e assumia o encargo de chefe da família. Em 1925, ingressava na Faculdade de Direito de Porto Alegre (RS), onde com notas distintas fez todo o curso e bacharelou-se em 1929.

Ao perder o valioso amparo paterno, o jovem Colbert foi ocupar o lugar do Oficial de Gabinete do Dr. Octavio Rocha (então, Governador do RGS) e em 1926, já cursando o 2º ano de direito, assumia as responsabilidades de Procurador Jurídico da Municipalidade.

Em 1927, foi nomeado Inspetor Escolar da 4ª Circunscrição e já em 1928, um ano ante de doutorar-se, prestou serviços à sociedade de S. Leopoldo (RS), como Promotor Público.

Foi depois, advogado nos auditórios de Santana do Livramento e em outras comarcas do RGS.

Na política, fez a sua profissão de fé republicana em 1924, em discurso de saudação às forças gaúchas que retornavam vitoriosas de S. Paulo.

Em 1925, reorganizou o Centro Acadêmico Republicano e o presidiu até 1927 desde então, essa entidade política passou a ter eficiente papel em todas as campanhas partidárias.

No levante de 03 de outubro de 1930, envergava a farda de Capitão, para comandar o 3º Esquadrão do 1º Corpo Auxiliar da Brigada Militar do Estado do RGS, num digno exemplo de atividade.

Ao se iniciar a campanha nacional que teve o seu epílogo aos 24 de outubro de 1930, o Dr. Colbert Soares Pinto redigiu o MANIFESTO liberal da Juventude Rio-Grandense e presidiu a 1ª Caravana Gaúcha que excursionou ao norte brasileiro; em sua volta, dirigiu a Frente Única de Novo Hamburgo (RS).

Em 1934, exercia as funções de “Delegado Geral do PRL” (Partido Republicano Liberal), junto ao Tribunal Eleitoral do Rio Grande do Sul.



SOARES,  FRANCISCO DE PAULA
Médico

Nasceu na cidade de Montevideo, a 7 de abril de 1825, quando seu pai, que era oficial do nosso exército, ali se achava em serviço do Brasil.

Era filho legítimo de Bernardo José Soares, natural de Portugal e de D. Joana Trigo Soares, nascida em Buenos Aires. Com a idade de 3 anos veio residir na cidade do Rio Grande, voltando, em 1836, para Montevideo.

Aí permaneceu até o ano de 1845, estudando os preparatórios, a fim de se doutorar em Medicina. Em 1852, perante a Universidade de Buenos Aires, defendeu tese, sendo-lhe conferido com aprovação plena o grau de doutor em Medicina.

Uma afecção pulmonar o obrigou a fazer uma viagem à Europa, voltando, dois anos depois, radicalmente curado.

Mais tarde, veio fixar residência em Porto Alegre, achando-se vaga a cadeira de História e Geografia do Liceu D. Afonso, fez um brilhante concurso e foi nomeado, entrando em exercício a 19 de outubro de 1856.

Algum tempo depois, extinto o Liceu D. Afonso e criada a Escola Normal, continuou na regência da mesma cadeira, dando sempre provas de sua incontestável competência para o ensino das matérias que estavam a seu cargo, sendo posteriormente nomeado diretor do referido estabelecimento de ensino, lugar que ocupou até ser aposentado.

Pertenceu sempre ao partido liberal e por diversas vezes, foi eleito a Assembléia Provincial, ocupando em duas legislaturas a presidência da mesma corporação.

Em 1866 exerceu o cargo de inspetor geral da instrução pública; faleceu a 10 de janeiro de 1881 com a idade de 56 anos, tendo prestado relevantes serviços à nossa terra, mormente em assuntos de instrução.



SOARES,  JOAQUIM PEDRO
Farroupilha

Português, veterano das campanhas na Cisplatina, aderiu às forças farroupilhas e nelas se destacou pela visão tática.

Foi quem organizou a posição das tropas na célebre Batalha do Seival; depois da vitória, junto com Manuel Lucas de Oliveira, teve influência na decisão de Netto, em proclamar a República RIO-GRANDENSE.

Promovido a tenente-coronel, coube-lhe organizar e comandar o Corpo de Lanceiros Negros, integrado por 119 escravos libertos - que foram desarmados e trucidados pelas tropas do famoso Chico Pedro, Porongos.



SOUZA ARANHA,  OSWALDO EUCLYDES DE
Advogado e Diplomata

Natural do Alegrete (RS), nasceu na “Estância Alto Uruguai” aos 15 de fevereiro de 1894. Era filho do Cel Euclydes de Souza Aranha  e  de Dª Luiza de Freitas Valle Aranha.

Oswaldo Euclydes de Souza Aranha foi alfabetizado pela mãe, na estância do pai; alí passou a infância e já adulto, vários períodos de férias.


SÍNTESE CRONOLÓGICA

1904 - Ingressa no Ginásio N. S. da Conceição, em S. Leopoldo (RS), em cujo internato permanece até 1906.

1907 - Freqüenta o Colégio Militar do Rio de Janeiro.

1911 - Ingressa na Faculdade de Direito do Rio de Janeiro.

1912 - Envolve-se em movimentos estudantis e fica à frente de campanha contra os gaúchos Hermes Rodrigues da Fonseca e Senador José Gomes Pinheiro Machado.

1913 - Realiza o curso de aperfeiçoamento em Direito, na Sorbonne de Paris.

1916 - Sai Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais, no Rio de Janeiro.

1917 - Retorna ao seu Rio Grande do Sul e inicia a carreira bem sucedida de Advogado, em Uruguaiana (RS).
Casou-se com Dª Delminda Gudolle (Vindinha).
Apesar de liberal, filia-se ao PRR (herança paterna).

1923 - Integra as forças legalistas onde é ferido.

1924 - É nomeado Subchefe de Polícia do Estado do Rio Grande do Sul, onde desenvolve intenso trabalho na pacificação dos gaúchos, divididos entre republicanos e libertadores.

1925 - Foi eleito Prefeito do seu Alegrete (RS) onde permanece por dois anos.

1926 - Ocorre o “movimento tenentista” onde foi ferido no combate do Seival, quase perecendo.

1927 - Foi eleito Deputado Estadual, não chegando a exercer o mandato, sendo guindado para Câmara Federal, tornando-se o líder da bancada gaúcha.

1928 - A convite de Getúlio (eleito Governador do RGS), Oswaldo Aranha assume a Secretaria do Interior e Exterior do RGS.

1929 - Foi Professor de Direito Internacional, na Faculdade de Direito de Porto Alegre (RS), por breve período, deixa a cátedra, para dedicar-se mais aos problemas políticos relativos à sucessão presidencial de Washington Luís.
Intermediou entre a liderança gaúcha e o governo federal e vê fracassadas as tentativas de acordo tornando-se articulador da Aliança Liberal e da chapa oposicionista - Getúlio Dorneles Vargas e João Pessoa.

1930 - Na fase pré-revolucionária, participa de intensa “campanha aliancista” tentando convencer o Presidente Washington Luís a desistir da candidatura Júlio Prestes.
Aos 15 de fevereiro, assume interinamente o governo do Estado do RGS.
Eleito Júlio Prestes, parte para a solução armada, driblando a hesitação de Getúlio Vargas e de Borges de Medeiros.

1931 - Foi Ministro da Justiça, desde o advento da “República Nova” promove a reforma do Poder Judiciário e elabora o Código dos Interventores.
Diligencia o decreto, modificando os serviços da Corte de Apelações, que também cria a OAB.
Estabelece o Conselho Federal do Comércio Exterior e a Comissão de Estudos dos Estados e Municípios.

1932 - Instala a comissão de juristas, para elaborar o projeto da nova Constituição, deixa praticamente pronto o Código Comercial e a publicação da Lei Eleitoral.
Demissionário da Justiça, assume em novembro, o Ministério da Fazenda.
Negocia a dívida externa brasileira, com grandes vantagens para o país.

1933 - Foi líder da maioria na Assembléia Nacional Constituinte, na elaboração do anteprojeto da Constituição.

1934 - Foi nomeado Embaixador do Brasil nos EUA.

1935 - Assina o Tratado Comercial do Brasil, com os EUA (que vinha sendo negociado desde 1933).

1936 - Foi Delegado brasileiro à Conferência da Paz, de Buenos Aires, influindo decididamente, para a solução do conflito Bolívia-Paraguai, sobre o Chaco.

1938 - Em março, é demissionário da embaixada, por discordar da política de Getúlio Dorneles Vargas, acaba aceitando o cargo de Ministro das Relações Exteriores.

1942 - Busca neutralizar a crescente simpatia pelo EIXO “Roma + Berlim + Tóquio" = ROBERTO notória em vários setores do governo Vargas.
Em janeiro, é destaque na III Reunião de Chanceleres que aprovou o rompimento das nações da União Panamericana, com o EIXO; ganhando o título de Cidadão da América.

1944 - Sai do Ministério, incompatibilizado com Vargas.

1947 - Foi indicado pelo Presidente Eurico Gaspar Dutra, para representar o Brasil, na ONU, dirigindo o Conselho de Segurança, sendo eleito Presidente em duas Assembléias - fato único na história daquela organização.
Decide habilmente, pela criação do Estado de Israel, aos 29 de novembro.
Volta à sua consultoria jurídica (tal como em 1944).

1953 - Foi nomeado Ministro da Fazenda, pelo Presidente Getúlio Dorneles Vargas - permanecendo em tal cargo até ao suicídio do grande Presidente (gaúcho).

1957 - Por indicação de Juscelino Kubitschek de Oliveira, chefia a Delegação Brasileira à XII Assembléia da ONU.

1960 - Faleceu aos 27 de janeiro de 1960, vitimado por enfarte do miocárdio.



SOUZA LOBO,  JOSÉ TEODORO DE
Engenheiro Geógrafo

José Teodoro de Souza Lobo nasceu nesta capital a 07 de janeiro de 1846. Recebeu sólida instrução no Colégio Caraça, em Mirras Gerais (estabelecimento dirigido por padres lazaristas).

Aos 19 anos iniciou a sua carreira no magistério, quando seminarista. Formou-se engenheiro geógrafo pela antiga Escola Central do Rio do Janeiro.

Em 1873, fez concurso para a cadeira de matemática da Escola Normal e foi nomeado lente desse estabelecimento de instrução.

Autor de várias obras didáticas, entre as quais se destacam os dois compêndios “Primeira e Segunda Aritmética”.

Fundou em 1877, o “Colégio Souza Lobo” por onde passaram gerações de jovens, muitos dos quais, mais tarde, vieram a ocupar lugar proeminente na política, na magistratura, na medicina, no exército, etc. Entre os seus numerosos discípulos citaremos os doutores Júlio de Castilhos, Borges de Medeiros, Protásio Alves, senador Soares dos Santos, Germano Hasslocher, Díoclécio Pereira, Sebastião Leso, Assis Brasil, Barros Cassal e muitos outros.

Foi este o período áureo de sua vida; após a extinção da “Escola Normal” foi nomeado inspetor escolar da zona urbana de Porto Alegre, cargo em que faleceu aos 67 anos de idade e com quase meio século de serviços à causa da instrução; o seu falecimento ocorreu a 09 de agosto de 1913, na capital dos Pampas.

A morte, porém. não fez que desaparecesse de todo, o velho e querido professor, porque Souza Lobo conquistara para sempre a estima de todos os que tinham a ventura de aprender com ele.

Era de uma bondade cativante; jamais aluno seu teve motivo de mágoa contra ele e por isso mesmo, todos faziam o possível para honrar nos atos colegiais as lições do provecto mestre.

Suas obras didáticas aí estão também, para provar aos vindouros que, os que trabalham e deixam os frutos de seus esforços, não morrem nunca, apenas se ausentam, vivendo pelo tempo a fora no pensamento das gerações que se lhes sucedem.



SOUZA PINTO,  PAULO BROSSARD DE
Advogado e Político

Natural de Bagé (RS), nascido aos 23 de outubro de 1924.  Ainda jovem se tornou adepto do antigo “Partido Libertador” - companheiro de Assis Brasil, Raul Pilla, Mem de Sá;  foi Deputado Federal e Senador da República.


Suas obras:

01 - Em Torno da Emenda Parlamentarista - 1949

02 - Presidencialismo e Parlamentarismo na Ideologia de Rui Barbosa (ensaio) - 1949

03 - Impeachment (estudo político) - 1965

04 - Discursos Parlamentares (libelo) - várias datas

05 - O Problema da Lã, Eleições Diretas e a Escolha do Presidente da República, “Por um Rio Grande Maior” - Situação e Perspectiva da Pecuária Gaúcha - 1967



SOUZA.  JOÃO FRANCISCO DE
Caudilho
O Hiena do Cati

João Francisco de Souza, natural de Sant’Ana do Livramento (RS), nasceu aos 12 de abril de 1866. Era o 2º filho do Cap. Francisco Pereira de Souza (compadre do Cap. Fructuoso Rivera) e de Dª Filisbina Pereira de Carvalho - casaram no lugar denominado “Rincão de Artigas” no 4º Distrito da freguesia de Sant’Ana do Livramento, aos 13-04-1864, pelo padre Bento José Pereira da Maia (então vigário interino desta paróquia); serviram de testemunhas: Cap. Firmino Cavalheiro de Oliveira (e esposa) e Fidélis Trindade (e esposa), na casa da oradora (secretária).

João Francisco casou-se com uma donzela filha de Domingos Pereira de Souza e Ana Gonçalves Pereira (eram primos em 2º grau).

João Francisco era neto do Cap. Francisco Pedro Pereira de Souza (da Ilha do Faial) e de Dª Isabel Maria de São João (da Ilha de S. Jorge), oriundo da Ilha do Pico - Açores.

Filiou-se ao “Partido Liberal - PL” em 05-01-1878; após a Proclamação da República, filiou-se ao “Partido Republicano Rio-grandense - PRR”; apesar de pertencer ao PRR, detestava o Borges de Medeiros, mas se ofereceu para lutar a seu favor, em 1923.

Borges de Medeiros lhe ofereceu um cargo menos digno, do que merecia e por isso João Francisco não aceitou, dizendo: Doy al Rei la vida, pero no puedo darle lo que no me pertenence - La dignidad y la honra.

João Francisco apreciava adágios, tais como o acima e o que segue: “Depois do burro morto, é cevado o rabo” (não adianta mais nada).

Aos 15 de outubro de 1924, João Francisco lançou um MANIFESTO aos povos das fronteiras do sul, em Foz do Iguaçu (PR), onde ele escreveu um adágio de Assis Brasil: “Errar, é dos homens - teimar, é das bestas” - e outro adágio de sua criação: “Numa guerra ou revolução, não há homens necessários ou não - o que há, são homens úteis ou não.”

Aos 28 de fevereiro de 1930, João Francisco escreveu aos seus correligionários: “Para nós brasileiros gaúchos, é chegado o momento em que devemos encarar a luta política e social, pelo seu prisma real; a campanha cívica, ou seja, o voto, é uma medicina passiva, um paliativo apenas. Só serve, quando os males políticos são superficiais”.

O caso atual brasileiro, porém, é um mal profundo e necessita de uma intervenção cirúrgica, por cirurgiões que tenham vergonha na cara.”

João Francisco foi um caudilho de destaque nas revoluções de 1923 / 28; possuía a Fazenda do Cati (situada entre Sant’Ana do Livramento e Quaray), tinha um regular grupo de escravos bem armados com fuzis e até canhões de sua propriedade.

Faleceu em 1953.



SOUZA,  OCTAVIO DE
Médico

Natural de Porto Alegre (RS), nasceu aos 25 de novembro de 1875; contava apenas com 58 anos de idade, quando faleceu a bordo do transatlântico “Cap. Astúrias”, em águas brasileiras.

Fez o curso de humanismo no afamado Colégio N. S. da Conceição, de São Leopoldo (RS), e o curso superior na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro (RJ); defendeu a tese versada sobre Infecção puerperal, aos 18 de janeiro de 1900.

Regressando à sua terra natal, para exercer a profissão, não tardou em ser aproveitado no corpo de saúde da Brigada Militar; no mesmo ano de 1903, foi também nomeado assistente do ilustre cirurgião Professor Carlos Wallau (nascido no Brooklin, Nova Yoyk, EE. UU), nos serviços da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre (RS), onde trabalhou cerca de quatro anos.

Aos 28 de fevereiro de 1903, chama-o ao seu seio a Faculdade de Medicina, elegendo-o professor substituto e designa-o para reger a Cadeira de Clínica Propedêutica, que ocupou de 1903 até 1907. Promovido a titular da 2ª Cadeira de Clínica Médica, em 1908, é transferido para a primeira cadeira da mesma disciplina em 1917. Além disso, substitui o Professor Olinto de Oliveira, durante uma viagem que o ilustre pediatra fez à Europa.

Clínico na verdadeira acepção da palavra, que ao saber aliava a intuição, o tato e a bondade, foi Octavio de Souza também um grande professor. Não tinha a preocupação de mostrar erudição, embora a tivesse, nem a de impressionar os alunos com a apresentação de casos raros. Compenetrado da sua missão, fazia essa cousa ao mesmo tempo tão simples e tão difícil; ensinava, ministrava os conhecimentos fundamentais, preparava realmente os alunos para a carreira que haviam escolhido. Fazia-o em linguagem clara, elegante e, não raro, pontilhada de ironia. Ao lado desse amplo caminho batido, que a nenhum professor é dado abandonar, sabia também abrir seus discípulos as veredas novas, que a evolução da Medicina constantemente impõe.

De Octavio de Souza se pode dizer que fez escola; numerosos são os médicos que lhe sofreram a influência. Na Faculdade, estava também alcançou os mais altos postos; foi Vice-diretor em 1913 e Diretor em 1914. Paraninfou a turma de 1909 e foi homenageado pelos doutorandos de 1922.

Presidiu a Sociedade de Medicina em 1916, 1931 e 1932. Na sessão de 23 de dezembro de 1932, foi eleito sócio honorário. Fundador e membro da comissão executiva do Sindicato Médico, dirigiu-o no segundo período de 1933. Prestou-lhe merecida homenagem a Santa Casa de Misericórdia, dando-lhe o nome à 9ª Enfermaria, que ele proficientemente dirigiu.

Em 1932, como se lhe estivessem pressentindo o fim próximo, conquanto prematuro, fez-lhe a classe médica, verdadeira consagração, por intermédio da Faculdade de Medicina, da Sociedade de Farmácia e do Sindicato Médico.

O Professor Octavio de Souza publicou os seguintes trabalhos:
01 - Um caso de botrimiocose humana - 1915
02 - Meningite cerebro-espinhal epidêmica - 1921
03 - Convulsões da Infância - 1923
04 - Esplenomegalias crônicas do adulto - 1926
05 - Amebíase intestinal crônica - 1926
06 - Leontiasis óssea - 1927
07 - Falsos bronquites - 1928
08 - Esclerodermias progressivas com melanodermias - 1929
09 - Um caso de abcesso fétido do pulmão - 1930
10 - Estudo clínico das hematurias - 1931
11 - Relatório sobre o Ensino Médico (apresentado no 1º Congresso Sindicalista do Rio de Janeiro) - 1931
12 - Tratamento de insuficiência cardíaca - 1932
13 - Diagnóstico e principais causas de erros - 1932
14 - Estudo clínico radiológico do abcesso pulmonar - 1932
15 - O princípio da unidade vital na orientação atual da Medicina - 1932

Essa produção, conquanto de alto quilate, daria ainda uma pálida idéia do professor, porque, como disse com acerto o Professor Pereira Filho (em seu brilhante e comovido panegírico) - a atuação do Mestre Octavio de Souza, refulge mais no ensino vivido, do que nos valiosos trabalhos publicados. Realmente, é um verdadeiro professor, um artista, cujas obras são os espíritos que plasmou ou afeiçoou. De tal estirpe foi Octavio de Souza.

Contrariamente a muitos médicos, Octavio de Souza não militou ativamente na política; não foi, porém, porque lhe faltasse espírito público, mas, simplesmente porque o ambiente das grandes cidades não arrasta tão facilmente como no campo, o médico no torvelinho da vida partidária.

Para confirmar que ele não limitava à profissão o âmbito da sua ação social, aí o temos no seio da Comissão orientadora dos melhoramentos de Porto Alegre, criada pelo remodelador da cidade; não só foi seu Vice-presidente, mas também tomou parte ativa em todos os seus trabalhos.



SPALDING,  WALTER
Professor

Natural de São Jerônimo (RS), nascido aos 28 de outubro de 1901; professor, poeta, ensaísta, historiador e folclorista.

Casou-se aos 08 de outubro de 1931, com Ainda Borges Fortes, filha do General Dr. Jônatas Borges Fortes e de Serafina Rego Monteiro; neta paterna do Juiz de Direito de São Gabriel (RS), Dr. João Pereira da Silva Borges Fortes; e também neta materna do Conselheiro do Império Dr. Jonatas Abbot, que era natural da Inglaterra e que foi Professor da Academia de Medicina da Baía.

Pertenceu à Academia Sul-Rio-Grandense de Letras, ao Instituto Histórico e Geográfico do RGS e a outras entidades culturais do Estado do RGS e do Brasil.

Foi, durante muitos anos, Diretor do Arquivo e Biblioteca da Prefeitura Municipal de Porto Alegre (RS); fundador e diretor do “Boletim Municipal” (que circulou de 1939 a 1946).

Usou os pseudônimos de Sílvio Deniz, Blau Severo, D’Ortois Montalão, Sílvio da Esquina, Vesp e as iniciais W. S. e SP.

Suas obras:
01 - Nuvens (poesias) - 1922
02 - Cinzas (poesias) - 1924
03 - A Cruz Amaldiçoada (conto) - 1925
04 - Seis Poesias de Santa Teresa do Menino Jesus (tradução) - 1930
05 - Farrapos (história) - 1931
06 - O Instituto Histórico do RGS (comentário) - 1931
07 - Os Eternos Caluniadores (relatório da perseguição aos Jesuítas) - 1932
08 - Bento Gonçalves - Republicanismo e Separatismo (ensaio) - 1932
09 - Discurso ao Ser Recebido no Instituto Histórico - 1932
10 - À Luz da História (história do RGS) - 1933
11 - Mais um Pouco de Folclore - 1934
12 - Na Seara da Igreja (comentários) - 1935
13 - Uma Biografia Frustrada -  José de Vasconcelos Jardim - 1935
14 - Pedro Chaves e Bonifácio Calderón (história) - 1935
15 - Bibliografia da Revolução Farroupilha - 1935
16 - Bento Manoel Ribeiro e Antônio Vicente da Fontoura (história) - 1935
17 - Cartas de Amor de Garibaldi (compilação) - 1935
18 - Ponaim - Lenda da Lagoa Parobé (poema dramático) - 1935
19 - Res Divinae - Assuntos religiosos - 1936
20 - Caxias e Bento Manoel Ribeiro (história) - 1936
21 - Comércio, Agricultura e Indústria (ensaio) - 1936
22 - Bandeira e Brasão Farroupilha (estudo) - 1936
23 - Os Dragões do Rio Grande do Sul (história) - 1936
24 - Manuscrito Nacional (compilação) - 1936
25 - A Barra do Rio Grande do Sul e a Lagoa dos Patos (estudo) - 1937
26 - Os Franceses no Brasil (história) - 1937
27 - A Revolta dos Dragões do Rio Grande (história) - 1937
28 - O Forte de Santa Tecla (tese histórica) - 1937
29 - Discurso Saudando Olyntho Sanmartin - 1937
30 - A Igreja e o Velho Continente - 1937
31 - A Imagem de São Pedro do Rio Grande - 1938
32 - João da Silva Tavares (estudo) - 1938
33 - Saudando ao Dr. Pedro Calmon em 17-9-1937 - 1938
34 - Pecuária, Charque e Charqueadas (notícia) - 1938
35 - El Sistema Lacustre Sul-Rio-grandense Oriental (1ª parte) - 1939
36 - La Barra de Rio Grande y Laguna de los Patos - 1939
37 - Pré-História Americana e Brasileira - 1939
38 - A Revolução Farroupilha - com Tábua de Efemérides de 1835-45 (história) - 1939
39 - A Epopéia Farroupilha (1835-1845) - 1939
40 - Euclides Cunha-Poeta (contribuição) - 1939
41 - Esboço Histórico do Município de Porto Alegre (monografia) - 1940
42 - A Invasão Paraguaia no Brasil (história) - 1940
43 - Freguesia, Vigariarias, Curatos e Varas da  Fundação do Rio Grande à República - 1940
44 - O Teatro em Porto Alegre (panorama) - 1940
45 - Gen. João Borges Fortes (elogio) - 1942
46 - O Rio Grande do Sul da Independência de Nossos Dias (panorama) - 1942
47 - Esboço Bibliográfico de Obras para Estudo do Rio Grande do Sul - 1942
48 - Revolução Farroupilha (notas e documentos diversos) - 1941/42
49 - As Capitais do Rio Grande do Sul (resenha histórica) - 1942
50 - A Poesia a Serviço da História - 1943
51 - Centenário do Visconde de Taunay (discurso) - 1943
52 - Aquidabã (comentário histórico) - 1943
53 - Parcy Alvin Marin (elogio) - 1943
54 - Paraná - Rio Grande do Sul (comentário) - 1943
55 - O Patriarca do Rio Grande do Sul (estudo) - 1944
56 - Farroupilhas e Caramurús - A Brasilidade dos Farrapos (bibliografia, documentos e notas) - 1944
57 - Idéias Imperialistas de Gumercindo Saraiva (ensaio) - 1944
58 - Saudação ao Pe. Balduino Rambo (discurso) - 1945
59 - O Brasil na Cartografia e na Lenda (estudo) - 1945
60 - O Instituto Histórico (comentário) - 1945
61 - Mário Teixeira de Carvalho (necrológico) - 1945
62 - Porto Alegre por Dentro e por Fora (Visão panorâmica) - 1946
63 - Osório e a Revolução Farroupilha (história) - 1946
64 - Foram os Chefes Farroupilhas Republicanos antes do Seival? (tese) - 1946
65 - O Velho Coruja e o Seu Vocabulário (comentário) - 1946
66 - A Cooperação Interprovincial na Revolução Farroupilha (tese histórica) - 1946
67 - Anotações à “Coleção de Vocábulos e Frases Usados na” . . . do velho Coruja - 1946 / 47
68 - Arcaísmos Portugueses na Linguagem do Rio Grande do Sul (estudo filológico) - 1947
69 - O Cruzeiro do Sul e Outros Contos - 1947
70 - Teatrólogos del Período Romántico Brasileño - 1947
71 - Rio dos Sinos (história) - 1947
72 - A Instituição Pública em São Leopoldo (tese) - 1947
73 - Visconde de S. José do Norte (esboço) - 1948
74 - D. Pedro II no Rio Grande do Sul (notas) - 1948
75 - Superstições Comuns ao Brasil e aos Açores (folclore) - 1949
76 - Governadores Gerais e Vice-Reis na Bahia (1549-1763) - 1950
77 - El Primer Periodista de América Latina - 1950
78 - David Canabarro - Mestre de Brasilidade (história) - 1950
79 - Influência e Reminiscência do Linguajar Português dos Séculos XVI a XVIII na Linguagem Popular Brasileira de nosso Dias (tese) - 1951
80 - Propaganda e Propagandistas Republicanos - 1952
81 - Gênese do Brasil Sul (estudo) - 1953
82 - A Grande Mestra (biografia de Ana Aurora do Amaral Lisboa) - 1953
83 - Karaí-Ambaé - A Aerostação na guerra contra Solano Lopes - Bartolomeu de Gusmão - Júlio César - Santos Dumont - 1953
84 - O Padre Anchieta e a Sua Obra (ensaio) - 1953
- História da Beneficência Portuguesa
- Comemorativo 1º Centenário da Instituição em Porto Alegre - 26-02-1954
86 - Bibliografia do Folclore do RGS - 1954
87 - Pedro Weingaertner (artigo) - 1954
88 - Tradições e Superstições do Brasil (ensaios de folclore) - 1955
89 - Por Causa duma Dona (episódio dramático farroupilha) - 1955
90 - Gomes Carneiro-Geógrafo - 1955
91 - A Tecedeira de Vilas Rica (folclore) - 1955
92 - Jefferson e o Brasil (ensaio) - 1955
93 - A “Divisão do Norte” e a Invasão Federalista no Paraná (história) - 1955
94 - Domingos Sarmiento - Francisco Solano Lopes (biografias) - 1955
95 - A História e o Povo (costumes, poesias e lendas) - 1956
96 - O Gaúcho Através da Poesia Popular do RGS (tese) - 1956
97 - Cenas da Vida Heróica do RGS - 1956
98 - Laguna-Rio Grande (crônica histórica) - 1956
99 - Alegre - A História e a Lenda - 1957
100 - Dr. Luís da Silva Ribeiro (esboço biográfico) - 1957
101 - Dois Vultos da História Gaúcha: Xavier Ferreira e Onofre Pires - 1958
102 - Álbum Comemorativo do 25º Aniversário da Indústria Metalúrgica Gazola Ltda. (1932-1957) - 1958
103 - Cristóvão de Mendoza e o Gado Bovino e Cavalar do RGS (discurso na inauguração do marco histórico em Água Azul, Santa Lúcia do Piaí, Caxias do Sul, aos 24-4-1960) - 1960
104 - A Propaganda Republicana e o Dever da Geração Atual (palestra) - 1961
105 - Rosário do Sul - Notas para sua história, Invocação - 1961
106 - Lendas do Ciclo do “Tratado de Limites” (1750-1961) - 1961
107 - Júlio de Castilhos e Deodoro da Fonseca - 1962
08 - Rancho e Maloca (drama) - 1963
109 - Borges do Canto, O Conquistador das Missões - 1967
110 - A Região de São Leopoldo antes da Vinda dos Colonos Alemães (história) - 1967
111 - General Borges Fortes - In-Memoriam - 1968
112 - Comparações do Falar Diário do Gaúcho - 1968
113 - Oswaldo R. Cabral - In memoriam - 1968
114 - Documentos, Fatos e Comentários - Valdomiro de Almeida Sousa (elogio póstumo) - 1969
115 - José Fernando Carneiro - In memoriam - 1969
116 - Um Genial Compositor Brasileiro: Pe. José Maurício Nunes Garcia (1767-1830) - 1969
117 - Manoelito de Ornelas, In memoriam - 1969
118 - Patrício, Bento e Antônio Corrêa da Câmara - 1969
119 - Dicionário do “Diário Resumido e Histórico” de José de Saldanha - 1969
120 - Construtores do Rio Grande (biografias) - 1969

Segundo a obra NOBILIÁRIO SUL-RIOGRANDENSE (1937) - de João Faria Viana  (pág. 309-312), Walter Spalding é descendente dos “Fidalgos Escoceses” SPALDING.



TAVEIRA JÚNIOR,  BERNARDO
Professor

Bernardo Taveira Júnior foi antes e acima de tudo um homem trabalhador, e pelo trabalho alcançou um nome de destaque entre os intelectuais rio-grandenses; certamente não lhe faltou inteligência que, se não foi intensa e original, não foi todavia esquiva nem de produtividade difícil.

Nascido na cidade do Rio Grande, a 5 de julho de 1835, seu pai, um antigo negociante português, destinava-o à carreira das letras, e nesse propósito mandou-o para S. Paulo, com destino à Faculdade de Direito; mas dificuldades comerciais o impediram de levar avante esse nobre intento e o jovem Taveira Júnior foi servir no comércio do Rio de Janeiro; entretanto, as letras o seduziam, os livros o atraíam e Bernardo Taveira Júnior, havendo adquirido um preparo suficiente, consagrou-se ao magistério particular.

Quando apareceram as suas Provincianas, a crítica daqui e de alhures o tratou com mais ou menos econômicos, notando-lhes sobretudo um grande cunho pessoal; conquanto produzisse muito, não foram todavia suas obras originais que mais o fizeram estimar.

Cultor apaixonado da língua alemã Bernardo Taveira Júnior traduziu e divulgou no Rio Grande do Sul, as mais notáveis obras de Goethe e de Schiller por quem, parece, tinha predileção especial.

Labutou no verso, no drama e no romance, revelando, à falta de calor, unia maneira singela e uma fina observação.

Entre obras originais traduzidas ou de imitação, citam-se-lhe:
01 - Poesias americanas
02 - Poesias alemãs
03 - Provincianas
04 - Poesias patrióticas
05 - Memórias de Garibaldi
06 - Guilherme Tell
. . .  e outros muitos trabalhos.

Bernardo Taveira Júnior faleceu na cidade de Pelotas, a 19 de setembro de 1 892, tendo sido um homem de bem e um dos mais operosos cultores das letras e do jornalismo da sua terra, deixando também fama de erudito professor.

Como homem de coração. se ele não tivesse sido poeta, bastaria assina-lo como um dos mais ardentes e extremados abolicionistas do seu tempo.



TEIXEIRA NUNES,  JOAQUIM
Farroupilha

O negro Joaquim Teixeira Nunes era natural de Piratiní (RS). Ao menos, na escassez de dados biográficos, pode-se afirmar que em Piratiní, vivia em 1835, tanto que foi ali um dos coordenadores do movimento revolucionário.

Pertencia, assim, aos liberais da Província; pelejou desde o primeiro instante e a sua bravura era tal, que entre os bravos da República Rio-Grandense, conseguiu destacar-se, tornando-se um nome legendário. Pela certeza e rapidez das suas marchas, os farrapos dar-lhe-iam o sugestivo apelido de “Coronel Gavião”.

Teixeira Nunes foi um dos oficiais de mais nomeada que houve na Revolução Farroupilha. Era uma lança das primeiras; com o corpo de lanceiros a seu mando, alongava-se do exército, para operar sobre si em qualquer parte que o inimigo aparecesse. Era o terror dos seus inimigos.

Onde carregava o corpo de lanceiros, denunciava-se a vitória. Teixeira Nunes era humano; durante a peleja, mandava matar, para vencer e depois da vitória não morria mais nenhum prisioneiro. Era um oficial que sabia fazer a guerra de recursos.

Esbelto e galhardo, se apresentava na frente do seu corpo na ocasião do combate. Era um oficial que manejava a lança com muita destreza; era de estatura mais alta do que baixa e montado no seu cavalo, parecia que dominava o inimigo. A sua voz de comandante feria os ouvidos dos comandados.

Era muito militar; ele tinha sido alferes do “Regimento 25” de Artilharia Montada, dos Guaranys, na guerra de 1825 e por isso conhecia a tática da guerra.

Em novembro de 1836, Teixeira Nunes era major do corpo de lanceiros negros, a esse tempo comandado pelo Tenente-coronel Joaquim Pedro Soares.

No dia 06 de novembro, realizada a eleição de Presidente da República, realiza-se na Igreja de Piratiní um TE DEUM; e quando as autoridades do Estado Rio-Grandense, recém criado e a massa popular, em cortejo solene, dirigem-se para o templo, vai à frente deles, pela primeira vez, desdobrado à luz do céu, o pavilhão tricolor, o símbolo oficial da República Rio-Grandense. Quem o conduz, fremente de emoção e de entusiasmo, ufano da glória de ser o primeiro a carregar a Bandeira gaúcha, é o major de lanceiros Joaquim Teixeira Nunes.

Dentro de pouco tempo, seria ele o comandante dos lanceiros negros; e à frente dessa força praticaria façanhas sem conta, intervindo em inúmeros combates, até ornar os punhos com os galões de Coronel.

Acompanha David Canabarro na expedição à Laguna (SC) e na retirada perigosa e difícil, reafirma o seu valor.

Aos 14 de dezembro de 1839, no passo de Santa Vitória, no rio Pelotas, inflige uma séria derrota às forças imperiais do Brigadeiro Francisco Xavier da Cunha. Valendo-se do ensejo, avança rapidamente contra Lages (SC), que toma aos 26 de dezembro daquele ano.

Aos 12 de janeiro de 1840, em Forquilha, sobre o rio Marombas, sofre um desastre, em um encontro com os legalistas caramurús comandados pelo Cel. Antônio de Mello e Albuquerque. Sem embargo, salva as suas hostes e retorna ao Rio Grande onde continua a bater-se, sem medo e sem fadiga, o lidador farroupilha.

Aos 14 de novembro de 1844, estará na surpresa de Porongos; bate-se como um leão, com os seus lanceiros denodados.

Nos cento e tantos mortos republicanos, que juncaram o campo da luta desigual, mais de 80 eram dos soldados negros de Teixeira Nunes!

Quatorze dias depois, no Arroio Grande, em combate com gente de Chico Pedro, Joaquim Teixeira Nunes morre galhardamente, de fronte alta, manejando a sua lança gloriosa, à sombra da bandeira sagrada que fôra o primeiro a desfraldar, à carícia azul do céu do Rio Grande.

FONTE: Vultos da epopéia Farroupilha - 1935, págs. 193-197 - Othelo Rosa



TEIXEIRA,  VICTOR MATHEUS
Teixeirinha
Compositor e cantor

Victor Matheus Teixeira, nasceu no distrito de Mascaradas, na cidade de Rolante (RS), aos 03 de março de 1927; filho de Saturno Teixeira  e  de Ledurina Matheus Teixeira.

Aos seis anos de idade perdeu o pai e aos nove anos a mãe. Ficando órfão foi morar com parentes, mas estes como não tinham condições de sustentá-lo, saiu pelo mundo fazendo de tudo um pouco: trabalhou em granjas do interior e quando veio para Porto Alegre carregou malas em portas de pensões, vendeu doces como ambulante, entregador de viandas, vendeu jornais, enfim fazia qualquer atividade para poder sobreviver.

Com Dezesseis anos se registrou como Cidadão Brasileiro. Aos dezoito anos se alistou no Exército, mas não chegou a servir, quando nesta ocasião foi trabalhar no DAER (Departamento de Estradas de Rodagem), como operador de máquinas durante seis anos. Dali saiu para tentar a carreira artística cantando nas rádios das Cidades do interior, tais como: Lajeado, Estrela, Rio Pardo, Santa Cruz do Sul, nesta última conheceu sua esposa Zoraida Lima Teixeira.

Tinha mui pouca cultura escolar; entretanto, foi o cantor mais popular do Rio Grande do Sul. Era amigo de todos, cantava e tocava por prazer.

Trabalhou como carpinteiro na construção dos andaimes e caixas para concretagem da ponte na BR-37 (hoje, BR-290), sobre o arroio Iruí (diviza de Encruzilhada do Sul com Rio Pardo); alí perto havia a “bodega” do seu compadre Agenor, ponto de encontro e de bailes nos fins de semana.

Ele compunha suas músicas e letras, cantava e se acompanhava ao violão; fez tanto sucesso com discos LP (de vinil), na época, tendo ao lado a sua “amada” companheira Meri Teresinha, que chegou a receber Disco de Ouro.

Compareceu em diversos programas “ao vivo” em São Paulo e no Rio de Janeiro, sendo debochado por Flávio Cavalcante (que detestava o sucesso deste bem sucedido artista), que quebrou em público vários LPs do Teixeirinha, sentenciando . . . que tudo aquilo era uma porcaria . . . que não devia ser comprado . . . que aquilo era música para empregadinha ouvir.

Teixeirinha assistindo o mal educado Cavalcante esbravejar, disse: Pode quebrar . . . vai quebrando . . . quebra quantos quiser . . . quanto mais tu quebrar, mais dinheiro eu ganho do teu bolso . . . e dizia mais. Enquanto vendem um disco da música fina que tu elogia, eu vendo 50 ou mais LPs.

Em 1959 foi convidado para gravar em São Paulo; quando viajou na segunda classe de um trem.

Gravou seu primeiro 78 RPM, de um lado a música “Xote Soledade” e do outro lado “Briga no Batizado”.

Segundo depoimento de um dos membros da Gravadora Chantecler, Dr. Biaggio Baccarin, o sucesso assim aconteceu:

“A sigla PTJ, no 78 RPM, abrigava três nomes: Palmeira, Teddy e Jairo, então diretores da Chantecler e fundadores do selo sertanejo. Como se constata, “Coração de Luto” ocupou o lado “B” do quarto disco gravado por Teixeirinha, o qual foi lançado sem qualquer preocupação de sucesso, no entanto aconteceu espontaneamente após seis meses de seu lançamento. As primeiras reações vieram de Sorocaba/SP e em pouco tempo já era sucesso nas demais cidades da região. Foi nessa ocasião que a gravadora Chantecler resolveu trazer o cantor para São Paulo a fim de trabalhar o disco, cujo trabalho teve início com um show na cidade de Sorocaba/SP e posteriormente nas demais cidades do Estado de São Paulo, até o triângulo mineiro.

O sucesso aconteceu em todo o Brasil, com venda superior a um milhão de cópias no ano de 1961. Um acontecimento inédito na história da música popular brasileira. Para se ter idéia deste fato, o disco Coração de Luto chegou a ser vendido no câmbio negro em Belém do Pará, havia fila para comprá-lo. A gravadora não tinha condições de atender os pedidos e era obrigada a distribuir cotas para cada loja. O fato de Belém do Pará foi registrado pelo saudoso Edgard Pina, então agente da Chantecler naquela capital”. Teixeirinha voltou a Passo Fundo, vendeu o “Tiro ao Alvo” e se mudou para Porto Alegre. Foi chamado novamente pela Chantecler, desta vez para morar na capital paulista e continuar a divulgação do sucesso de Coração de Luto, no entanto, recusou domiciliar-se em São Paulo, voltando para Porto Alegre.

Com o que ganhou na excursão em São Paulo, comprou uma casa, no bairro da Glória em Porto Alegre, onde viveu toda a sua vida e uma Kombi para viajar por todo o Brasil. Então, definitivamente Teixeirinha assumiu a carreira artística, passando a trabalhar em circos, parques, teatros, cinemas e demais casas de espetáculos. Como o próprio cantor relatou em uma de suas últimas entrevistas à imprensa: “... onde o povo me pediu para estar, eu fui...”.

Teixeirinha viajou para todo o Brasil como o Gaúcho Coração do Rio Grande.

Em 1963, ganhou o troféu “Chico Viola” outorgado pela TV Record de São Paulo, no programa “Astros do Disco”, um programa de gala da televisão brasileira e tinha por objetivo premiar os melhores dos discos de cada ano e Teixeirinha ganhou por ter sido o cantor campeão de vendagem por dois anos consecutivos, 1962/1963. Internacionalmente ganhou o troféu “Elefante de Ouro” como maior vendagem de discos em Portugal.

A música “Coração de Luto”, até hoje vendeu mais de vinte e cinco milhões de cópias, a única no mundo mais vendida, superando cantores como Michael Jackson, Julio Iglesias, cantores contemporâneos de grande vendagem de discos, mas não de uma única música, como o caso de Coração de Luto, que continua na cotação de uma das músicas mais vendidas.

Em 1964, Teixeirinha escreveu a história do filme “Coração de Luto”, que foi produzido pela Leopoldis Som, em 1966, outro recorde de bilheteria. Em 1969, encenou no filme “Motorista sem Limites” juntamente com Valter D’Avila, produzido por Itacir Rossi.

Durante vinte anos, apresentou programas de rádio diariamente com duas edições: “Teixeirinha Amanhece Cantando” (de manhã) e “Teixeirinha Comanda o Espetáculo” (a noite) e “Teixeirinha Canta para o Brasil” (domingos, pela manhã) em diversas rádios da capital, com transmissão para o interior e outros estados brasileiros. Durante vinte e dois anos Mary Terezinha lhe acompanhou com acordeon em shows, rádio e cinema.

Gravou 49 Lps inéditos, com mais de 70 Lps, incluindo regravações, atualmente sendo todos reeditados em disco laser, gravando mais de 700 músicas de sua autoria, deixando um acervo superior a 1200 composições de sua lavra.

Esse renomado artista fez muito sucesso com suas composições, dentre as quais: Coração de luto, Gaúcho de Passo Fundo, Querência amada, Tordilho negro e tantas outras.

Seu nome e sucesso tornou-se conhecido pelo Brasil a fora, sendo convidado e aceito para filmar Coração de luto e outros filmes.

Teixeirinha faleceu dia 04 de dezembro de 1985; dizem que morreu de amor, por sua dileta Meri Teresinha que lhe abandonara, trocando-o por um jovem.



TELLES DE FREITAS,  ANTONIO M.
Militar

Bem poucos conhecerão de nome o ilustre rio-grandense que foi o Dr. Antonio M. Teles de Freitas. entretanto, bem poucas vidas estarão como a dele ligadas por serviços à vida de Porto Alegre de outrora.

Filho de Manoel Júnior de Freitas e de Dª Maria Rita Teles de Freitas, o nosso biografado nasceu nesta cidade a 6 de junho de 1833, e ainda muito moço assentou praça e seguiu para o Rio de Janeiro, afim de matricular-se na Escola Militar.

Em maio de 1855 foi nomeado alferes aluno, em 1858 promovido a alferes do Comando do Estado Maior de 1ª Classe, por se ter bacharelado em ciências físicas e matemáticas pela Escola Central.

Em 1861 foi promovido a tenente e em 1866 a capitão, sempre no corpo de Estado maior de 1ª Classe.

Moço ainda e já em tão elevado posto no Exército, o nosso ilustre patrício teria atingido as mais altas categorias na vida militar, se a sua saúde melindrosa não o forçasse a pedir reforma, sendo em 1867 nomeado ajudante da Repartição das Obras Públicas, da qual assumiu a chefia, em 1872.

Durante o tempo em que serviu nesta repartição, fiscalizou e dirigiu os trabalhos de construção da Casa de Câmara (hoje Superior Tribunal e Tesouro do Estado), do Liceu (atualmente, Escola Complementar) e do edifício das Obras Públicas, que é o mesmo onde hoje funciona essa repartição.

Faleceu na maior pobreza, tendo como único recurso o soldo mensal de 36$000 de sua reforma de capitão, sendo seu modesto enterro feito com o produto da venda dos poucos Livros de sua excelente biblioteca, venda esta feita em grande parte aos seus companheiros de repartição, pelo seu parente e amigo Agostinho de Menezes Freitas, atual Contador Diretor do Tesouro do Estado.

Ainda no serviço de Exército, o Dr. Antonio M. Teles de Freitas foi no¬meado Cavalheiro da Ordem da Rosa, pelos distintos serviços prestados gratuitamente a Institutos de Ensino e aos 28 admitido como membro do Instituto Geográfico Histórico do Rio Grande do Sul, presidido, nessa época, pe¬lo Barão de Porto Alegre.

Ferido por uma fatalidade inexorável, que de um só golpe lhe tirou o movimento e a visão, este nosso infortunado patrício faleceu ainda moço, como se vê, tendo sido, entretanto, talhado para uma carreira brilhante em qualquer dos ramos de vida em que quisesse exercer a sua atividade, porque para isso não lhe faltavam talento, ilustração e probidade.

Mas . . . quiçá por isso mesmo, tombou exânime antes do tempo, deixando lugar para os medíocres que são os que triunfam sem esforço, gozam sem merecer e vivem . . . até cair de podres.



TELLES DE QUEIROZ,  JOAQUIM PANTALEÃO
Militar

Natural de Porto Alegre (RS), nasceu em 1836 e faleceu em Tebicuari (Paraguai), em 1868.

Descendente de uma família tradicionalmente militar, até as gerações seguintes, participou, com seus cinco irmãos das operações contra o Governo do Paraguai, tomando parte nos mais perigosos encontros da Campanha.

Comandante do piquete de Osório, foi dos primeiros a pisar o solo paraguaio, na invasão de 16-04-1866.

Destacou-se nos combates dos comandos de Osório, Polidoro e Caxias, até que perdeu a vida, já com os galões de major e à frente de seu Regimento, no ataque às fortificações do Passo Real do Tebicuari, tendo recebido, por atos de bravura, as insígnias das Ordens brasileiras do Cruzeiro, de Cristo e da Rosa.



THOMPSON FLORES,  CARLOS
Advogado

Nasceu em Porto Alegre e era filho do Dr. Luiz da Silva Flores, médico notável pelo seu saber e pelo seu desprendimento.

Estudou os preparatórios na terra natal, seguindo mais tarde para S. Paulo, onde se bacharelou em Direito.

De volta ao Rio Grande do Sul, com um bom nome que trazia da paulicéia, foi nomeado para exercer o cargo de promotor público na capital, tendo posto à prova o seu valor de homem de letras. Filiou-se ao partido liberal, do qual era um dos chefes de mais prestígio que seu ilustre pai.

Fundando-se, pouco depois, a Reforma, órgão do mesmo partido, trabalhou aí ativamente ao lado do Dr. Florêncio de Abreu, Eleutério de Camargo e tantos outros moços que enobreceram o jornalismo entre nós.

Abraçando a carreira da magistratura, revelou-se logo um juiz notável pela ilustração e retidão do seu espírito.

Mais tarde, por ocasião do rompimento do conselheiro Dr. Gaspar Silveira Martins com o Gen. Osório, foi nomeado Presidente do Estado, tendo feito um governo moderado quando se esperava o contrário disto. Com o advento da República, foi escolhido desembargador do Tribunal da Relação, cargo que exerceu até os últimos dias da vida com extraordinária competência.

Nos assuntos mais delicados da alta administração do Estado sua palavra era sempre ouvida com o maior acatamento.

Era uma justa homenagem que lhe prestavam o Dr. Júlio de Castilhos e Borges de Medeiros, que o tinham no mais elevado conceito.



SEPÉ TIARAJÚ,  JOSÉ
Cacique + Pagé + Feiticeiro = Morubixaba

Natural dos “Sete Povos das Missões Jesuíticas” (sem se saber exatamente de qual dos sete), nasceu aproximadamente em 1722;  ignora-se a sua filiação.

Este "chefe" indígena das Missões Orientais do rio Uruguai ( Rio Grande do Sul ) nasceu, viveu, liderou o seu povo Guarany e morreu por ele, na sua amada terra.

Sepé Tiarajú era um MORUBIXABA porque exercia os três poderes numa tribo:  Cacique (governo civil, pelo temor), Pagé (governo religioso, pelo amor), Feiticeiro (governo místico, pelo pavor).

COSTUMES
Os nativos moravam em casas chamadas de ocas, que circundavam uma praça central chamada de ocara e que eram protegidas por uma cerca chamada de caiçara.

VOCABULÁRIO
Os nativos (guaranys), nada nos legaram por escrito;  foram os missionários jesuítas que deram forma gráfica aos vocábulos que iam aprendendo. Portanto, antes que aparecessem os escritos dos luso-brasileiros, surgiram os manuscritos em “castellanez” do Pe. António RUIZ de MONTOYA, donde embasou-se o Pe. António GUASCH S. J. em seu livro “El Idioma Guarany,” (editado em Buenos Aires - 1948), que nos serviu de guia neste trabalho, bem como a obra “Gramatica y Vocabulario de la Lengua QUÍCHA” - de Urioste Herrero S. J. (La Paz - 1955), além de Mário Arnaud Sampaio (1956).

Esses nativos (guaranys) falam a língua Tupy-guarany - na qual, não existe palavra com o som da letra L.

GUERRA GUARANÍTICA - 1754 / 1756
Desde a fundação da Colônia do Sacramento (22-01-1680), ascendera guerra quase contínua entre Portugal e Espanha, na disputa deste chão gaúcho.

Para acabar com essa disputa, as coroas firmaram o Tratado de Madrid (em 13 de janeiro 1750), estabelecendo limites entre seus domínios; de modo que a Espanha ficaria com a Colônia do Sacramento e Portugal com os Sete Povos das Missões.

A linha divisória partiria das nascentes do arroio Chuí (no monte Castilhos Grande); seguiria em linha reta para a serra, pelos pontos mais altos da Coxílha do Aceguá até as nascentes do rio Negro; daí pela Coxilha de Santa Tecla até as nascentes do rio Ibicuí Mirim e descendo por este, ao rio Uruguai; subindo por este rio até a foz do arroio Peperi-guazu (no rio Uruguai).

Portugal seria representado pelo Capitão-general Gomes Freire de Andrade e a Espanha representada pelo Marquês de Valdelírios; logo após uma breve reunião, deram início aos trabalhos demarcatórios.

Aos 29-10-1752 cravaram o 1o Marco desta linha, no monte Castilhos Grande (na face sul tinha as armas da Espanha e na face norte, as armas de Portugal); seguiram o trabalho de demarcação, cravando o 2o Marco no monte dos Reis e após, os responsáveis retiraram-se para suas cidades.

A linha divisória já estava demarcada até as nascentes do rio Ibicuí; quando no sítio do Forte de Santa Tecla surgiram piquetes de índios em atitude hostil, impedindo o prosseguimento dos trabalhos de demarcação.

Os índios eram comandados pelo Morubixaba Sepé Tiarajú, que intimou os demarcadores a abandonarem o trabalho, dizendo:

Em guarany ............. CO IVI OGUERECO YARA

Em espanhol ............. Tiene dueño esta tierra

Em português ............ ESTA TERRA TEM DONO

. . . aquela terra era sua e de sua gente.

Tinham-na recebido de DEUS (Ñ’andeyára), pela intercessão da virgem Maria MÃE DE JESUS CRISTO (Ciretã Kitú Kiritó) e por intermédio de San Miguel.

Dias depois, Gomes Freire de Andrade e Valdelírios, juntamente com o governador Andoanegui, reuniram-se na Ilha Martin Garcia (Rio da Prata) e resolveram empregar a força.

Enquanto os exércitos luso e espanhol preparavam-se para a luta, aos 20-04-1754 os índios atacaram e queimaram o Forte de São Nicolau da Cachoeira matando quase toda a guarnição que ali restava e aos 28-04-1754 tentaram fazer a mesma coisa com a Fortaleza JESUS-MARIA-JOSÉ (Rio Pardo), mas não conseguiram, sendo rechaçados pelo Capitão Francisco Pinto Bandeira que prendeu Sepé Tiarajú e o trouxe à presença do Tenente-coronel Tomaz Luiz Osório, então comandante da praça.

As Côrtes mandaram apressar os preparativos e os exércitos juntos deveriam invadir o país dos guaranys, por Santa Tecla (Bagé).

Era 16-01-1756, quando os exércitos uniram-se em Santa Tecla, iniciando as hostilidades. Os portugueses tinham 1.500 homens, alguma artilharia e muitas provisões de guerra, sendo que os espanhóis eram mais ou menos a mesma coisa.

Numa lenta marcha, os dois exércitos se dirigiram para o lugar chamado Santo Antônio (o velho). Nos campos do Batovi, teve uma ligeira escaramuça com um bando de índios.

O Morubixaba Sepé Tiarajú foi morto pelo governador de Montevideo, D. José Joaquim Viana (J. J. Viana), em São Gabriel no local marcado por uma bica, próximo ao rio Vacacaí, sendo alvejado com um tiro de pistola, às 5 ½ da tarde de 07 de fevereiro de 1756; no dia seguinte voltaram ao campo de batalha e o vaqueano espanhol chamado Mariano reconheceu o cadáver, sacando de seus bolsos um livrinho devocional e duas cartas - uma dizia que deveriam manter a devoção à Virgem Maria e na outra recomendava que não fizessem aliança com os brancos, porque eram falsos aos seus próprios reis.

Diz a lenda que enquanto Sepé lutava, sua testa brilhava, ao que seus comandados diziam ser uma luz celeste, procedente da Virgem Maria; daí a lenda do Luzeiro de SEPÉ.

Com a morte de Sepé, o Cacique Nicolau Ñhenguirú III assumiu o comando dos guaranys. Aos 10-02-1756 aconteceu a Chacina do Caibaté; os índios estavam postados em formidável posição, mas logo que a artilharia aliada troou, sem grande resistência guarany, no campo jaziam mais de 1.500 mortos, ainda sendo aprisionados 154, deles.

Os aliados continuaram sua marcha e novamente foram encontrar o inimigo entrincheirado numa serra, defendendo-a a todo o custo; vencidos, os índios levantaram mais adiante (no rio Chiriaby), uma grande fortificação que logo também caiu nas mãos dos aliados.

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TOTTA,  MÁRIO RIBEIRO
Médico

Natural de Porto Alegre (RS), nascido aos 05 de janeiro de 1874; doutorou-se pela Faculdade de Medicina de Porto Alegre, sendo um dos componentes da primeira turma que por ela se diplomou, tendo colado grau no ano de 1904.

Especializou-se em Ginecologia e Obstetrícia, dedicando-se, também, ao magistério médico, onde veio a ocupar a Cátedra de Clínica Obstétrica, na qual foi jubilado (aposentado), ao mesmo tempo que lhe era conferido o título de Professor Emérito, pela Universidade de Porto Alegre, no ano de 1942.

Foi membro da Sociedade de Medicina de Porto Alegre, da qual foi Presidente; participou de todos os Congressos Médicos celebrados na Capital Rio-Grandense; foi sócio fundador do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul.

Desempenhou as funções de Diretor da Maternidade anexa à Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, que colocada sob o patrocínio de seu nome, pela Mesa administrativa desse mesmo hospital, a pedido de seus auxiliares médicos, os quais assim pretendiam tributar-lhe a merecida homenagem por ter sido ele o pioneiro da assistência às mulheres grávidas, da capital gaúcha.

Casou com Alayde e de seu matrimônio teve os seguintes filhos:
01 - Maria;
02 - Gilda;
03 - Saul (médico);
04 - Sylvia;
05 - Judith.

Foi Redator do jornal Correio do Povo, em 1895 (quando de sua fundação, em 1º de outubro de 1895); assinava: M. MT. Mário Totta; além de médico, era poeta, cronista, jornalista e contista.

Suas obras:
01 - As Flores (discurso) - 1920
02 - Homenagem da Academia Rio-Grandense de Letras ao Dr. Otávio Mangabeira e Pedro Calmon (discurso) - 1937
03 - Meu Canteiro de Saudades (poesias) - 1937
04 - Poesias - Meu Canteiro de Saudades (poesias esparsas) - 1937
05 - Medicina em Pílulas e o Breviário da Saúde - 1939
06 - O Médico em Casa - Medicina caseira - 1939
07 - Poetas do Correio - Coletânea de poetas que escreveram no “Correio do Povo” - 1945
08 - Recepção a 1830 (sainete em verso) - s/ data
09 - Póstumo (poesias) - 1951
10 - Prosa (poesias) - 1951

Foi membro da Academia Rio-Grandense de Letras, onde ocupou a cadeira que tem como patrono Hilário Ribeiro.

Faleceu em Porto Alegre (RS), aos 17 de novembro de 1947.

HOJE: Empresta seu nome, para um importante departamento hospitalar, da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre (RS) - A Maternidade Mário Totta.



TURRA,  FRANCISCO SÉRGIO
Advogado

Nascido aos 16 de setembro de 1942, em “Sede Independência” interior do município de Marau (RS), quando este era apenas um distrito de Passo Fundo.

Filho de  Abel Turra  e  de Maria Valiatti

Conjugue:  Glaci Maria Bergonsi

Filhos:  Luciana, Marcio, Sérgio e Tiago

Netos:  Marcelo e Gabriella

FORMAÇÃO
Direito (1964-1968) - UPF - Passo Fundo (RS)
Comunicação (1972-1978) - PUC - Porto Alegre (RS)

ATIVIDADES ELETIVAS
Vice-prefeito de Marau (1976-1982) - pelo PDS
Prefeito de Marau (1983-1986) - pelo PDS
Deputado Estadual (1986-1990) - pelo PDS, eleito com 30.770 votos
Deputado Estadual (1991-1995) - pelo PDS, sendo Líder (1991-1992)
Deputado Federal (2003-2007) - pelo PP, sendo Presidente Estadual (2005- . . . . )

ATIVIDADES PROFISSIONAIS
Diretor de Desenvolvimento e Investimentos do BANRISUL (1995-1996) - Porto Alegre (RS)
Presidente da CONAB (1996-1998) - Brasília (DF)
Ministro da Agricultura e do Abastecimento (1998-1999) - Brasília (DF)

MISSÕES OFICIAIS AO EXTERIOR - (Como Ministro da Agricultura)
De 18 a 20 de maio de 1998 - Genebra (Suíça)
De 22 a 28 de maio de 1998 - Paris (França)
De 24 de julho a 01 de agosto de 1998 - Lisboa (Portugal) e Madrid (Espanha)
De 07 a 08 de agosto de 1998 - Argentina
De 20 a 21 de setembro de 1998 - Montevidéu (Uruguai)
De 29 de outubro a 06 de novembro de 1998 - Japão
De 01 a 03 de dezembro de 1998 - Argentina
De 18 a 19 de fevereiro de 1999 - Paraguai
De 16 a 24 de março de 1999 - Hungria e Polônia
De 10 a 15 de abril de 1999 - Estados Unidos da América
De 13 a 20 de maio de 1999 - Itália e França
De 30 de maio a 01 de junho de 1999 - Argentina
De 12 a 21 de junho de 1999 - Canadá

ATIVIDADES PARLAMENTARES
Comissões Permanentes - Câmara Federal dos Deputados
Agricultura e Política Rural - Titular (Vice-presidente)
Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural - Titular (Vice-presidente)
Finanças e Tributação - Suplente
Seguridade Social e Família - Suplente

COMISSÕES  ESPECIAIS
ALCA (Área de Livre Comércio das Américas) - Titular
Crise da PARMALAT - Suplente
PEC nº 349/01, Abolir o Voto Secreto - Titular
PEC nº 574/02, Percentual Despesas Legislativo Municipal - Titular
Biossegurança - Suplente

PARTICIPAÇÃO EM GRUPO PARLAMENTAR
Brasil-Argentina, Brasil-Canadá, Brasil-Chile (Presidente), Brasil-Coréia, Brasil-Croácia (Presidente), Brasil-França, Brasil-Itália, Brasil-Nova Zelândia, Brasil-Perú, Brasil-China e Brasil-Suíça

CONDECORAÇÕES
Título de “Prefeito Expressão Nacional do Ano” (1986) - conferido pelo jornal “Correio de Recife” (PE)
Prêmio Sprinter por um Rio Grande Maior, Destaque em Economia, ALRS (1987) - Porto Alegre (RS)
Prêmio Qualidade Administração, Ministério da Administração (1997) - Brasília (DF)
Comenda da Ordem do Rio Branco, Presidência da República (1999) - Brasília (DF)
Comenda da Ordem do Mérito Militar, Presidência da República (1999) - Brasília (DF)



VARELA,  ALFREDO AUGUSTO
Diplomata

Natural de Jaguarão (RS), nascido aos 16 de setembro de 1864 e falecido no Rio de Janeiro (RJ), aos 27 de julho de 1943.

Bacharel em Direito, Político, Historiador, Memorialista e Diplomata.

Assinava  Alfredo Varela.

Suas obras:
01 - Homenagem do Clube Republicano Rio-Grandense (discurso) - 1887
02 - O Dr. Demétrio Ribeiro - A Verdade Sobre este Homem Público (libelo) - 1890
03 - A Constituição Rio-Grandense - em Defesa da Mesma - Política - 1896
04 - A Lógica das Revoluções (opúsculo de filosofia política) - 1899
05 - Pátria (civismo) - 1900
06 - Direito Constitucional Brasileiro (reforma das instituições) - 1902
07 - Projeto de Código Financeiro da República - 1902
08 - Contra as Oligarquias (discurso) - 1903
09 - Germano Hasslocher
- Última Encarnação de Rocambole
- História do Escandaloso Aventureiro (libelo) - 1907
10 - Revoluções Cisplatinas - A República Rio-Grandense (história) - 1915
11 - Duas Grandes Intrigas; História da América Austral - 1919
12 - Tempos idos e vividos - 1920
13 - Política Brasileira-Interna e Externa - 1929
14 - História da Grande Revolução - O Ciclo Farroupilha no Brasil - 1933
15 - O Idealismo Farrapo - Tempos Idos e Vividos (discurso) - 1935
16 - Ensaios e Críticas (Formação do RGS, Marcha para o Oeste) - 1948
17 - Solar Brasílico (estudos) - 1950
18 - Índice Alfabético e Remissivo da “História da Grande Revolução” - 1955.



VARGAS NETO,  MANOEL DO NASCIMENTO
Advogado

Natural de São Borja (RS), nascido aos 30 de janeiro de 1903.

Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais, poeta e jornalista.

Sócio fundador da Estância da Poesia Crioula, de Porto Alegre.

Assinava:  Vargas Neto, V. N.

Suas obras:
01 - Tropilha Crioula (versos regionais) - 1925
02 - Gado Xucro (versos regionais) - 1928
03 - General Vargas (estudo biográfico) - 1938
04 - Gado Xucro (excerto) - 1948
05 - Tropilha Crioula - Gado Xucro (versos regionais) - 1955



VASCONCELLOS FERREIRA,  IGNÁCIO DE
Escritor

Foi um dos nossos escritores mais distintos. Seu estilo é terso, aprimorado e elegante. Ainda agora nos encanta o dizer de sua frase correta e luminosa. Os trechos dos seus escritos têm a cadência do verso.

Preocupava-o muito a maneira de contar as coisas. Não tolerava um período que não tivesse o cuidado da forma. Era um escritor de raça apurada.

Quando em 1863, Luiz Cavalcanti fundou o Jornal do Comércio, convidou para redigir a nova folha o nosso ilustre patrício. Aí, nesse posto de honra, revelou-se, desde logo, um polemista de pulso, manejando a fina iro¬nia com uma graça admirável.

Mais tarde, colaborou na Reforma, na sua fase mais brilhante, ao lado de Carlos Von Koseritz, Florêncio de Abreu, Corrêa de Oliveira e conselheiro Camargo.

Nos seus últimos anos de vida manteve aí uma seção diária, combatendo o órgão republicano. As suas “Sobre respigas” dão uma idéia exata do valor do laureado escritor. Era uma seção procurada com avidez. Nada lhe faltava também para despertar o interesse por essa produção que se recomendava pela correção da frase impecável e a graça sutil, alada.

Pena é que esse trabalho de incontestado mérito não esteja enfeixado num volume, para mais tarde poder o nosso patrício ser julgado com inteira justiça. Só assim se faria um juízo seguro do seu grande talento.

Com o título “Rimas” publicou uma coleção de versos primorosos, alguns lapidados no remanso de Viamão, a terra do seu nascimento.

Como poeta, bem poucos há que possuam o seu invejável merecimento.



VASQUES,  JOAQUIM ANTONIO
Político

Era uma figura simpática, digna do respeito de todos. Nascera na obscuri¬dade de uma família honrada, foi pouco a pouco, com o seu esforço próprio, abrindo caminho até alcançar a posição que conquistou, reto sempre, sem andar curvando a espinha diante dos grandes.

Menino ainda, quis ser tipógrafo para auxiliar, na medida de suas forças, no pão para os seus e, como a oficina é uma escola, ele aprendia o português, sem querer, compondo os belos escritos de Felipe Nery, um mestre que encantava.

Algum tempo depois de exercer esta profissão, preparou-se para obter, em concurso, um modesto emprego na tesouraria da fazenda e conseguiu isto, sem grande esforço.

Apesar de melhorar de sorte, não deixou a oficina e continuou como tipógrafo, revisor, noticiarista, tudo, finalmente. Pouco tempo depois o nosso exército marchou para o Estado Oriental e daí, até o Paraguai.

Para exercer o cargo de pagador foi designado Joaquim Antonio Vasques, por cujas mãos passaram milhares de contos, voltando ele de lá, à terra nativa, pobre como fora.

Chegando aqui começou a freqüentar a Reforma, saindo de lá a horas tardias, em palestras com os amigos ou despejando tiras para as oficinas.

Aí sentia-se bem; era o seu elemento.

Em 1878, quando foi chamado o senador Sinimbu, para organizar mi¬nistério, entrou para a pasta da fazenda o conselheiro Gaspar Martins, que convidou para seu oficial de gabinete o Cel. Vasques.

Não esteve, porém, muito tempo por lá, volvendo então ao Rio Grande como inspetor da tesouraria da fazenda. Nessa posição só fez amigos, sem nunca esquecer os seus deveres.

Continuou a freqüentar a Reforma como dantes, escrevendo, os seus apreciáveis folhetins domingueiros, sob o pseudônimo de Dejenais.

Mais de uma vez, devemos mencionar (contra a sua vontade), foi eleito à Assembléia Provincial e mais tarde, à Câmara Temporária.

Como liberal exaltado, estava pronto a servir o partido, mas sem ocupar posição política que o pusesse em foco. Outros ficariam lisonjeados com estas distinções, ele não.

Tendo desaparecido a Reforma, Vasques que foi sempre dedicado ao trabalho, consagrou as suas horas de ócio ao estudo da nossa história.

Foi nestas investigações, quando veraneava na cidade do Rio Grande, que a morte o levou dentre os vivos, a 26 de março de 1891; morreu quase na penumbra, mas não esquecido pelos corações amigos, que foram muitos, de todos os que tiveram a ventura de estar um dia, em contato com a sua imensa bondade e adorável bonomia.



VELHO JÚNIOR,  ANTONIO FRANCISCO
Almirante

Nasceu em Porto Alegre, aos 23 de abril de 1847.  Filho de Antonio Francisco Velho  e  de Dª Joaquina Caetana de Abreu Velho.

Estudou os preparatórios no Liceu D Afonso  e  no Colégio Gomes.

Em 1864 seguiu para o Rio de Janeiro, onde se matriculou aos 28 de fevereiro do mesmo ano na Escola de Marinha.

Aos 28 de dezembro de 1866, embarcou no transporte a vapor Princesa de Joinville, a fim de ir servir na esquadra em operações contra o governo do Paraguai;  chegando em Montevideo aos 7 de janeiro de 1867, passou a fazer parte da Corveta Magé seguindo, pouco depois, para o teatro da guerra.

Entrou no bombardeio de 29 de maio do mesmo ano às fortificações de Curupaiti, tendo sido elogiado, em ordem do dia, pela conduta que aí tivera. Estando no encouraçado Barroso, passou as baterias de Humaitá e Tintbá no dia 19 de fevereiro de 1868, debaixo de vivíssimo fogo. Em ordem do dia do comandante em chefe da esquadra foi mandado elogiar por haver tomado parte na passagem desses dois pontos difíceis.

Aos 26 de novembro do mesmo ano, foi louvado, em ordem do dia, por ter forçado as fortificações de Angustura, havendo recebido um ferimento no pé esquerdo. Pouco depois assistiu à passagem do Chaco para o Paraguai.

Em atenção aos relevantes serviços que prestou nas duas passagens de Angustura, foi agraciado com o “Hábito de Cristo”. Além desses serviços de guerra, onde pôs em evidência o seu sangue frio e bravura, exerceu diversas comissões importantes, dando sempre cabal desempenho.

Por decreto de 5 de setembro de 1907, foi reformado, a seu pedido, no posto de vice-almirante com a graduação de almirante; aos 15 de fevereiro de 1915, faleceu, no Rio de Janeiro, o ilustre rio-grandense que tanto se distinguira, pelos seus atos de valor, na guerra, que tivemos de sustentar contra o governo do Paraguai.



VELLINHO,  MOYSÉS DE MORAES

Advogado

Natural de Santa Maria (RS), nascido aos 06 de janeiro de 1902.

Foi Ministro do Tribunal de Contas do RGS, Ensaísta, Historiador e Crítico literário.

Usava o pseudônimo de:  Paulo Arinos.

Foi Diretor da revista de estudos Província de São Pedro, que circulou de 1945 a 1957 (21 números).

Suas obras:
01 - Raul de Leone (apreciação crítica) - 1927
02 - Machado de Assis - Aspectos de Sua Vida e sua Obra (ensaio) - 1939
03 - Eça de Queirós e o Espírito de Rebeldia (ensaio) - 1945
04 - Evocação de Lobo da Costa (palestras) - 1953
05 - Simões Lopes Neto - Contos e Lendas (biografia e antologia) - 1957
06 - O Gaúcho Rio-Grandense e o Gaúcho Platino (ensaio) - 1957
07 - Machado de Assis-Histórias Mal Contadas e Outros Assuntos - 1960
08 - Os Jesuítas no Rio Grande do Sul (conferência) - 1960
09 - A Configuração Atual do Rio Grande do Sul e sua Fronteira Histórica (ensaio-conferência) - 1962
10 - O Rio Grande e o Prata (contrastes) - 1962
11 - Capitania D’El-Rey - Aspectos Polêmicos da História do RGS - 1964
12 - Brazil South - Its Conquist Settlement - 1968
13 - Recortes do Velho Mundo (impressões de viagem) - 1970




VELOSO PEDERNEIRAS,  INOCÊNCIO
Militar
Barão de Bojurú

Nasceu em Rio Pardo (RS), em 1818  e  faleceu no Rio de Janeiro (RJ), em 1891.

Era Geógrafo, naturalista e Brigadeiro do Imperial Exército Brasileiro, tendo feito toda a Guerra do Paraguai e recebeu, por atos de bravura, a medalha da respectiva Campanha, com passador de ouro.

Foi Deputado Provincial pelo Rio Grande do Sul; era dignatário das Ordens de Cristo, da Rosa e de Aviz.

Suas obras:
1 - O Carvão de Pedra no Rio Grande do Sul
2 - Interesses materiais da Província de S. Pedro do Sul
3 - Exploração de Macuri e Jequetinhonha
4 - Breves Notícias do atraso material do Brazil

Recebeu o título de Barão, em 1889.



VERÍSSIMO,  ÉRICO  

Escritor

Romancista gaúcho, natural de Cruz Alta (RS), nascido aos 17 de dezembro de 1905.
Filho de Sebastião Veríssimo e de D. Bega.

Em 1912, entra para o Colégio Elementar Venâncio Aires, em Cruz Alta; Emília é a

sua primeira namorada. Depois, estudou no Colégio Cruzeiro do Sul, em Porto Alegre.

Regressando à terra natal, empregou-se sucessivamente no comércio e em atividades bancárias, acabando como sócio duma farmácia.

Em 02 de dezembro de 1922, sua mãe, abandona o seu pai.

Dedicava as horas vagas à leitura de Ibsen Shakespeare, Shaw, Wilde, Machado de Assis, dentre outros.

Em 1930, tendo os primeiros contos publicados em Porto Alegre, transferiu-se para a capital gaúcha e começou a trabalhar na Revista do Globo.

Em 1931, casa-se com Mafalda Halfen Volpe, com certa ajuda do seu Vicente (pai da noiva).

Encontrou, porém, seu lugar certo como secretário do Departamento Editorial da Livraria do Globo, encetando em 1932 sua brilhante carreira literária, que viria alcançar, a partir de 1938, repercussão nacional e mais tarde, em certa medida, internacional.

Em 1935, conquistou o Prêmio Aranha de romance por seu Caminhos Cruzados e o Prêmio Machado de Assis, também de romance, por Música ao Longe.

Uma primeira viagem aos EUA, forneceu-lhe material para o livro Gato Preto em Campo de Neve.

Voltou àquele país com a família, em 1943, para ministrar um curso de Literatura Brasileira, na Universidade da Califórnia, em Berkeley e, no Mils College, de Oakland.

Em 1953, assumiu a direção do Departamento Cultural da União Pan-Americana, cargo que exerceu por mais de três anos. Viajou também pela Europa e pelo Oriente Médio.


SUAS OBRAS

I - Ficção:
01 - Fantoches (1932);
02 - Clarissa (1933);
03 - Caminhos Cruzados (1935);
04 - Música ao Longe (1935);
05 - Um Lugar ao Sol (1936);
06 - Olhai os Lírios do Campo (1938);
07 - Saga (1940);
08 - As Mãos de Meu Filho (1942);
09 - O Resto é Silêncio (1943);
10 - O Tempo e o Vento ( 1948), 1º volume;
11 - O Continente (1949), 2º volume;
12 - O Retrato (1951), 3º volume;
13 - O Arquipélago (1961);
14 - Noite (1954);
15 - O Ataque (1959);
16 - O Senhor Embaixador (1965);
17 - O Prisioneiro (1967);
18 - Um Certo Capitão Rodrigo - episódio de O Continente, em separata (1970);
19 - Ana Terra, idem (1971);
20 - Incidente em Antares (1971);

II - Ficção didática e literatura infantil:
01 - Vida de Joana d’Arc (1935);
02 - Os Três Porquinhos Pobres (1936);
03 - Aventuras do Avião Vermelho (1936);
04 - Rosamaria no Castelo Encantado (1936);
05 - Aventuras de Tibicuera (1937);
06 - Outra Vez os Três Porquinhos (1938);
07 - Vida do Elefante Basílio (1938);
08 - O Urso com Música na Barriga (1938);
09 - Viagem à Aurora do Mundo (1939);
10 - Aventuras no Mundo da Higiene (1939);

III - Viagens:
01 - Gato Preto em Campo de Neve (1941);
02 - A Volta do Gato Preto (1946);
03 - México. História duma Viagem (1957);
04 - Israel em Abril (1969).

Em 1973, embora indicado por unanimidade, recusa-se a aceitar o título de “Doutor Honoris Causa” da UFRGS, devido à situação de verdadeira intervenção militar que vive a universidade e lança o primeiro volume de Solo de clarineta.

O escritor gaúcho Érico Veríssimo faleceu numa tarde de 28 de novembro de 1975, em Porto Alegre (RS).



VERÍSSIMO,  LUÍS FERNANDO

Escritor

Luís Fernando Veríssimo nasceu em Porto Alegre, aos . . . . . . . . . . . . . de 1936;  filho do escritor Érico Veríssimo e de Dª Mafalda.

Em 1942, a professora Liba Knijinik inicia sua alfabetização.

Em 1943, seu pai é convidado para lecionar na Universidade de Berkeley, na Califórnia (EUA); a sua família vai junto e lá permanecem por dois anos.

Em 1944, o menino Luís Fernando freqüenta a Argone School, em S. Francisco (Califórnia – EUA).

Em 1950, os irmãos Luís Fernando e Clarissa (juntamente com o primo Carlos Eduardo Martins), editam o jornal O PATENTINO (que veicula notícias da família, colado na parede do banheiro da casa); ainda neste ano Luís estréia como torcedor, assistindo em Porto Alegre ao jogo Iugoslávia x México (pela Copa do Mundo); nascia uma fanático.

Em 1952, cursa a 3ª série ginasial, no IPA (Instituto Porto Alegre).

Em 1954, viaja novamente para os EUA, onde seu pai vai exercer as funções de “Presidente do Departamento de Assuntos Culturais da União Pan-Americana” - por 4 anos. Luís Fernando inicia seus estudos de música; torna-se saxofonista por acaso; pretendia estudar pistom, mas o único instrumento que encontrara para alugar foi o saxofone. Viaja freqüentemente de Washington a New York. Sua inclinação pela música leva-o ao Birdland (um clube de jazz), onde chegara a ouvir Charles Parker, Dizzy Gilespie e outros nomes famosos.

Em 1956, conclui o curso secundário, no Roosevelt Highscool, Washington (EUA); retorna ao Brasil com a família.
Começa a trabalhar na Editora Globo de Porto Alegre (setor de Arte e Planejamento), quando, entre outras atividades, é incumbido da criação da capa do romance O RETRATO DE ÉRICO VERÍSSIMO.

Em 1959, organiza com um grupo de amigos, o Conjunto Melódico Renato e seu Sexteto do mundo (porque tinha nove elementos).

Em 1962, transfere-se para o Rio de Janeiro, exercendo lá diferentes atividades: tradutor, secretário, redator de publicações comerciais. Tudo o que começou a escrever, deu certo. Talvez a vocação estivesse lá o tempo todo, só esperando a hora de aparecer.

Em 1964, casa-se com Lúcia Helena Massa, as colega de trabalho na redação do Boletim da Câmara Municipal de Vereadores do Rio de Janeiro.

Em 1965 (06 de janeiro), nasce Fernanda (sua primeira filha).

Em 1966, com a família, fixa residência em Porto Alegre - certa feita, disse ele: “No Rio de Janeiro morei quatro anos. Tentei a vida, mas a vida não quis nada comigo. Mas foi no Rio de Janeiro que conheci Lúcia, com quem me casei e tive minha primeira filha. É uma cidade de que gosto muito . . . mas, não sei se voltaria a viver lá. Em Porto Alegre, tenho a sensação de alguma coisa sólida sob os meus pés.”

Em 1967, ingressa no jornal ZERO HORA, como copy-desk, do jornalista Paulo Amorim (então chefe da redação). Aos 03 de junho, nasceu Mariana (sua segunda filha).

Em 1969, ingressa na “MPM Propaganda” como redator da publicidade. Publica suas primeiras crônicas em coluna diária que passa a assinar na ZERO HORA. Dizia ele: “Eu não caí na crônica, ela caiu em mim.” Torcedor do Sport Club Internacional de Porto Alegre, suas primeiras crônicas falam do recém inaugurado Estádio Beira-Rio.

Em 1970, transfere-se para o jornal FOLHA DA MANHÃ, de Porto Alegre. Nasce Pedro (o seu caçula); o acontecimento dá origem à crônica ALERTA, onde está mesclado o sentimento de alegria do pai e do torcedor colorado. Participa do 1º Salão Gaúcho de Arte Publicitária e conquista o 1º Lugar, em “Campanha de Propaganda Institucional” e em “Anúncios Institucionais.”

Em 1973, reúne em O POPULAR (Rio de Janeiro), crônicas diárias publicadas em imprensa.

Em 1974, o crítico Wilson Martins, na seção ÚLTIMOS LIVROS, do jornal O ESTADO DE SÃO PAULO, chama a atenção para o potencial expressivo espírito crítico do escritor estreante. (Suplementos Literários, ESTADO DE SÃO PAULO - de 30-06-1974). Retorna para o jornal ZERO HORA, onde se firma como cronista.

Em 1975, é publicado o livro A GRANDE MULHER NUA.
Participa da antologia QI 14.
Passa a publicar no JORNAL DO BRASIL (caderno B), uma crônica dominical e cartuns nas segundas-feiras.
Nascem as COBRAS; disse ele: “As cobras surgiram porque eu sempre gostei muito de desenhar, mas nunca desenhei muito bem. Cobra é fácil de desenhar, porque não tem mão, só pescoço e uma cabeça.
Sempre gostei muito de histórias em quadrinhos, cartum, do desenho e quando comecei a ter uma coluna no jornal, aproveitei para me divertir como o desenho; e é isto, não tem nenhuma conotação.” -
Aos 28 de novembro, morre seu pai, quando afirmou Luís Fernando: “Se fosse escolher uma só palavra para definir meu pai, escolheria COERÊNCIA.
Porque acho que ele teve uma vida coerente, foi coerente com seus amigos e consigo mesmo, envelheceu, até, coerentemente. Foi o mesmo homem até ao fim. Não sucumbiu à amargura, nem à vontade.
Foi politicamente coerente, também, cisa nada comum entre os intelectuais de sua geração. foi, principalmente, um homem bom; não no sentido cristão de virtuoso, mas no sentido geral de solidário, afetuoso.” (MANCHETE - 16-06-1982).
É publicado o livro AS COBRAS (uma coletânea de seus trabalhos, na FOLHA DA MANHÃ).

Em 1976, o escritor completa 40 anos.
O fato dá origem à crônica A CASA DOS QUARENTA (refletindo sua preocupação com o tempo e o sentido da vida).
É publicado seu primeiro livro em inglês BITS AND PEICAS, com tradução de Ana Beatriz Davi Borges Duarte.
Trabalhos seus são incluídos em O TUBARÃO II e ANTOLOGIA BRASILEIRA DO HUMOR.

Em 1977, é publicado o livro AS COBRAS E OUTROS BICHOS, reunindo as melhores tiras de desenho publicadas na imprensa, quando disse ele: “Se eu tivesse talento para isso, gostaria de ser apenas cartunista.”
É publicado também, AMOR BRASILEIRO.

Em 1978, participa com outros cartunistas da antologia HUMOR DE SETE CABEÇAS.
É publicado o livro O REI DO ROCK-CRÔNICAS.
Também é publicado o livro A MESA VOADORA (crônicas).
Ainda é publicado o livro PEGA PRÁ KAPPUT (em co-autoria com Moacyr Scliar, Josué Guimarães e Edgar Vasques).

Em 1979, é publicado o livro ED MORT & OUTRAS HISTÓRIAS.
Luís Fernando é um nome consagrado nacionalmente. - Milôr Fernandes dedica-lhe a metade da página que assina na revista VEJA - “Na Casa dos 50, inspirado em Na Casa dos 40 (número de 07-10-1979).
Ainda é publicado o livro AS COBRAS DO VERÍSSIMO.

Em 1980, é publicado o livro SEXO NA CABEÇA.

Em 1981, é publicado O ANALISTA DE BAGÉ.
Também participa com outros cronistas do país, da série PARA GOSTAR DE LER.
Participa ainda no Rio de Janeiro, da amostra da caricatura e desenho de humor, no livro CARICATURAS I (promoção da FUNARTE).

Em 1982, recebe o prêmio Abril, para Humorismo jornalístico.
É encenado O ANALISTA DE BAGÉ, tendo como diretor o protagonista Paulo Cézar Pereira.
É publicado o livro OUTRAS DO ANALISTA DE BAGÉ; O GIGOLÔ DAS PALAVRAS.
O professor Celso Pedro Luft, publica em sua coluna diária no CORREIO DO POVO, a série O Gigolô Das Palavras, na qual a crônica de Luís é amplamente explorada com vistas ao estabelecimento do verdadeiro papel da gramaticagem com relação à língua, quando este mestre disse: “A gramática precisa apanhar todos os dias, para saber quem é que manda.”
Ainda, aos 15 de dezembro passa a assinar a página de humor da revista VEJA.

Em 1983, é publicado o livro A VELHINHA DE TAUBATÉ .
Recebe o prêmio Abril, para melhor matéria de humor jornalístico do ano, por suas criações - Morri e agora?
Réveillon da década e Prêmio Arghi. Participa, como escritor convidado do 1º Seminário de Literatura Brasileira, de Passo Fundo (RS).
Participa também, com outros cronistas do país, do seminário O Papel da Crônica na Literatura Brasileira, na Universidade de Fortaleza (CE).
É publicado o livro O ANALISTA DE BAGÉ (em quadrinhos, com a colaboração do cartunista Edgar Vasques).

Em 1984, é relançado o livro O POPULAR (uma edição revisada e atualizada). Ocorre o lançamento de AS COBRAS, em desenhos animados, produção de Otto. Também é publicado o livro A MULHER DO SILVA.

Em 1985, é publicado o livro A MÃE DE FREUD. São publicados em quadrinhos > ED MORT, PROCURANDO O SILVA e AVENTURAS DA FAMÍLIA BRASIL , com desenhos de Miguel Paiva.

Em 1986, redige texto que integra a edição do Relatório Anual da SAMRIG, trabalho cujo tema é A ARTE DA TERRA, de que participam também Leonid Streliaev e João Giuliane Filho.
É apresentada a comédia GATÃO DE ESTIMAÇÃO, de Gerard Lauzier, com tradução de Luís Fernando e direção de Cecil Thiré, no Teatro OSPA. Reside com a família em Roma (Itália), durante seis meses.
Completa 50 anos de idade, recebendo inúmeras homenagens através de crônicas publicadas em diversos jornais.

Em 1987, é encenado o enquete AS TIME GOES BAR, dirigido por Décio Antunes e apresentado duas vezes por semana no Bogart Bar, em Porto Alegre.
São publicados O MARIDO DO DR. POMPEU, ZOEIRA e em quadrinhos ED MORT EM DISNEY WOLD BLUSS, com desenhos de Miguel Paiva.

Em 1988, sua coletânea de textos ENCONTROS E DESPEDIDAS, montada por “O Grupo”, com direção de Antônio de Oliveira, é apresentada no Teatro Renascença, integrando o projeto Esquetes de Renascença.
É publicado O JARDIM DO DIABO (romance) e em quadrinhos, com desenhos de Miguel Paiva e publicado ED MORT COM A MÃO NO MILHãO.

Em 1989, à partir de julho, passa a ter uma coluna diária em O ESTADO DE SÃO PAULO.
Inicia a publicação de AVENTURAS DA FAMÍLIA BRASIL, semelhantemente, no Caderno 2, de O ESTADO DE SÃO PAULO.
Sua primeira peça teatral BRASILEIROS E BRASILEIRAS é encenada na “Casa de Cultura Laura Alvin”, no Rio de Janeiro, com direção de Cecil Thiré. Participa como palestrante, do II Seminário Nacional de Literatura, Educação e Pós-Modernista, promovido pela PUC-RS, no Instituto Coethe e do 1º Congresso Estadual de Cultura, promovido pelo Godec, em Porto Alegre. Participa, com 13 profissionais do sul do país, da mostra de cartuns, ilustrações e charges que integrou o XII Congresso de Pesquisadores de Comunicação, promovida pela Universidade Federal de Stª Catarina, em Florianópolis.
São publicados ORGIAS e em quadrinhos com desenhos de Miguel Paiva ED MORT EM CONEXÃO NAZISTA.
É publicado na Itália ED MORT ALLA RICERCA DI ROSSI , com desenhos, tradução de e adaptação de Miguel Paiva.
É publicado seu texto ANOS 50, À BEIRA DO TAPETE, À BEIRA DO ESPAÇO, integrando a edição do Relatório Anual da SAMRIG, cujo tema é SOMBRAS E LUZES, UM OLHAR SOBRE O SÉCULO.

DIFERENÇA DE SONHO PARA PESADELO - Luís Fernando Veríssimo

SONHO:
Comer um churrasco feito por gaúchos, numa praia nordestina, com mulheres mineiras, organizado por paulistas e animado por cariocas.

PESADELO:
Comer um churrasco feito por mineiros, numa praia gaúcha, com mulheres nordestinas, organizado por cariocas e animado por paulistas.



VICTOR HUGO ALVES DA SILVA

Jornalista e Cantor

O cantor e jornalista Victor Hugo Alves da Silva deixa a direção da FM Cultura para assumir como diretor geral da secretaria de estado da Cultura, em substituição a Dilan Camargo que pediu exoneração do cargo para atender ao chamado de um concurso no qual fora aprovado.

O jornalista cantor cumpre também a função de secretário substituto na Sedac, cuja função é “ajudar na execução dos projetos do secretário de Cultura”, como define o próprio Victor Hugo; a função que também lhe atribui a condição de secretário substituto do titular Roque Jacoby.


O currículo de Victor Hugo

O novo secretário substituto da secretaria de cultura do Estado é formado em Comunicação Social, com especialização em Jornalismo pela PUC e radialista profissional. Seu primeiro destaque como artista foi em 1977, como cantor, ao vencer o Festival Estadual Estudantil da Canção em Três de Maio.

Representou o Brasil por três vezes no Festival Mundial da Juventude e dos Estudantes - em Moscou 1985, na Coréia do Norte em 1989 e, em Cuba 1997. Em 1988 recebeu o Prêmio Sharp como revelação na categoria Música Popular Brasileira. A convite da Unesco, em 1989, cantou em Paris nas comemorações dos 40 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Victor Hugo é um artista do ciclo dos festivais, nos quais já recebeu inúmeras vezes a premiação de melhor intérprete.

Foi diretor do Instituto Estadual de Música da Secretaria no governo de Antônio Britto. Trabalhou na TV Assembléia como apresentador do programa Mateadas e foi coordenador de programação da Rádio Rural, emissora da RBS. Foi presidente de entidades de classe como a Cooperativa dos Músicos de Porto Alegre - COOMPOR - e da Associação de Compositores, Intérpretes e Músicos Nativistas - ACIMN.

No atual governo do Estado, o cantor e jornalista Victor Hugo exerceu a função de diretor da Rádio Cultura FM, do qual se desligou para assumir a Direção Geral e o cargo de secretário adjunto da secretaria de Estado da Cultura.



VIEIRA BRAGA,  ALBERTO

Engenheiro

Nasceu na cidade de Pelotas e aí estudou os preparatórios. Seguiu depois, com 17 anos de idade, para Minas Gerais a fim de freqüentar a Escola de Engenharia de Ouro Preto, que era então dirigida pelo sábio Dr. Gorceix de quem se tornou dedicado amigo. Concluindo o curso acadêmico, com o valor e brilhantismo, partiu para o Estado do Amazonas, que desde criança o seduzia pela exuberância do seu solo.

Aí chegado, o Dr. Eduardo Ribeiro, presidente do Estado, o distinguiu com o cargo de secretário da Agricultura e Colonização, pondo desde logo aprova nessa elevada posição os seus grandes merecimentos.

Pouco depois contraiu núpcias com urna moça das principais famílias de Manaus pela qual se apaixonara com o ardor de um meridional. Por infelicidade, em breve, passou pelo desgosto de perdê-la na flor dos anos. Torturado por um cruel infortúnio, veio em busca de alívio e de conso¬lo ao seio da família, que o estremecia.

No isolamento em que vivia, e como para esquecer as mágoas que lhe envenenavam a existência, entregou-se ao estudo da vida dos cientistas eméritos. Era sócio correspondente da sociedade de Meteorologia e Física do Glo¬bo, de Bruxelas, da sociedade Astronômica de Paris, e da de Geografia do Rio de Janeiro.

Ainda moço, minado por pertinaz enfermidade, veio a falecer na terra que lhe foi berço, a 02 de julho de 1904.



VIEIRA BRAGA,  JOÃO FRANCISCO

Conde de Piratiní

Nasceu em Piratiní (RS), em 1793 e faleceu em Pelotas aos 09 de maio de 1887, contando noventa e quatro anos de idade; era filho do Capitão João Francisco Vieira Braga e de Maria Angelina Barbosa, sendo neto materno do Capitão Manoel José de Alencastro (que foi Intendente da Real Fazenda e também fazendeiro no Caí) e de Maria da Luz (que era filha de Francisco Xavier Azambuja, dos primeiros povoadores do Rio Grande do Sul) e de Rita de Menezes, (filha de Jerônimo Dorneles de Menezes e Vasconcelos e de Lucrécia Leme Barbosa, de nobre ascendência bandeirante).

Casou no Rio Grande (RS), com Francisca Cecília Firmiana Rodrigues do Pilar, natural do Rio Grande e filha do Capitão Domingos Rodrigues e de Luzia Firmiana do Pilar.

Francisca Cecília Firmiana do Pilar faleceu com o título de Viscondessa de Piratiní, em 1873, não deixando descendência.

Aos 07 de abril de 1820, João Francisco doou 41:200$000 (quarenta e um conto e duzentos mil réis) em moeda forte, para o estabelecimento da Colônia de Suíços.

Por Alvará de 11 de abril de 1821, recebeu de S. M. REAL, o Hábito de Cristo. No ano seguinte contribuiu, espontaneamente com a quantia de 7:000$000 (sete contos de réis), para a sustentação da Independência do Brasil e da guerra contra Buenos Aires, na qual tomou parte como Capitão da 3ª Companhia do Batalhão de Milícias da Província do Rio Grande do Sul e em cujo posto foi efetivado, aos 22 de dezembro de 1823.

Sendo administrador do contrato dos quintos dos couros nesta Província, deu ao Império do Brazil, um lucro de mais de cem contos de réis, em dois anos e meio; era negociante matriculado na Junta do Comércio e proprietário.

Por ocasião das Campanhas do Sul, forneceu o Imperial Exército Brasileiro com gêneros alimentícios comprados com seu próprio capital, e pagou outros subministrados pela Repartição do Comissariado, em virtude de ordem da Junta da Fazenda, no valor de cerca de 194:000$000 (cento e noventa e quatro contos de réis), sem que daí lhe resultasse o menor interesse pecuniário, e sim à Nação, que lucrou para mais de 40:000$000 (quarenta contos de réis), e demonstrando assim o zelo, atividade e prontidão com que ele acudia às precisões do Estado Imperial. Fez, pouco depois, oferta de três escravos seus, de profissão calafates, para servirem, gratuitamente, na armação de iates destinados a aumentar a força da Imperial Aramada, no Rio da Prata, e também aprontou um armazém seu com tarimbas para cem praças da Divisão Expedicionária, que se achavam sem barracas.

Em 1827, foi agraciado com a venera de Cavaleiro da Imperial Ordem do Cruzeiro e, no ano seguinte, aos 15 de dezembro de 1828, se reformou no posto de Capitão do Batalhão de Caçadores Nº 46, da segunda linha do Imperial Exército.

A pedido do Presidente da Província, Salvador José Maciel, encarregou-se de fornecer carnes verdes para o consumo do Imperial Exército e Marinha, no ano de 1829, com o que livrou as forças armadas de duras privações e a Fazenda Pública de sofrer pesadas perdas. Neste mesmo ano houve falta de farinha no Rio Grande e, a requisição do Comandante Militar da praça, comprou a quantia que era necessária, evitando assim, uma sublevação na tropa. Foi então honrado com o Oficialato da Imperial Ordem do Cruzeiro, aos 22 de outubro de 1829.

Mais tarde, foi nomeado Diretor das Obras do novo edifício da Alfândega da cidade do Rio Grande, cargo que desempenhou com grande zelo e economia. Exerceu na mesma cidade, os seguintes cargos: Juiz Almotacel, em 1814; Tesoureiro do Selo, desde 1815 até 1821; Vereador, em 1818, 1824 e de 1829 a 1832; Membro da Comissão Encarregada dos Melhoramentos da Barra do Rio Grande, em 1821; Agente da subscrição para aumento da Imperial Marinha de Guerra, em 1823; Juiz, em 1824, 1831 e 1833; Eleitor, em 1824, 1828 e 1833; Membro da Comissão Externa encarregada de indicar ao Conselho da Província, os meios de fomentar o comércio, agricultura, indústrias, artes, etc., em 1824; Membro do extinto Conselho Geral, em 1831; Juiz de Paz, em 1833; Deputado à Assembléia Provincial, em 1835; e Vice-presidente da Província, em 1838.

Promoveu a abertura do “Canal da Barra” da cidade do Rio Grande. Influiu, quanto em si estava, para que a Câmara Municipal de Pelotas se reunisse e se declarasse contra a sedição de 20 de setembro de 1835 (Revolução Farroupilha), e ante todos perigos e dificuldades, distribuiu proclamações no sentido da ordem e da defesa do TRONO IMPERIAL, gravemente ameaçado pelos rebeldes farroupilhas, contra os quais reuniu gente armada e prontificou diversas peça de artilharia, fazendo todos os esforços para derrotá-los; embarcou aos 24 de outubro de 1835, para o Rio de Janeiro, em companhia do Presidente Fernandes Braga a bordo da escuna “Parobé”, desamparando todos os seus bens nesta Província, do que lhe resultou um prejuízo de cerca de 80:000$000 (oitenta contos de réis).

Aos 13 de julho de 1841, foi nomeado Guarda Roupa, da Casa de S. M. I.; aos 05 de março de 1845, passou a Viador da mesma Augusta Casa; por Alvará de 03 de agosto de 1848, teve a Mercê do Fôro de Fidalgo Cavaleiro da Imperial Casa e em 17 de julho de 1872, recebeu a Comenda da Imperial Ordem da Rosa. Era Cavaleiro da Imperial Ordem de Cristo e Comendador da Imperial Ordem do Cruzeiro.

Aos 02 de dezembro de 1854, foi agraciado com o título de Barão de Piratiní; por Decreto Imperial de 29 de dezembro de 1866, foi elevado a Visconde de Piratiní e, aos 20 de junho de 1885, S. M. I. novamente o elevou, agraciando-o com o título de Conde de Piratiní. Era amigo pessoal de S. M. I. a quem hospedou um vez.

Senhor de grande fortuna, por três vezes contribuiu com avultadas somas para a Guerra do Paraguai. Atestam sua benemerência, a sua prestabilidade pessoal, a influência de sua riqueza, a Santa Casa de Misericórdia, o Asilo de Mendigos, a Biblioteca Pública, o Asilo de Órfãos, a Beneficência Portuguesa, as corporações religiosas e as empresas de utilidade pública de Pelotas.



VIEIRA DA CUNHA,  ANTÔNIO

Barão de Araripe

Natural de Porto Alegre (RS), nascido em 1830; filho de Antônio Vieira da Cunha e de Rita Vieira da Cunha.

Por Imperial Decreto de 20 de março de 1875, foi agraciado com o título de Barão de Araripe, em atenção aos assinalados serviços prestados à Pátria, por ocasião da Guerra do Paraguai.

Faleceu em Porto Alegre (RS), aos 30 de novembro de 1882.



VIEIRA DA CUNHA,  JOAQUIM

Advogado

Nasceu aos 03 de março de 1803, no município de Piratiní (RS), onde seus pais possuíam urna grande estância. Era filho legítimo de José Vieira da Cunha e de D. Antônia Luiza Vitorina da Silva.

Desde bem criança revelara brilhante inteligência e paixão pelos livros. Seu tio e padrinho, o padre João Vieira da Cunha, sacerdote de grandes virtudes, tomou a si a educação do rapaz, levando-o para Portugal, a fim de o matricular na Universidade de Coimbra e onde ele se bacharelou em Direito, em 1827.

Nessa época, aí estudava também o Barão de Cotegipe, que foi sempre seu amigo, apesar de militarem em política em arraiais contrários.

Concluindo os estudos acadêmicos foi viajar pela França, Espanha e Inglaterra, país este que, na sua opinião, podia servir de modelo a todos os outros.

Depois dessa excursão, que não foi curta, percorreu diversas províncias do país, com vivo interesse de um viajante instruído.

Estabeleceu, então, a sua tenda de trabalho em Pelotas, dedicando-se à magistratura, onde pôs em evidência o seu esclarecido espírito de justiça. Era juiz de fora quando foi nomeado vice-presidente da Província, cargo que exerceu diversas vezes.

Rebentando a revolução de 1835, foi deportado para o Rio de Janeiro, em vista de suas íntimas relações de amizade com o Cel. Bento Gonçalves da Silva e com o Cel. Antônio de Souza Netto.

Voltando mais tarde ao Rio Grande, esteve ameaçado de ser assassinado e, se não fosse o refúgio que o almirante Greenfeld, seu compadre e amigo lhe deu em um navio de guerra, é bem possível que os seus desafetos conseguissem o seu infernal intento.

Logo, porém, que terminou a guerra farroupilha, foi eleito deputado à Câmara Temporária, pelo partido liberal a que sempre pertenceu.

Do seu partido, recebeu as maiores demonstrações de apreço, sendo eleito deputado durante muitos anos à Assembléia Provincial e incluído duas vezes na lista tríplice, para senador, sendo em uma delas o mais votado da chapa.

Eis em resumo a vida desse homem ilustre, que honrou a sua Pátria, servindo-a com o maior carinho e devotação.

Tendo herdado de seus pais uma boa fortuna, acabou os seus dias na pobreza, aos l0 de julho de 1887.



VIEIRA DA CUNHA,  LIBERATO SALZANO

Advogado e Político

Natural de cidade de Cachoeira (RS), nascido aos 20 de dezembro de 1920; filho de Antônio Peixoto da Cunha, nasceu aos 05-12-1898, em Cachoeira (RS) e faleceu aos 26-03-1939, em Cachoeira do Sul (RS); e de Angelina Salzano Vieira, nasceu aos 24-01-1899, Nápoles (Itália) e faleceu aos 14-04-1970, em Cachoeira do Sul (RS).

Casou-se com Jenny Conceição Carvalho de Figueiredo (15-11-1921 / 07-04-1956), filha de Achyles de Lima Figueiredo (23-04-1892 / 13-06-1997) - 1º Revendedor de máquinas da linha CASE do Brasil e de Delfina Carvalho (15-01-1892 / 09-02-1981); entre os filhos do casal, conta-se Liberato Fº.

Foi um católico virtuoso e exemplo de homem público que tão alto elevou sua terra natal, como Prefeito de Cachoeira do Sul (1947-1950), Deputado Estadual do RGS (1951-1954) e Secretário de Educação do RGS (1955-1956).

No exercício do cargo, faleceu tragicamente em acidente aéreo na cidade de Bagé (RS), juntamente com sua dileta esposa, aos 07 de abril de 1956.

Seu nome, é o atual nome da antiga “Rua 1º de Março” - porque nessa rua moravam os genitores de sua dileta esposa.

Seus concidadãos lhe prestaram uma homenagem, elevando-lhe um BUSTO, em sua terra natal, na “Praça Dr. Balthazar de Bem” - onde se lê a seguinte “máxima” de sua autoria:

Através de Decreto Municipal, o Prefeito de Cachoeira do Sul, conferiu com justiça a perpetuação de sua memória, renominando a antiga “Rua 1º de Março”, de Rua Dr. Liberato Salzano V. da Cunha, via pública SE-NW, que tem seu início no Banhado dos Pelzer e termina na Rua Andrade Neves, situando-se paralela à três quarteirões da Rua 7 de Setembro.



VEIRA DE CARVALHO,  ALEXANDRE

Conde de Lajes

Natural do Rio Grande do Sul, onde nasceu em 1817; era filho do “Marquês das Lajes”

Em 1829, foi agraciado com o título de Barão de Lajes, por D. Pedro I e em 1866, foi elevado a Conde de Lajes, por D. Pedro II.

Faleceu, em 1876.



VIEIRA DE CASTRO,  CUSTÓDIO

Médico

Natural de Rio Grande, nasceu aos 2 de janeiro de 1846, o Dr. Custódio Vieira de Castro. Eram seus pais o negociante Domingos Vieira de Castro e D. Clara dos Reis Castro.

Na terra do seu nascimento, o Dr. Vieira de Castro freqüentou o colégio dirigido pelo professor José Vicente Thibanto.

Aos quatorze anos, já com alguma soma de conhecimentos, seguiu para a Alemanha, onde, em 1873 doutorou-se em medicina na Universidade de Wiceburgo, no reino da Baviera.

Estudava ainda aí, quando irrompeu a guerra franco-prussiana, tendo tomado parte nessa campanha, como médico voluntário, a convite do Conselheiro Von Linhart, diretor daquela universidade e chefe do corpo de saúde do exército da Baviera.

Concluída a guerra, em atenção aos bons serviços que prestou foi-lhe conferida uma medalha comemorativa da campanha.

Em 1873, regressou á terra natal para matar saudades dos que lhe eram caros, voltando, pouco depois, à Europa em objeto de estudos, visitando Paris, Londres e Viena.

Só em 1876 se estabeleceu definitivamente na cidade do Rio Grande, onde, em pouco tempo, granjeou a estima dos seus contemporâneos, pela sua competência, nobreza de sentimentos e austeridade de caráter.

Filiou-se ao partido conservador, tendo exercido diversos cargos de confiança política muito a contragosto.

Sendo-lhe oferecida a vice-presidência do Rio Grande, escreveu ao Dr. Rodrigo Vilanova, que o considerava imensamente, nos termos mais delicados, merecendo essa elevada distinção, muito acima, como ele dizia, dos seus poucos méritos.

Era médico e só isto queria ser, não ambicionando nada mais. Viveu sempre retraído, entregue à prática do Bem, acudindo aos enfermos e repartindo com os pobres o que lhe davam espontaneamente.

Assim, com esta invariável norma de conduta, fechou os olhos para sempre a 4 de maio de 1908, deixando-nos os mais belos exemplos de coragem, abnegação e desinteresse.

Quem escreve estas linhas o faz cheio de gratidão pela memória querida do ilustre médico, que, numa situação dolorosa o viu á cabeceira, dispensando-lhe cuidados e carinhos de um velho amigo de infância.



VIEIRA DE FARIA,  TASSO

Médico Catedrático

Natural de Porto Alegre (RS), nascido aos 18 de novembro de 1915; fez os estudos primário e secundário no Ginásio Estadual Anchieta, em Porto Alegre (RS).

Diplomou-se pela Faculdade de Medicina, da Universidade de Porto Alegre, no ano de 1939, havendo defendido tese de doutorando sobre A tensão arterial média na prova anfótropa sino-carodiana (Método esfigmo-tensiométrico. Indivíduos sãos). Cadeira de Clínica médica.

Especializou-se em Ginecologia e cirurgia geral. Freqüentou, em Porto Alegre, os cursos de aperfeiçoamento, em cirurgia, ministrado pelo Professor Jacy Monteiro (1939), em cirurgia da tuberculose pulmonar (1941), ministrada pelo Dr. Cesar Ávila.

Participou do 1º Congresso Médico da Fronteira (Livramento, 1941). Além da tese inaugural, publicou vários trabalhos, entre os quais, conferências, como:
01 - Curso Erudição Médica sobre a inervação centrífuga cardíaca - 1940
02 - Escôrço histórico dos processos de exploração cirúrgica - 1941
03 - A moléstia ulcerosa - 1941
04 - Ferimentos do coração - 1941
05 - O meu elogio a Graça Aranha - 1941
06 - Dicionário Histórico Bio-Bibliográfico de Medicina
07 - O estranho relato do Dr. James

Foi membro da Sociedade de Medicina e Cirurgia de Porto Alegre; da Academia Literária Sul-Riograndense (Cadeira Graça Aranha); fundador e Secretário da “Casa do Intelectual”; membro correspondente da “Confraternité Universelle Balsacienne” (Montevidéu).

Desempenhou as funções de Assistente da Cadeira de Clínica Propedêutica Cirúrgica, Serviço do Professor Elyseu Paglioli, na Faculdade de Medicina, da Universidade de Porto Alegre; de médico cirurgião do Hospital São Francisco; cirurgião da Santa Casa de Misericórdia e Diretor do Ambulatório de Medicina de Homens, desse mesmo estabelecimento.

Casado com Maria Alves de cujo casamento teve os seguintes filhos:
01 - Maria;
02 - Vera Regina;
03 - Tasso Osvaldo.



VIEIRA FERNANDES,  JOÃO DAMASCENO

Escritor

A 6 de maio de 1853, 16 nasceu em Porto Alegre, numa modesta vivenda, à rua da Passagem, hoje General Salustiano, o distinto escritor João Damasceno Vieira Fernandes. Eram seus pais José Vieira Fernandes e Dª Belmira Vieira do Nascimento.

Bem criança, Damasceno Vieira matriculou-se na aula pública de Bibiano Francisco de Almeida, homem de grande saber e de uma mordacidade que explodia, ora na prosa, ora no verso, com uma graça encantadora, apesar do amargor do veneno.

Na doce convivência com o ilustre preceptor, desabrochou a branca flor da inteligência do menino que, mais tarde, havia de dar lustre às letras de seu torrão natal. De Damasceno Vieira pode-se dizer, com inteira justiça: o discípulo honrava o mestre.

Concluído o curso primário com aproveitamento digno de nota, matriculou-se na Escola Normal, bela instituição que desapareceu, mas que é ainda lembrada com saudade por quantos se interessam pelo ensino popular.

Nesse Instituto, Damasceno Vieira deixou a mais honrosa tradição do amor ao trabalho e do brilhante talento, já então revelado em produções que apareciam na imprensa.

Não quis, entretanto, seguir o magistério público;  preferiu a carreira do funcionalismo que se lhe apresentava mais risonha.

Com certeza influiu no seu ânimo a vida penosa do velho mestre, cheio de tanto valor e completamente esquecido entre as quatro paredes da escola, como se fosse uma mediocridade, quando os incapazes viviam cercados de consideração e eram conduzidos em andores, à luz de fogos de bengala.

A 6 de julho de 1874, Damasceno Vieira iniciou a carreira pública como praticante da extinta tesouraria da fazenda deste Estado. Possuidor de incontestável merecimento, em poucos anos obteve vários acessos, apesar do despeito dos nulos e invejosos.

Com o advento da República, foi perseguido como inimigo do novo regime e assim tantos outros que honravam o funcionalismo público.

Justificando-se cabalmente das injustiças que lhe eram feitas, reconquistou o lugar que havia perdido, indo então servir na Alfândega de Santos e mais tarde, na da Bahia como chefe da seção.

Foi nessa elevada categoria que a morte o surpreendeu a 6 de março de 1910. Com o seu desaparecimento perdeu o quadro dos empregados da Fazenda um digno servidor por todos os títulos.

Damasceno Vieira foi um dos mais fecundos talentos do Rio Grande do Sul. Como prosador e poeta deixa-nos um grande número de livros que atestam brilhantemente o seu elevado valor de homem de letras; e com a mesma facilidade com que tornava harmonioso um trecho de prosa correta e fluente, produzia um belo soneto. Conhecedor de todos os segredos da matéria, os seus versos eram impecáveis, como dão testemunho os da Musa Moderna.

Além de escritor, Damasceno Vieira era orador. E falava com a mesma elegância e correção com que escrevia.

Bela figura, fronte espaçosa, coroada pela neve precoce dos anos, a sua palavra vibrante impressionava vivamente o auditório que tinha diante de si.

Podiam apanhá-lo de surpresa à mesa de um banquete ou em uma sessão literária, ele guardava sempre a mesma envergadura de escritor elegante.

O seu espólio literário consta das seguintes obras:
01 - Ensaios tímidos, 1878;
02 - Auroras do Sul, 1879;
03 - A Musa Moderna, 1885;
04 - Escrínios, 1892;
05 - Poemetos e Quadros, 1895;
06 - História de um amor, 1876;
07 - Noites de Verão, 1888;
08 - Arnaldo, 1886;
09 - Anália, 1899;
10 - A voz de Tiradentes, 1891;
11 - Os gaúchos, 1891;
12 - Esboços literários, 1883;
13 - Através do Rio da Prata, 1890;
14 - Adelina, 1880;
15 - A flor de manacá, 1900;
16 - A critica da Literatura, 1907;
17 - Brinde a Olímpio Lima, 1897;
18 - A Castro Alves, 1890.

Pertencia a diversas sociedades:
01 - Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro;
02 - Nova Cruzada, de que era cavalheiro de Honra;
03 - Instituto Histórico e Geográfico da Bahia;
04 - Grêmio Literário da mesma cidade.

Foi sócio efetivo do Partenon Literário e um dos mais ativos colaboradores de sua revista.

Na intimidade, Damasceno Vieira era alegre, expansivo. Sabia contar causos e anedotas com uma graça inexcedível. Nos seus belos tempos de moço fazia timbre em recitar ao piano versos de sua lavra ou de algum poeta laureado.

Numa roda em que se achasse ninguém mais tinha o direito de falar e rir, à vontade, como se estivesse em sua casa.

Entre ele e Garret havia alguns pontos de contato: gostava em extremo das mulheres e de andar vestido ao rigor da moda.

Quando enfiava uma fatiota nova ou colocava ao pescoço uma gravata vistosa, tornava-se faceiro, pisava mais forte, como se alguma criatura adorável estivesse encantada de vê-lo, dando a nota da suprema elegância.

Em qualquer lugar em que estivesse residindo, encostava-se logo à redação de um jornal; esse era o seu meio, a sua roda preferida. Todo seu gosto, o seu maior prazer, era estar ali trabalhando sem interesses pecuniários. Contentava-se apenas em representar o jornal nos concertos, nos bailes, nos teatros, nos banquetes, em tudo finalmente, onde a imprensa tem um lugar de destaque, se sentia bem, com a sua sobrecasaca preta justa ao corpo, como uma luva e a sua bela cabeleira branca cingindo-lhe o rosto iluminado de juvenil alacridade. Não voltava à modesta vivenda sem primeiro ir à tipografia escrever as impressões que trouxera da festa.

Em um jornal, era, como se diz: pau para toda a obra. Com a mesma facilidade traçava, sobre a perna, a notícia de um desastre e escrevia o artigo editorial, o conto, o folhetim, a crítica teatral. E tudo quanto produzia, por mais insignificante que fosse, no dia seguinte, cortava do jornal para colar ao livro em branco, destinado a todas as produções que lhe saíam dos bicos da pena.

Não conheci outro escritor que se desse a este trabalho paciente de abelha. Do que escreveu não perdeu um só verso, um único trecho de prosa. Tudo está arquivado em grossos volumes recheados de tiras impressas grudadas, em ordem cronológica, com o mais desvelado carinho. Tinha uma memória prodigiosa: sabia de cor os Lusíadas e A morte de D. Juan.

Damasceno Vieira, às vezes, aparecia em folhetins e em versos de sabor frisante,

sob o pseudônimo de Luciano de Aguiar. Quando acabava de escrevê-los, numa invejável caligrafia, rara entre os escritores, lia, em voz alta, no meio do escritório e com ar cômico, era o primeiro a bater palmas aos versos apimentados, ainda com a frescura virginal das rosas que abrem ao primeiro beijo da luz.

Uma das grandes virtudes de Damasceno Vieira era o entranhado amor que consagrava ao Rio Grande. Em qualquer parte em que se achasse, o seu pensamento estava inteiramente voltado para o torrão natal. Por mais longa que fosse a ausência, por mais distante que estivesse, tinha o Rio Grande gravado na retina com as sua risonhas coxílhas, com as suas paisagens pitorescas, onde ao longe, via sempre o vulto intrépido do gaúcho, à rédea solta, ora vencendo a leve ondulação do terreno, ora desaparecendo na declividade para ressurgir mais além . .

A morte foi, pois, piedosa para com ele. Fulminou-o quando no silên¬cio do gabinete manejava a pena gloriosa que o imortalizara na prosa e no verso. Se a morte não o surpreendesse no seu posto de honra, quanta angústia não lhe iria pela alma saudosa, lembrando-se que nunca mais veria a terra encantada dos seus sonhos.



VIEIRA RODRIGUES FILHO,  ZEFERINO
Monarquista

Nasceu a 07 de janeiro de 1835, na cidade de Porto Alegre;  filho de Zeferino Vieira Rodrigues e de Fausta Zeferino Centeno.

Desde bem moço revelava decidida vocação pelas letras, colaborando ativamente no periódico Guaíba, que aqui surgira e, onde fizeram as suas primeiras armas João Vespúcio de Abreu, Pedro Antonio de Miranda, João Capistrano de Miranda e Castro e outros.

Foi sempre aferrado à monarquia. Por D. Pedro II, tinha uma espécie de idolatria, havendo escrito diversas produções exaltando as virtudes do imperador.

Durante cerca de trinta anos, exerceu importantes empregos de fazenda, tendo em todos eles posto à prova a sua bela inteligência e a sua tradicional honradez.

Por ocasião de sua morte, deixou um valioso espólio literário, onde existem bons trabalhos de fina crítica aos nossos costumes e aos homens políticos do seu tempo.

Proclamada a República, conservou-se fiel ao trono e o defendia com o calor das convicções sinceras.

Com o peso dos anos e dos achaques, recolheu-se, à vida privada, vivendo dos escassos recursos que lhe dava acanhada aposentadoria, até que a morte o levou aos 15 de junho de 1910.



VIEIRA,  HEITOR
Militar

Heitor Vieira era natural de Porto Alegre (RS), onde nasceu aos 24 de agosto de 1895; filho de João Vieira Guimarães e de Francisca de Oliveira.

Casou-se com Aida da Silva com quem teve sete filhos: Talitha, Léa, Mauro, Mary, Clecy, Ada e João.

Desde bem moço, dedicou-se à carreira comercial que mais tarde deixou, ingressando na vida política administrativa, como Subintendente e Subprefeito de Belém Novo, 7º Distrito de Porto Alegre (RS).

Igualmente, foi Subdelegado de Polícia e Subdelegado escolar, tendo sempre conquistado o melhor acatamento no seio da sociedade em que tem vivido, com sua exma. família.

Politicamente, Heitor Vieira sempre foi um republicano de têmpera apurada, muito prestigiado entre os seus concidadãos, moto pelo qual granjeou a estima de seus chefes e a solidariedade de seus correligionários, atingindo o cargo de Presidente da Comissão Diretiva do “PRR” (Partido Republicano Rio-Grandense), no seu distrito.



WASMOSY,  ALCEU DE FREITAS
Comunicador

Natural de Uruguaiana (RS), nascido aos 14 de fevereiro de 1895; era jornalista, poeta, contista e usava as iniciais A. W.

Foi um representante típico do simbolismo literário sulino, tendo a crítica acentuado e o contraste entre suas atividades violentas de jornalista político, de revolucionário que viveu em campo de batalha e sua poesia lírica, melancólica, crepuscular e outonal.

Suas obras:
01 - Flâmulas (versos) - 1913
02 - Na Terra Virgem (versos) - 1914
03 - Duas Almas (poemas) - 1915
04 - Flâmulas, Na Terra Virgem e Coroa de Sonhos (póstumo) - 1924
05 - Edições da Livraria Brizola, Livramento
- Poesias, Flâmulas, Na Terra Virgem, Coroa de Sonhos - 1940
06 - Poesia e Prosa de Alceu Wasmosy (crônicas) - 1967
07 - Flâmulas - 20 Sonetos - 1973.

Faleceu aos 13 de setembro de 1923, com apenas 28 anos de idade, em Santana do Livramento (RS).

Em Uruguaiana (sua terra natal). recebe as honras de Alferes do 1º Corpo Provisório da Brigada Militar Estadual, do Partido Republicano, em nome do qual se engajou na luta armada, além de muitas homenagens da intelectualidade gaúcha, que lamentou o desaparecimento precoce de seu poeta-soldado.



WEINMANN,  AMADEU FERREIRA DA SILVA
Médico

Natural de Porto Alegre (RS), nascido aos 26 de setembro de 1907, iniciou os estudos primário e secundário no Seminário N. S. da Conceição, em São Leopoldo (RS).

Freqüentou os cursos do Irmão Weibert, e Emílio Mayer e o Curso de Filosofia do Reverendo Padre Werner, na Capital do RGS.

Formado pela Faculdade de Medicina, da Universidade de Porto Alegre, tendo colado grau aos 03 de outubro de 1932.

Especializou-se em Clínica Médica, Obstetrícia e Pediatria. Ex-interno da “Enfermagem Octavio de Souza” e da “Maternidade de Porto Alegre”; ex-interno do “Hospital da Brigada Militar”; ocupou o cargo de Diretor Técnico e Diretor da Maternidade e Clínica de Crianças do “Hospital de Caridade” de Ijuí (RS), e de Médico do Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Bancários.

Casado com Dalva de Almeida, tendo de seu matrimônio os seguinte filhos:
01 - Ana;
02 - Amadeu Fº;
03 - Maria da Graça;
04 - Maria Helena.



WEINMANN,  HELMUTH
Médico Catedrático

Natural de São Leopoldo (RS); formou-se em medicina pela Faculdade de Porto Alegre, em 1928, especializando-se em Histologia e Embriologia Geral.

Foi livre docente dessa cadeira na Faculdade de Medicina de Porto Alegre. Professor catedrático da Escola de Agronomia e Veterinária do Rio Grande do Sul.

Detentor do Prêmio Mariano da Rocha a que fez jus no ano de 1932, por ter apresentado o melhor trabalho sobre Amebiase feiro de colaboração com o Dr. Nino Marsiaj.

Médico da Maternidade Mário Totta e Diretor do Laboratório de Análise Clínicas, de sua propriedade, em Porto Alegre, onde exerceu as atividades profissionais.

Casado com Sylvia Totta, de cujo matrimônio teve dois filhos.



MEURERS,  JOSEPH WILT
Marceneiro prussiano, Sargento mercenário
Vulgo José de Moraes 
Gaúcho por adoção

Joseph Wilt Meurers nasceu em Dusseldorf (Província do Reino da Prússia), aos 24 de outubro de 1827; filho de Christian de Meurers e de Sophia Wilt.

Assentou praça aos 17 de abril de 1848, no “Corpo franos van der Tann” como voluntário. Aos 21 de julho entrou na linha de batalha com a 9ª e a 2ª Cia. Major von Hagen. Capitão Schepaneki. Em Rendsburg, ducado Schleswig-Holstein > como 2º Sargento.

Aos 23 de abril de 1850, assistiu a batalha de Colding, de Fredortgia; e aos 25 de julho de 1850, assistiu a batalha de Itsteht.

Recebeu a baixa em Kiet, por ordem do governo, aos 15 de fevereiro de 1851 e um bonito ATESTADO do Comandante Maj. Hagen e do Cap. Conde Von Baudifsim, sendo condecorado com a Cruz de Ferro.

Certa feita, pensou o vulgo José de Moraes - Vou conhecer os papagaios do Brazil. As coloridas aves falantes, levadas por marinheiros e comerciantes, que encantam os europeus, proporcionando espetáculos populares em muitas cidades da Europa; as araras e papagaios gritam palavrões ou insultos, imitam latidos e miados, provocando risadas entre as pessoas que param nas ruas, para ver aquela atração > os bichos que falam.

Imaginou quase tudo sobre o grande país sul-americano. Antes de sair de casa, em Dusseldorf, já sabia que algumas províncias no sul, tinham boas lavouras de trigo, muito gado e cavalo; sabia também, que naquelas províncias chegava a nevar alguns dias, mas nem de longe comparável ao inverno da Europa, que tantas vezes castigou populações e dizimou exércitos.

O vulgo José de Moraes pensou até, que um dia teria um daqueles papagaios e ensinaria o bicho a falar. Aos 24 anos estava pronto para ingressar na Legião Estrangeira, atravessar o mar e lutar por outro país, quem sabe morrer degolado ou pisoteado por uma carga de cavalaria de milicianos que dominam extensas planícies de pastos na América do Sul.

Esses tais milicianos são hábeis cavaleiros e rápidos nas armas, tem costumes e treinam em arriscados exercícios denominados terra-cavalo que impressionam pelo sincronismo dos movimentos.

A maioria desses soldados-fazendeiros maneja com habilidade circense, o sovéu > um comprido couro torcido de oito a dez braças, muito resistente, que arremessam de suas montarias, acertando as aspas do gado, patas de touros, pescoços de cavalos e de gente; José de Moraes estava ansioso para conhecer este apetrecho desconhecido na Europa.

Oficiais e soldados comparam-se em exibicionismo nesta singular forma de equitação, sempre montados em cavalos bem domados, adestrados e ligeiros, usando além do tal sovéu, outras armas peculiares da região, tais como boleadeiras - uma espécie de serpente voadora, feita com três pernas de couro torcido retovando três pedras, que arremessada é capaz de alcançar alvos a 80 metros de distância; mas, o cavalo era a principal arma, além de uma lança bem apontada e uma espada bem afiada.

Antes de decidir engajar-se na Legião Estrangeira, José de Moraes indagou bastante sobre o Brazil e a Argentina, pois aprendera que tão importante como conhecer um aliado era também conhecer o inimigo.

Não sabia falar o português e nem o espanhol, mas concluiu que certamente aprenderia, pois < lá, até as aves falam; eu aprendo logo - deduziu.

Pensava em ter uma mulher . . . filhos . . . fazenda . . . casa . . . móveis ele faria, pois era marceneiro . . . cavalos . . . gado . . . servidores . . . etc.

Certa manhã soube que o Brazil estava contratando voluntários, para aumentar seu exército e enfrentar a Argentina numa guerra que parecia inevitável. O governo brasileiro prometia dinheiro e terras aos soldados que servissem em sua defesa . . . e, o José de Moraes resolveu se alistar naquela empreitada.

Aos 20 de fevereiro seguiu para Altona e Hamburgo, onde foi engajado pelo ilustríssimo senhor Sebastião do Rego Barros, na Legião Estrangeira, a serviço de S. M. Dom Pedro II - Imperador do Brazil.

Aos 05 de abril de 1851, embarcou no brigg prussiano Danzing, em Hamburgo, com a 2ª Cia., comandada pelo Cap. Hormeier; aos 12 de abril, passou Cuxhaven; aos 14 de abril cruzou o Mar do Norte, passando pelo canal inglês entre Dover e Calais; aos 29 de abril, passou pela Ilha da Madeira; aos 02 de junho passou pelo Cabo Frio; aos 03 de junho, entrou na Baía da Guanabara, Rio de Janeiro, onde desembarcou na praia Vermelha aos 04 de junho, ficando aquartelados perto do arrabalde “Porto Fogo” (Botafogo).

Passado um curto período no Rio de Janeiro, embarcaram no navio Continentista, passando por Stª Catarina; aos 19 de junho, chegaram ao Rio Grande; aos 04 de agosto, embarcou para Pelotas, chegando lá no mesmo dia; aos 12 de agosto, embarcou no vapor Comércio, viajando pelo canal de S. Gonçalo e chegando em Jaguarão aos 16 de agosto (demorou, porque encalharam nos areais da Lagoa Mirim).

O Batalhão Estrangeiro comandado pelo Conde Von de Heide, Cel.; Maj. Von Lamers, Cap. Ehrankreutz da 1ª Cia; Cap. Hormeier da 2ª Cia.; Cap. Siervers da 3ª Cia. e o Cap. Conde Hersberg.

Aos 16 de setembro de 1851, passou na frente da vila de Jaguarão e entrou no acampamento do Gal. D. Fernandez, comandante da 3ª DIVISÃO que era formada pelo 1º Regimento da Guarda Nacional, 1º Corpo dos Orientales, 14º Batalhão de Infantaria, 3º Batallion de Fusileros, 4º Batallion de Infanteria, e dois corpos do Batallion de Caçadores.

Aos 25 de setembro de 1851, passaram por Cerro Largo (Uruguai); aos 08 de outubro tiveram uma Grande Revista; aos 27 de outubro de 1851, tiveram outra Grande Revista; aos 02 de novembro, passaram por Santa Luzia; aos 23 de novembro, acamparam perto da Vila Colônia do Sacramento; aos 14 de dezembro embarcaram com 8º Batallion, no vapor Affonso e seguiram, para reunir-se ao grosso do Exército e aos 18 de dezembro cruzaram o rio Paraná; aos 20 de dezembro desembarcaram em Diamantes; aos 08 de janeiro de 1852, mais 28.000 homens, 50 mil cavalos e 50 peças de artilharia, cruzaram também o rio Paraná; aos 29 de janeiro chegaram no rio das Conchas; aos 03 de fevereiro, ataque no arroio Morón (ou, Monte Caseros), onde haviam 20 mil homens argentinos que foram passados pelas armas e mais 400 homens das tropas argentinas de Rosas.

Aos 19 de fevereiro de 1852, entrada triunfal em Buenos Aires, pelo Exército Imperial do Brazil.

Aos 05 de março de 1852, embarcaram de Buenos Aires, para a Colônia do Sacramento onde o vulgo José de Moraes recebeu BAIXA, aos 28 de outubro de 1852, por ordem do Ministro da Guerra do Brazil, ao Comandante Ten-cel. Carlos Resim; ali começou a trabalhar no ofício de marceneiro, na casa do senhor Frederico Schilling e ali também foi Condecorado com a Medalha de Campanha > pela brilhante vitória alcançada na batalha do arroio Morón (ou, Monte Caseros).

Ainda no mês de fevereiro de 1852, foi para Santana do Livramento, trabalhar como marceneiro até aos 08 de abril de 1858; depois, foi para a costa do Rio Camaquã, na casa do senhor Gabriel A. A. Teixeira, também trabalhar como marceneiro.

Aos 19 de fevereiro de 1859, contratou casamento com Antônia de Lima Meirelles, nascida aos 03 de fevereiro de 1844, filha de Domingos Meirelles de Canto e Rita Meirelles de Souza.

Casou aos 15 de fevereiro de 1860, em Caçapava (RS); aos 09 de julho de 1860, faleceu o seu sogro; aos 06 de maio de 1869, faleceu a sua sogra.

Sua mulher lhe deu 14 filhos: Juvenal (04-9-1861), Quintino (23-9-1863), Sofia (26-11-1866), José (23-3-1869), Luiza Anália (21-6-1871), Adelina Antônia (08-02-1873), Christiano Domingues (15-5-1874), Maria Rita (03-01-1876), Antônia (15-12-1877), Domingos José (10-12-1878), Rufina Vicentina (19-7-1880), João (janeiro de 1882), Colombiano (21-11-1882) e Ermínia (24-12-1884).

Conseguiu um papagaio e ensinou o bicho a dizer: “Pica-pau, terrr que matarrr.”

Aos 05 de setembro de 1861, recebeu a herança legítima de sua mulher; aos 29 de fevereiro de 1864, comprou um quinhão de campo; aos 02 de janeiro de 1877, comprou outro quinhão de campo; aos 09 de setembro de 1881, comprou mais dois quinhões de campo; em outubro de 1882, comprou no Rincão do Cego, o campo da sua comadre Magdalena (sua futura traidora) e também uma parte de campo que pertencia ao seu cunhado João Costa Machado.

Aos 21 de setembro de 1882, sua casa de comércio foi assaltada por 8 a 11 ladrões; eram seus vizinhos que só roubaram mercadorias, não levando dinheiro.

Aos 23 de setembro de 1882, pernoitou em sua casa o Conselheiro Dr. Gaspar Silveira Martins, revolucionário “federalista” (maragato).

Aos 19 de outubro de 1885, o Sr. Tibúrcio Silveira Nascimento pediu em casamento a mão de sua filha Sofia e ele anuiu, ficando a cerimônia tratada para 15 de janeiro de 1887.

Como o vulgo José de Moraes era considerado federalista e maragato, adepto do Dr. Gaspar Silveira Martins, passou também a ser considerado inimigo dos “castilhista” (pica-paus), sendo desrespeitado por estes e por esse motivo no período da Revolução de 1893, vivia afastado de casa, morando em cavernas que haviam em seus campos.

Certa feita, foi denunciado pela sua comadre Magdalena, que nutria desafetos porque ele havia comprado o seu campo. Foi até Caçapava e denunciou o vulgo José de Moraes (seu vizinho), que naquela noite ele pousaria em casa, porque esperava algumas carretas com grande sortimento para sua casa de comércio.

Naquela mesma noite, saiu do reduto dos castilhistas a Patrulha de Sete João < João Bittencourt, João Batista, João Godinho, João Guazina, João Ventania, João Coutinho e João Galvão >

Noite fechada, a patrulha chegou e cercou a casa do “alemão” (prussiano). José de Moraes quis brigar, pegou um revólver, não queria se entregar, mas, à insistência das filhas e da mulher, foi convencido de que era mais prudente acompanhar a patrulha que tinha vindo de Caçapava, especialmente pra prendê-lo. Sua mulher dizia: “Eles respeitam estrangeiros, não vão fazer mal para alguém que já guerreou defendendo o Brazil, entrega a arma.”

Afinal, não era um criminoso, repetiam a mulher e as filhas, enquanto os sete homens a cavalo, com lanças, trabucos e espadas, ordenavam que saísse imediatamente ou começariam a atirar em todos.

Quando José colocou os pés fora da casa, identificou pelo menos dois conhecidos e disse para a “Tuninha” (sua mulher Antônia): “É o João Godinho e o João Guazina. Me pegaram!”

De fato, pegaram o “alemão” que mal saiu na frente de sua casa e foi laçado pelo pescoço. As filhas e a mulher tentaram defendê-lo com as mãos que ficaram feridas por pontaços de lanças e cortes de espada. Uma das filhas ainda conseguiu cobri-lo com um cobertor de lã.

“Pra onde ele vai, não vai sentir frio” - disse um deles.

“Até é bem quente” - gritou rindo, o outro.

Por coincidência, os sete integrantes da patrulha daquela sinistra escolta chamavam-se João; descobriu-se depois que - levaram o homem arrastado até o Alto da Meia Légua, distante três quilômetros de sua casa, onde pararam.

Um deles cortou umas varas grossas de “vassoura-vermelha” (faxina-vermelha) e ataram o vulgo José de Moraes no “chiqueirinho” (as temíveis 4 estacas).

Outro preparava a fogueira, também com vassoura-vermelha, madeira que dá uma brasa poderosa, de tão quente até estraga chapa de fogão.

A tortura começou com pontaços de lança e de espada, só para machucar; depois de estaqueado, um dos homens meteu um pau na boca do vulgo José de Moraes e enfiando uma faquinha, conseguiu cortar um pedaço da língua. Espetou aquilo num pequeno espetinho e chamuscou num pequeno fogo; depois tentava enfiar aquilo boca abaixo do infeliz, gritando: “Engole a língua, desgraçado.” - “Diz agora que - pica-pau, terrr que matarrr.”

Após . . . cortaram todos os 20 dedos do vulgo José de Moraes . . . castraram-no e colocaram os testículos na boca do “alemão” sem sorte; por fim, acenderam a fogueira e iluminaram durante horas a noite fria de geada com a parcial cremação daquele homem corpulento.

Próximo ao local daquele crime morava um paralítico, que testemunhou todo aquele macabro barbarismo e depois contou ao pessoal do “alemão” desditoso.

Os restos mortais do vulgo José de Moraes foram recolhidos pela família, junto com uma fivela retorcida, sendo sepultados à direita da entrada principal do Cemitério dos Barbosa, contra o muro, no município de Caçapava do Sul (RS).

No local da execução, no Alto da Meia Légua, hoje denominado “Coxílha do Fogo” (em alusão àquela fogueira sinistra), foi erguido outro túmulo de tijolos com o seu nome, constando também as datas de nascimento (1827) e de morte (1893).

Assim, o marceneiro prussiano Joseph Wilt Meurers (vulgo José de Moraes, o popular “alemão”), acabou assassinado na mais sangrenta guerra entre irmãos da América do Sul (Brazil), traído pela comadre, ficando com duas sepulturas.

No lugar do martírio, ao lado daquele túmulo, passaram a sepultar corpos de crianças inocentes mortas na redondeza.

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FONTE:
Livro A patrulha de sete João (Euclides Torres) - JÁ Editores - Maio / 2005

Euclides Torres e Ramiro Torres - são filhos de Manoel Luís Osório Torres - filho de Manuel Luiz Ozório e de Luiza Anália de Moraes - filha de Antônia de Lima Meirelles e de José de Moraes (Joseph Wilt Meurers).



XAVIER DA CUNHA,  FELIX
Advogado

Nascido no Rio Grande do Sul, em 1833, foi na tribuna e na imprensa política, o que o seu pai, o brigadeiro Francisco Xavier da Cunha havia sido nos campos de combate: valente, brioso e patriota.

Viveu toda uma existência sonhadora e agitada ao mesmo tempo. Estudante e acadêmico, fez, por assim dizer, os seus preparatórios e o seu bacharelato em ciências jurídicas e sociais, em sonetos e estrofes, pois quase todos os seus trabalhos literários datam dessa época.

Jornalista, político e chefe de partido, viveu crestando as lindas rosas de seus sonhos nas estufas comburentes das paixões partidárias.

Biografias há que não toleram datas. A data é o algarismo, o algarismo é o cálculo e o cálculo é o interesse. A de Félix da Cunha é uma dessas biografias, porque ele foi o menos calculista e o mais desinteressado dos espíritos.

Formado em ciências jurídicas e sociais, pela Faculdade de Direito de S. Paulo. Felix da Cunha voltou para o Rio Grande do Sul e fundou em Porto Alegre o “Guaíba” (periódico literário que teve a sua época na Província).

Mas Felix da Cunha era também orador eloqüente. Não havia, pois, fugir à atração do abismo: entrou ruidosamente na política, ao lado do Conde de Porto Alegre, Osório, Pinheiro Machado, Felipe Nery, Teixeira Lopes, Luiz Flores e outros. Mais ou menos por essa ocasião comprou o jornal o “Mercantil” e aí, com Carlos Jansen e Pedro Antonio de Miranda, criou urna época áurea no publicismo rio-grandense. Deputado à Assembleia Provincial em repetidas legislaturas, o moço rio-grandense colheu os lauréis da vitória em mais de uma justa da tribuna parlamentar.

Durante mais de dez anos, Felix da Cunha consagrou-se à grandeza do partido liberal rio-grandense até o dia em que rompeu com Teixeira Lopes e travou com este memorável campanha na tribuna e na imprensa. A vitória coube àquele, mas porque era mais prático, mais cauto, tinha mais manha e não fazia versos.

Dessa luta saiu o partido liberal dividido em dois: os liberais históricos e os liberais progressistas. Ao primeiro bloco pertenceram Felix da Cunha, Osório, Silveira Martins, Luiz Flores, Timóteo da Rosa e outros. Ao segundo, Teixeira Lopes, Conde de Porto Alegre, Dr. Caldre e Fião, Felipe Nery e outros.

A luta ia acesa, em ambos os arraiais políticos o entusiasmo campeava, de braço dado com a intriga e com a insídia, de que o partido conservador ia puxando, com mão de gato, a brasa para a sua sardinha.

Infelizmente, a esse tempo, já a enfermidade, que havia de matar Felix da Cunha, lhe desfibrava o organismo delicado e exausto. O seu ressentimento com Silveira Martins, e a luta titânica que se lhe seguiu, o encheram de desgostos e o desenganaram dos homens porque, desgraçadamente, os poetas só muito tarde é que vêm a conhecê-los.

Patriota, mas patriota de coração, Felix da Cunha doía-se de ver a cizânia e a intriga fazendo quartel no seio dos partidos políticos de sua terra. Em toda a parte é assim, mas o poeta quisera ver o seu torrão natal sem essa sífilis corruptora.

Era um puro; a injustiça, viesse de onde viesse, enchia-o de tempestuosas revoltas. Pelas colunas do “Mercantil” verberou energicamente a guerra movida contra o general Osório e latejou com veemência a insaciável ambição que se superpunha a todo o gesto patriótico.

Em fins de 1864, o grande rio-grandense estertorava no seu leito de agonia. A tuberculose sugava-lhe as derradeiras energias vitais. Eram as compridas insônias . . . Eram os copiosos suores . . . Eram as extenuantes, violentas hemoptises . . . E . . .

No dia 21 de fevereiro de 1865, a cidade festejava a tomada de Paissandu. Girândolas, salvas, repiques de sinos, bandas marciais pelas ruas espalhando na glória dos espaços as notas gloriosas do hino nacional.

O enfermo ouve e interroga, com os olhos ansiosos e circunstantes. Um curva-se sobre ele e sussurra-lhe no ouvido:

Festejamos a tomada de Paissandu.

O olhar do moribundo iluminou-se. Pelos lábios arroxeados roçou-lhe um sorriso feliz e, semi erguendo-se, exclamou com o fio de voz, que ainda lhe restava:

Que glória! Que glória . . . para a nossa Pátria.

Foram as suas últimas palavras; morria aos trinta e dois anos de idade, tendo sido jornalista, orador, poeta e dramaturgo dos maiores que o Rio Grande do Sul já teve.

Suas obras:
01 - Poesias;
02 - Vitor;
03 - Sete de Setembro;
04 - Revista Literária.



XAVIER DA CUNHA,  FRANCISCO
Advogado

Francisco Xavier da Cunha, filho do general português do mesmo nome e da rio-grandense D. Maria Quitéria de Castro e Cunha, nasceu na cidade de Porto Alegre, em 10 de janeiro de 1835.

Em 1845, por ocasião da pacificação da província, D. Pedro II veio ao Rio Grande do Sul, foi seu padrinho de crisma e em setembro do mesmo ano mandou que lhe abrissem praça no 2º Regimento, que era do le¬gendário Gen. Osório. Tinha então dez anos, e começou os seus estudos preparatórios.

Em 1853 recebeu ordem de recolher-se ao seu regimento, sendo consecutivamente, promovido a 2º e 1º Sargento, havendo obtido este último acesso, depois de ter sido aprovado com louvor no exame de armas e da escola de pelotão.

No regimento foi mandado servir na Secretaria, sob a direção do então alferes Diogo Alves Ferraz (que morreu no posto de general).

Por esse tempo teve dois duelos. Promovido a alferes, por decreto de 2 de dezembro de 1855, Francisco Cunha não voltou ao serviço ativo de que estava retirado, por agravo de saúde, desde sua aprovação plena no exame de suficiência para a sua matrícula na Escola Militar de Porto Alegre.

Havendo por esse tempo regressado ao Rio Grande do Sul o seu irmão Felix Xavier da Cunha, recém formado em ciências jurídicas e sociais pela Academia de Direito de S. Paulo, Francisco Xavier da Cunha acamaradou-se com ele nos prédios jornalísticos e atirou-se à “tormentosa” arena política e da imprensa partidária.

Adquiriu então, por dez contos de réis, a folha diária Mercantil e fez das suas colunas, muralha de suas crenças políticas sustentando nutrido fogo contra os arraiais dos adversários.

Até a morte de seu glorioso irmão, ocorrida em fevereiro de 1865, Francisco Cunha conservou-se ao seu lado, enfrentando toda a sorte de percalços e sacrificando ambos, o seu labor e modestos haveres.

Em 29 de março desse mesmo ano, foi pelo presidente liberal Marcelino Gonzaga nomeado inspetor geral das colônias da Província, cargo esse em que pouco se demorou, porque um ano depois já o vemos em viagem para Montevideo e daí a caminho do campo de guerra contra o Paraguai. Chegou ao acampamento em Tuiutí, nos últimos dias de junho de 1866, um mês depois da memorável batalha de 24 de maio.

Na guerra permaneceu sempre ao lado do Gen. Osório, e são interessantes as páginas que deixou escritas sobre o magno evento.

Terminada a campanha com o Paraguai, Francisco Cunha transferiu-se para Montevideo; durante sua estada na capital uruguaia, o ilustre rio-grandense, que visitava constantemente Buenos Aires, travou conheci¬mento e intimidade com os mais notórios intelectuais uruguaios e argentinos daquele tempo.

Em 1870 regressou à terra natal e com a série de artigos “O nosso atraso” , iniciou nas colunas da “Reforma” órgão do partido liberal, a sua propaganda pela república. Pouco depois, passou-se para o “Jornal do Comércio” continuando nesta folha, que não tinha cor partidária, a sua obra de evangelização republicana.

Mais tarde, fundou a folha hebdomadária “A Democracia” com os mesmos desígnios, mantendo-a de 05 de fevereiro a 17 de junho de 1872.

Estes artigos de vulgarização dos princípios democráticos e da crítica das instituições monárquicas no Brasil, tiveram vasta repercussão no país e foram todos transcritos pela República do Rio de Janeiro.

Em 29 de novembro de 1872, assumia Francisco Cunha a chefia da redação dessa folha carioca, então redigida por Quintino Bocaiúva e conservou-se nesse posto até 28 de fevereiro de 1874, quando cessou a sua publicação.

Proclamada a república o nosso ilustre patrício, foi por Quintino Bocaiúva (Ministro das Relações Exteriores do Governo Provisório), escolhido para encarregado da Legação Brasileira junto ao rei da Itália. Aceita a missão para lá embarcou o novo ministro, chegando em maio de 1890. A esse tempo, o governo italiano tinha vedado a corrente emigratória para o Brasil. Um dos pri¬meiros atos do nosso ministro foi, depois do reconhecimento da república, remover aquele empecilho e de fato, pouco depois, o governo italiano revogava o decreto proibitivo de 13 de março de 1885.

Em 2 de setembro de 1891, o rei Umberto condecorava o nosso patrício com o grande cordão da Ordem da Coroa da Itália.

Da Legação de Roma, Francisco Cunha foi removido para a de Montevideo, não tendo entretanto assumido o exercício do cargo, por ter durante o seu regresso da Europa, o generalíssimo Deodoro da Fonseca renunciado à presidência da República, nas mãos do marechal Floriano Peixoto.

Todavia, pouco depois, o nosso patrício foi nomeado para a Legação de Madrid. Entre os muitos serviços que a Francisco Cunha deve a nossa pátria no desempenho dessa missão, vem de molde assinalar a brilhante colaboração que prestou ao Barão do Rio Branco, na secular questão das Missões.

De sua missão em Madrid, Francisco Xavier da Cunha “depois de representar o Brasil junto à Corte do rei Leopoldo II (da Bélgica), foi removido para Montevideo, onde os seus serviços foram julgados necessários, não só pela sua capacidade diplomática, como ainda pelo conhecimento que possuía de todas as questões atinentes às nossas relações com a república vizinha, que desde a sua mocidade, estudara com o maior carinho e interesse, adquiridos na visita que fizera ao Estado Oriental, no tempo da campanha do Paraguai”.

Neste posto, em que serviu durante sete longos anos, foi aposentado o nosso eminente patrício.

Eis como, sobre este período luminoso de sua vida diplomática, se expressa um seu biógrafo:

“A sua ação benéfica fez-se sentir durante três presidências consecutivas no vizinho país. Chegou a Montevideo, quando alí dominava, com punho de ferro, o presidente Cuestas e, tanto no seu governo como nos subseqüentes dos doutores Battle y Ordíez e Cláudio Williman, Francisco Xavier da Cunha conduziu sempre com mão de mestre, os assuntos que se ventilaram, logrando pelo seu tato e competência dirimir sempre os assuntos mais delicados e melindrosos, conquistando a consideração, a estima e a simpatia daqueles chefes de Estado. Durante a primeira presidência do Dr. Battle y Ordíez, por ocasião da cruenta revolução do partido nacionalista ou blanco, capitaneado pelo famoso caudilho Aparício Saraiva, em que por causa dos beligerantes na nossa fronteira, os atritos eram contínuos, Francisco Cunha, pondo em jogo o seu prestígio, a sua prudência e sagacidade de diplomata e político, conseguiu com honra para os dois países solver todas as dificuldades, evitando com suma galhardia possíveis e desagradáveis estremecimentos”.

Foram sempre, durante a sua afanosa vida diplomática, do mais fino e alto quilate os serviços prestados ao país, por este nosso eminente patrício. Entre os diplomatas que mais se recomendaram, assinala-se a colaboração de Francisco Xavier da Cunha e, revolvendo os riquíssimos arquivos de Madrid, encontra-se a decisão em nosso favor da secular questão das missões.

Encerrando esta ligeira notícia biográfica, com as palavras que sobre o caso lhe endereçara o imortal Rio Branco em carta de New York, datada de 5 de dezembro de 1893:

“Pelo telégrafo, já agradeci, em princípios de outubro, a diligência com que V. Exa. mandou procurar a instrução particular de 27 de julho de 1758. Esse documento, que fica devendo a V. Exa., é da maior importância e destrói completamente os principais argumentos dos Argentinos. Assim, ainda que de tão longe, V. Exa. poderá ter a satisfação de haver contribuído para a feliz solução deste pleito secular e, pela minha parte, tenho verdadeiro contentamento em reconhecer que encontramos sempre em V. Exa. a mais pronta, eficaz e inteligente colaboração.”

Tal rio-grandense ilustre que a morte arrebatou à Pátria, à Família e aos amigos no dia 3 de dezembro de 1913, na capital da República.



XAVIER,  DEMÉTRIO JOSÉ
Barão de Upacaraí

O “Barão de Upacaraí” era natural de D. Pedrito (RS) e nesta cidade faleceu aos 05 de julho de 1889.

Foi casado com Margarida Cândida, falecida também em D. Pedrito, aos 25 de março de 1906.

Demétrio José Xavier era um adiantado fazendeiro, possuidor da “Sesmaria do Fialho” e campos em Sant’Ana do Livramento, povoados de bom gado e era proprietário de diversas casas também em D. Pedrito.

Defendeu a Legalidade contra os farroupilhas, tomando parte em toda a Campanha de 1835; aos 28 de setembro de 1884, fundou o “Clube Libertador”.

Fez a Campanha do Paraguai, salientando-se sempre pelo alto valor dos seus conhecimentos táticos e por sua reconhecida coragem em combate.; era Coronel da Guarda Nacional e por essa razão, foi distinguido com o posto de Brigadeiro Honorário do Imperial Exército Brasileiro.

Por Imperial Decreto de 08 de abril de 1879, foi agraciado com o título de Barão de Upacaraí.

Era Comendador da Imperial Ordem da Rosa, Oficial da Imperial Ordem de Cristo e Cavaleiro da Imperial Ordem do Cruzeiro, condecorado com a Medalha da Campanha do Paraguai.

Teve os seguintes filhos:
01 - Maria;
02 - Galdina;
03 - Etelvina;
04 - Margarida;
05 - Manoel (Oficial do Exército Imperial Brasileiro);
06 - Demétrio;
07 - Zeferino;
08 - José;
09 - Carolina.




ZAMBIASI,  SÉRGIO
Político

Um em cada dois gaúchos escolheu Sérgio Zambiasi como seu representante no Senado da República. Com a trajetória política de quatro mandatos consecutivos como deputado estadual mais votado de seu Estado, consolidada com uma gestão de dois anos à frente da presidência da Assembléia Legislativa, Zambiasi faz das causas sociais a diretriz de todas as suas ações. Daí serem indissolúveis as figuras do Zambiasi parlamentar, comunicador, cidadão, chefe de família, como ele mesmo explica.

Descendente de italianos, Zambiasi nasceu em 9 de setembro de 1949, em uma família numerosa, que vivia do trabalho duro na terra arrendada. Quando criança, era inquieto e comunicativo, gostava de música, dividindo o tempo entre a escola e o trabalho no campo. Desde a infância, teve naturalmente o olhar voltado para as dificuldades vividas pelas comunidades mais carentes, principalmente aquelas em que o braço do Estado não chega com a eficácia e a pressa exigidas pela fome e pela doença.

Zambiasi formou sua base moral em um típico lar de trabalhadores. Na sua casa não tinha luxo nem presente de Natal. Mas havia carinho, respeito e todos os ingredientes necessários para a edificação de valores sólidos.

.: Dupla jornada foi o caminho ao microfone

Nas férias escolares, dobrava o horário de trabalho. Era a forma de realizar pequenos sonhos como comprar um par de sapatos novos. Foi em uma dessas férias que, já adolescente, dividiu com o pai e os irmãos a empreitada de plantar grama à beira da estrada da produção. Em um desses dias, a caixa seca do velho Ford que usavam quebrou. Enquanto esperavam pelo conserto, num acampamento improvisado, reconheceu no rádio do caminhão a voz de um amigo que anunciava teste para locutor em uma emissora de Soledade. Avisou ao pai que iria tentar a sorte. Tomou o ônibus na madrugada seguinte, fez o teste e, para sua própria surpresa, foi aprovado. O horário era um desafio: tinha de abrir a rádio, ainda de madrugada. Ele aceitou a tarefa e, desde então, é de Zambiasi o primeiro bom dia que muitos gaúchos escutam. Começava aí uma trajetória de fé na solidariedade e na força do trabalho.

.: A fraternidade como essência

Por sua origem humilde, Zambiasi compreendeu desde o início que os problemas dos outros eram também responsabilidade sua. Já trabalhando como comunicador, ele entendeu que o rádio poderia ir além da função de oferecer música e notícias, poderia ser uma poderosa ferramenta promotora da solidariedade.

Filho de um militante trabalhista, Zambiasi conheceu com o pai os fundamentos da doutrina de Alberto Pasqualini e Getúlio Vargas. Sua ligação com as questões sociais fez com que ainda cedo aderisse à militância na política estudantil. Mais tarde, como parlamentar, Zambiasi deu seguimento à busca pelos ideais que sempre defendeu: o amparo aos menos privilegiados, às comunidades desabrigadas, aos seres humanos que ficam sempre aquém do exercício da cidadania. "É impossível separar o pai de família, o político e o radialista", diz Zambiasi.


TRAJETÓRIA

1986 - Eleito Deputado Estadual, obtendo a maior votação em toda a história do parlamento gaúcho - 365.381 votos;

1990 - Reeleito com 320.323 votos;

1994 - Reconduzido ao cargo com 289.025 votos;

1998 - Reeleito com 217.643 votos;

2002 - Eleito senador com 2.902.120 votos.



F I M



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